Produção de drogas aumenta na Europa
Relatório europeu alerta para o aumento do processo de produção de drogas no Continente, com as redes de tráfico a aproveitarem a ausência de fronteiras. Cocaína está mais pura e há mais pessoas em tratamento
As redes de tráfico de droga estão a aumentar a produção de estupefacientes na Europa devido à ausência de fronteiras. Além desse aproveitamento da livre circulação, há mais dois fatores a contribuir para esta cada vez maior opção: a disponibilidade e o custo das substâncias químicas necessárias para o processo de, por exemplo, transformação de cocaína ou de produção de ecstasy ou metanfetaminas.
Este é um dos alertas feito pelo Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência no seu relatório anual que foi divulgado esta manhã. No documento, em que é analisado o panorama das drogas nos 28 países da União Europeia, Turquia e Noruega e as tendências a que se assistem neste âmbito, confirma-se que a cocaína é o estimulante ilícito mais consumido na Europa e que a canábis continua a ser a droga ilegal mais consumida nos 30 países. Tendo aumentado também o número de pessoas na Europa que estão em tratamento, nomeadamente devido ao consumo de cocaína.
Outra das preocupações inscritas no documento está relacionada com o aumento da importância que assumem os mercados de venda de droga na chamada dark net. De acordo com o relatório, apesar de o mercado tradicional de compra e venda ainda ser dominante, um estudo recente do Observatório e da Europol identificou mais de 100 mercados na internet onde cerca de dois terços das compras estavam relacionadas com drogas.
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Um mercado adaptável
Todas estas evoluções no mercado deixam os responsáveis europeus preocupados e a perceber que os países têm de dar resposta mais rápida aos problemas que o consumo implica, como reconhece o comissário Europeu para a Migração, Assuntos Internos e Cidadania, Dimitris Avramopoulos. "Estamos a assistir atualmente a um aumento da produção e disponibilidade de drogas na Europa. Além disso, o mercado de drogas ilícitas é altamente dinâmico e adaptável e, por conseguinte, ainda mais perigoso. Se queremos manter-nos na linha da frente, os nossos esforços devem centrar-se no reforço da resiliência e da capacidade de resposta, sobretudo devido à crescente importância do mercado da Internet e ao desenvolvimento de novos tipos de drogas", pode ler-se numa declaração que acompanha o relatório.
Os nossos esforços devem centrar-se no reforço da capacidade de resposta, sobretudo devido à crescente importância do mercado da Internet
A maior pureza da cocaína detetada na Europa em 2016 - os dados mais recentes conhecidos - também é um dos motivos de preocupações, aliada ao facto de o consumo ter aumentado. Ao ponto de em 2016 30 mil pessoas na Europa terem começado um tratamento especializado relacionado com esta droga. A este número juntam-se mais 37 mil que receberam tratamento por sofrerem de problemas relacionados com este estupefaciente. A explicação para a subida do consumo estará, segundo o relatório, relacionada com o aumento do cultivo de coca e produção de cocaína na América Latina.
Um dado que é apresentado como poder esta a acontecer uma mudança na história do tráfico é a perceção que a Península Ibérica estará a perder importância na entrada de cocaína na Europa. Esta constatação baseia-se no facto de em 2016 as maiores apreensões aconteceram em porto mais do norte europeu. A título de exemplo, as autoridades belgas apreenderam 30 toneladas de cocaína em 2016 ou seja 43% da estimativa anual da quantidade total de cocaína apreendida na União Europeia.
Mais laboratórios ilegais e exportação de drogas sintéticas
Um dos sinais mais preocupantes para os responsáveis do Observatórios no que diz respeito a tendências no mercado é o aumento do processo de produção de drogas estar a crescer na Europa. Maior facilidade de circulação devido à inexistência de fronteiras, o estar mais perto das substâncias químicas necessárias que leva a uma diminuição dos custos, são algumas das explicações para esta situação que tem sido detetada à medida que vão sendo desmantelados laboratórios de transformação de cocaína e de produção de MDMA (ecstasy) e o registo de uma subida da produção de metanfetaminas. Ao ponto de, segundo o documento, algumas das drogas sintéticas produzidas na UE serem destinadas a mercados externos como as Américas, Austrália, Médio e Extremo Oriente.
Os desafios da canábis
A canábis é outra das questões apresentadas no relatório como preocupante. E em três aspetos: foi responsável por 77% das 800 mil infrações por consumo ou posse de drogas comunicadas na UE, em 2016, grande parte dos novos utentes de programas de tratamento de toxicodependentes na Europa não dispensava o seu consumo e as mudanças de políticas em vários países relacionadas com este produto podem levar a alterações até na oferta de produtos relacionados com a canábis. A legalização da produção e consumo desta planta (de onde é feito o haxixe) em algumas regiões da América levou ao rápido surgimento de um mercado que pode ter implicações na Europa, apesar de até ao momento ainda não ser claro esse impacte.
A legalização da produção e consumo desta planta em algumas regiões da América levou ao rápido surgimento de um mercado que pode ter implicações na Europa
Os responsáveis pelo relatório deixam, todavia, a garantia que o Observatório vai "acompanhar de perto a evolução internacional da regulamentação da canábis, com o objetivo de ficar a conhecer melhor as alterações que estão a ser introduzidas e de ajudar a identificar qualquer impacte que estas possam ter na situação europeia".
Recorde-se que em Portugal a posse para consumo não é considerada crime desde 2001 e os deputados da comissão da Saúde da Assembleia da República aprovaram recentemente a possibilidade de a canábis poder ser utilizada para fins medicinais.