Relatório: Portugal com risco acrescido de terrorismo jihadista

2016 registou o número de crimes mais reduzido dos últimos 15 anos.
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Os serviços de informações têm "indícios já detetados no nosso país", que dão conta do "agravamento de alguns fatores de risco" da ameaça terrorista em Portugal. A análise está publicada no Relatório Anual de Segurança Interna (RASI), esta quinta-feira aprovado pelo Conselho de Segurança Interna, que reúne todas as polícias, militares e secretas, o qual revela o menor número de crimes, principalmente os violentos, desde que há registo comparativo, nos últimos 15 anos. Menos 7,1% na criminalidade geral, menos 11,6% na mais grave.

Com praticamente todas as tipologias de crimes a reduzirem, é caso para dizer que a maior ameaça vem mesmo de fora, o terrorismo islâmico, um preocupação comum no resto da Europa. Os analistas das secretas ressalvam que, esses "indícios" de risco detetados em território nacional não estão "diretamente relacionados com o planeamento e execução de atentados em Portugal, mas sim com o apoio às estruturas terroristas a operar no exterior, em particular na Europa e na região sírío-iraquiana". Recorde-se o recente caso da detenção pela PJ do marroquino Abdessalam Tazi por suspeita de recrutar no nosso país para o Estado Islâmico.

Os espiões consideram que "a emergência de situações similares a esta, poderão contribuir para uma alteração do padrão da ameaça terrorista sobre o nosso país". E apontam como "fator de preocupação acrescida" a "permanência de um grupo de indivíduos com nacionalidade portuguesa na região de conflito sírio-iraquiana" - estão a ser investigados pelas autoridades sete jihadistas portugueses que se juntaram ao daesh - "sobretudo pelos riscos associados ao seu potencial regresso a Portugal ou a outro país europeu".
Menos "proatividade"

Na evolução da criminalidade, 2016 foi um ano recorde, batendo 2014, que tinha, até agora, registado o menor número de crimes.

Olhando para os gráficos com as principais tipologias de crimes, praticamente todas se reduziram. Na criminalidade geral com mais ocorrência, só o "furto de oportunidade" (12,1%) e a "violência doméstica contra cônjuge" (1,4%) aumentaram. No crime violento e grave, só três categorias recrudesceram: a "extorsão" (53,7%), a "ofensa à integridade física grave" (11,1%) e o "roubo em transportes públicos" (0,5%). Sem fazer parte das tipologias com maior volume de registos, o crime informático, também registou um aumento de 21,5% de casos, com 801 inquéritos abertos.

As descidas que mais contribuíram para a tendência global de diminuição das ocorrências foram alguns dos crimes que mais influenciam o sentimento de insegurança, como é o caso dos "roubos por esticão" (- 24,4%) e o "roubo na via pública, exceto esticão" (-7.7%). Os furtos dentro de automóveis reduziram 15, 5%.
O conjunto de crimes que depende da "proatividade policial" diminuiu 6%. Ou seja, aqueles crimes que aumentam sempre que a fiscalização ou a investigação policial incide sobre eles, também diminuíram. Com exceção dos crimes de imigração ilegal e relacionados, e os de tráfico de droga, que registaram aumentos significativos, segundo o RASI esta categoria de criminalidade teve uma redução de 6%, correspondente a 45.453 participações, representando menos 2914 registos que em 2015. Diminuíram as participações de todos os outros crimes que resultam desta "proatividade": cultivo para consumo de droga, crimes relativos à caça e pesca, exploração ilícita de jogo, resistência e coação sobre funcionário, detenção ou tráfico de armas proibidas, desobediência, condução sem carta e condução com álcool igual ou superior a 1,2.

Em 2015 a proatividade policial tinha feito "subir" as participações em 8,4%.

Na mesma linha de descida da criminalidade geral está a grupal, com menos 14,9% de registos, e a juvenil, com uma diminuição ainda mais acentuada de 22,7%, mantendo a tendência que se vem a registar desde o início da década.

Tudo isto num cenário em que, de acordo ainda com o RASI, houve menos escutas (-4,4%), menos detenções de suspeitos (-6,5%), menos condenados (-2,2%) e uma redução de reclusos nas prisões (-3,1%). Mas, em contrapartida, houve mais buscas (17,8%), mais arguidos (27,5%), mais cooperação internacional (+20% Interpol e Europol) e mais polícias (+0,5%).

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