SEF autorizou argelino a sair para fumar um cigarro e ele escapou do aeroporto
Um dos argelinos que fugiram do Aeroporto Humberto Delgado (Lisboa) em setembro escapou depois de ter sido autorizado por um funcionário do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) a sair da zona de trânsito para ir fumar. Passou pelo controlo da fronteira e caminhou, sem ser detetado, pelo percurso normal de passageiros, passando pela zona de bagagens, pela Autoridade Tributária (AT) até sair pela porta principal do aeroporto. A direção do SEF confirma a instauração de um "inquérito, que se encontra em curso".
Este relato consta de uma informação oficial do comandante da Direção de Segurança Aeroportuária da PSP , Dário Prates, a que o DN teve acesso. Em causa está a fuga de um cidadão argelino, proveniente de um voo desse país, que a 27 de setembro fazia escala para Cabo Verde e entrou ilegalmente em Portugal, não tendo sido encontrado até ao momento. "Cumpre-me informar que desapareceu da área internacional (...) o cidadão argelino Mohamed A.I. que havia sido autorizado pelo SEF a deslocar-se ao piso 6 para fumar. Diligências efetuadas, foi possível apurar que este cidadão entrou em território nacional passando pela fronteira (Box do SEF), sem que fosse detetado, vindo a efetuar o percurso normal, passando pelo controlo da AT e posteriormente para a via pública", lê-se no documento. As autoridades judiciárias foram informadas, escreve o comandante, "tratando-se de uma ocorrência que configura a prática de um crime".
Este foi um dos quatro magrebinos que conseguiram quebrar a segurança do aeroporto e entrar ilegalmente no nosso país, revelando "fragilidades" no sistema de controlo destes passageiros, reconhecidas pela ministra da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa, numa audição nesta quarta-feira na Assembleia da República a pedido do PSD. Antes de Mohamed, tinha conseguido fugir outro argelino, no dia 22 de setembro, em julho escapou um marroquino e outro em junho. Em julho, recorde-se, quatro argelinos também tentaram escapar pela pista, mas foram apanhados pela polícia.
Um grupo de trabalho, que junta PSP, SEF, PJ e SIS, criado por Constança Urbano de Sousa já propôs várias medidas para reforçar a segurança e prevenir fugas deste género de passageiros, provenientes de países que Portugal considera de "risco". Conforme o DN noticiou, aumentar o número de câmaras de videovigilância no perímetro exterior do aeroporto e melhorar o recrutamento e a seleção das pessoas que vão trabalhar para a infraestrutura aeroportuária mais importante do país são algumas das propostas.
Em relação à prevenção das fugas como as que aconteceram, a situação foi resolvida, sob sugestão do SEF: os passageiros avaliados como sendo de "risco" (que têm processos registados de recusa de vistos noutros países, ou que viajam sozinhos com destinos como Brasil, Cabo Verde, Marrocos - os mesmos dos que conseguiram escapar - são encaminhados para uma área na zona internacional, isolada com biombos e com cadeiras, para aguardarem até seguirem para o seu voo. Inspetores e funcionários do SEF garantem a vigilância. De qualquer forma, no caso de Mohamed, mesmos se estas medidas estivessem sido já acionadas, ou mesmo se houvesse mais câmaras de videovigilância, de nada adiantaria.
Segundo soube o DN junto de deputados que estiveram na audição parlamentar, que foi à porta fechada, a ministra "pouco mais adiantou" em relação ao que tinha sido avançado pelo DN. A necessidade de "reforçar a segurança pública" com mais polícias naquela infraestrutura de risco foi defendida por vários deputados.
A audição foi realizada a pedido do PSD, por causa "das preocupantes repetidas quebras de segurança". Questionado pelo DN sobre se depois das explicações e informações da ministra se sentiam "mais esclarecidos e tranquilos" com a segurança do aeroporto", o deputado do PSD Carlos Abreu Amorim respondeu: " Nem muito esclarecidos nem demasiado tranquilos."