04 abril 2018 às 00h50

Terceira dose da vacina do sarampo ainda só está em estudo

80% das pessoas com sarampo estavam totalmente vacinadas. Todos os infetados neste surto têm forma ligeira da doença e não a transmitem

Joana Capucho

"Não há um único estudo científico ou recomendação internacional que aponte para a necessidade de uma terceira dose [da vacina do sarampo]. No futuro, depois de muitos estudos e muita investigação, pode vir a ser necessária, mas agora não é", explicou ao DN Graça Freitas, diretora-geral da Saúde, que ontem foi questionada sobre este tema na Comissão da Saúde.

Depois de ter sido ouvida na comissão, a pedido do PCP e do PS, juntamente com outros sete especialistas, Graça Freitas esclareceu ao DN que neste momento "as duas doses estão corretas, tanto aqui como em toda a Europa, Canadá, Estados Unidos, Austrália". Uma situação que pode mudar, admitiu, já que "os vírus, as doenças e as vacinas são coisas que vão evoluindo". Mas não existe, frisou, qualquer recomendação para uma terceira dose da vacina.

De acordo com o último balanço da Direção-Geral da Saúde, ao longo do atual surto foram confirmados 86 casos, 80 dos quais já se encontram curados e a maioria com ligação ao Hospital de Santo António, no Porto. Entre os infetados, avançou Graça Freitas, 80% estavam vacinados com duas doses. "Estavam, portanto, completamente e muito bem vacinados", afirmou na Comissão de Saúde.

Todos os infetados, referiu a diretora-geral da Saúde, desenvolveram uma "forma ligeira e modificada da doença", mas não a transmitem. "Aquilo a que estamos a assistir é a uma forma de sarampo modificada. O estado imunitário das pessoas é que modificou e não o vírus", sublinhou.

De acordo com a especialista em saúde pública, "o surto atual de sarampo é diferente daquele que atingiu Portugal no ano passado", não se conhecendo, para já, qual o caso zero. "Temos três possíveis linhagens de caso zero", adiantou, acrescentando que as investigações ainda estão a decorrer. Sobre as diferenças entre o atual surto e os dois que atingiram o país em 2017, explicou que o atual "só atinge adultos jovens".

A sessão, na qual foram ouvidos mais sete especialistas, ficou também marcada pelas declarações da bastonária dos enfermeiros, Ana Rita Cavaco, que denunciou o desperdício de centenas de vacinas devido a quebras de energia que desligam os frigoríficos e declarou, ainda, que existem ruturas no abastecimento destes fármacos em várias unidades do país, dando vários exemplos de vacinas que estiveram em falta em algumas unidades. Ao DN, Graça Freitas escusou-se a comentar as declarações da bastonária, mas garantiu que "não há nenhuma rutura" no país. "Se pontualmente falta alguma vacina é porque não é encomendada" pela unidade de saúde.

Na sua intervenção, Ana Rita Cavaco alertou ainda para o facto de os enfermeiros serem em "número insuficiente" para assegurar a vacinação diária em todos os centros de saúde do país e para convocar crianças e adultos com vacinas em falta e em atraso. Além disso, diz que são deitadas ao lixo centenas de vacinas porque os frigoríficos das unidades de saúde não dispõem de UPS (fonte de alimentação ininterrupta). Com Lusa