Relação do PSD com Marcelo ao pior nível de sempre

Presidente da República saiu em defesa do ministro das Finanças, Mário Centeno, e o PSD não gostou. Críticas veladas começam a dar lugar a reparos públicos a Marcelo

As declarações feitas por Marcelo Rebelo de Sousa na passada semana, primeiro sobre os juros pagos no leilão de dívida, e depois sobre o caso Centeno, caíram mal no PSD. "Há um desapontamento grande e esta semana contribuiu bastante para isso", diz ao DN um dirigente social-democrata, admitindo mesmo que a relação do partido com o atual Presidente da República, um ex-presidente do PSD, vive o seu pior momento desde que Marcelo está em Belém.

"Neste momento realmente as pessoas acham que é demais. Há uma grande desilusão, uma grande insatisfação", adianta a mesma fonte, dando eco às críticas que se ouvem no partido - e que se começam a fazer ouvir para fora.

José Eduardo Martins já veio dizer que Marcelo se "descredibilizou" com a defesa que fez do ministro das Finanças no caso da correspondência trocada com António Domingues, na qual o ex-presidente da CGD faz referência a um acordo que o isentaria - e à restante administração do banco público - de apresentar a declaração de património e rendimentos. "Ou há um documento escrito pelo senhor ministro das Finanças em que ele defende uma posição diferente da posição do primeiro-ministro ou não há. Se não há é porque ele tinha a mesma posição do primeiro-ministro, para mim é evidente", disse o Presidente da República. Declarações em tudo contrárias à posição do PSD (e do CDS), que têm acusado o ministro das Finanças de mentir aos deputados. "Já não pode haver ninguém no PSD que esteja contente" com Marcelo, aponta José Eduardo Martins.

Quem também criticou esta semana as intervenções de Marcelo Rebelo de Sousa foi Paulo Rangel. Ao DN o eurodeputado do PSD assume a divergência com a posição assumida pelo Presidente em relação ao caso Centeno: "Discordo da atitude que tomou, só faltava agora que seja preciso uma confirmação no notário de que houve um acordo. Isto não é uma questão de provas, não é um processo jurídico, é um processo de responsabilidade política e ética". Rangel sublinha, no entanto, que as palavras de Marcelo são "um pau de dois bicos" para Centeno - "Se aparecer um documento escrito o Presidente deu uma condenação clara" ao ministro das Finanças.

Ontem, em entrevista ao semanário SOL Marco António Costa também se afirmou "algo perplexo" com as declarações que Marcelo tem vindo a fazer. Mesmo dizendo falar a título pessoal, o vice-presidente social-democrata sublinha que Marcelo tem feito declarações que "não parecem estar adequadas às circunstâncias e à realidade".

Também Hugo Soares, vice-presidente da bancada do PSD e coordenador do partido na comissão de inquérito à CGD sublinha que a opinião do Presidente "é a oposta" à sua - "Para mim é evidente que que o ministro Mário Centeno mentiu despudoradamente. Todos os factos dizem isso".

Sociais-democratas agastados

"As pessoas estão agastadas" com Marcelo, diz ao DN o mesmo dirigente social-democrata. Para concluir - "As pessoas não censuram que ele tenha uma posição institucional que não seja favorável ao PSD, mas censuram que vá muito para lá disso, parece o porta-voz do governo". Sobre se este descontentamento pode transformar-se num afastamento irreversível, a mesma fonte afasta esse cenário - muita água ainda correrá debaixo da ponte e Marcelo mudará o seu alinhamento "em conformidade".

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