Um cardeal português num colégio cada vez mais sulista
António Marto é hoje elevado a cardeal. Amanhã celebrará missa com Francisco já investido de anel e barrete
No arranque do Consistório Cardinalício que é cada vez mais sulista e menos europeu, que se inicia hoje na assombrosa Capela Sistina, no Vaticano, o Papa Francisco fará elevar a cardeal o bispo de Leiria-Fátima, rompendo também com uma lógica tradicional no episcopado português de fazer só cardeais o patriarca de Lisboa e algum bispo que fosse para Roma.
É já hoje que António Marto receberá o barrete e o anel cardinalícios, símbolos que passarão a traduzir aquilo que o bispo de Leiria ainda diz ser "uma completa surpresa", como confessou em entrevista à Agência Ecclesia. "Surpresa do Papa Francisco, umas certas rasteiras que Deus nos passa que não podemos negar, porque não se pode dizer não ao Papa", disse, sem saber ainda bem o que o aguarda. "Sou chamado a ser colaborador mais próximo do Papa, no que ele entender e confiar. De momento ainda não sei."
Na sexta-feira, dia de São Pedro e São Paulo, feriado no Vaticano, Francisco chamará todos os cardeais e os novos para celebrarem consigo esta nova etapa daqueles que num futuro incerto serão convocados para escolher o sucessor do papa que veio do "fim do mundo". E é deste fim do mundo que cada vez mais se faz o colégio eleitoral, num movimento que se iniciou com João Paulo II, também ele de uma geografia inesperada, e se foi aprofundando com Bento XVI - há menos italianos (outrora todo poderosos), há menos europeus, por oposição a mais africanos, mais asiáticos, de paróquias pobres, de territórios que nunca tinham tido um cardeal.
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As leituras da escolha de Marto, neste contexto, poderão ser mais profundas que aquelas que têm sido avançadas, como o facto de ser o bispo da diocese que acolhe o santuário de Fátima.
Há um estilo e uma linguagem que encontram uma linha direta entre o Papa e o novo cardeal português, mesmo que este procure sempre desvalorizar as diferenças - como na questão recente dos divorciados recasados - e sublinhar (numa palavra muito católica) a comunhão. "Na prática estamos todos de acordo. Às vezes a linguagem é diferente mas creio que aceitamos todas as indicações da Exortação apostólica sobre a alegria do amor em ordem a uma maior integração dos fiéis divorciados em nova união", afirmou à Ecclesia.