A Inspeção-Geral da Administração Interna esclareceu hoje que arquivou nove inquéritos disciplinares a agentes da PSP envolvidos nos incidentes na Cova da Moura (Amadora), alertando que não se deve misturar este processo com as acusações do Ministério Público..Num esclarecimento enviado à agência Lusa pelo gabinete da inspetora-geral da IGAI, a entidade afirma que, após os incidentes ocorridos em 2015 na Cova da Moura, foram abertos nove processos disciplinares, dos quais sete foram arquivados e aplicadas sanções em dois..No entanto, "o processo de inquérito (de natureza disciplinar), por seu turno, na parte que seguiu termos após a instauração dos nove processos disciplinares, foi oportunamente arquivado", refere a IGAI, referindo que as motivações desta decisão constam dos relatórios e "decorre da apreciação dos elementos recolhidos, alguns provenientes do processo criminal que correu termos em paralelo"..No esclarecimento, a IGAI destaca que o seu procedimento disciplinar "é independente do procedimento criminal", numa alusão a 18 acusações contra elementos da PSP dadas hoje a conhecer pelo Ministério Público no âmbito do mesmo caso, por denúncia caluniosa, injúria, ofensa à integridade física e falsidade de testemunho..Para a IGAI, os dois processos encontram-se em "fases distintas", uma vez que o disciplinar foi concluído e o criminal está na "fase inicial", pelo que a comparação das decisões entre ambos "não tem fundamento" e pode implicar "uma violação da presunção da presunção de inocência..A IGAI observa ainda que, perante os mesmos factos, a acusação criminal "envolve uma apreciação probatória de elementos diversa" por comparação aos processos disciplinares.."Porém, a comparação decisiva a fazer entre processo criminal e processo disciplinar deve ter por objeto processos findos, realidade que neste momento ainda não existe", acrescenta.De acordo com a informação disponibilizada hoje no 'site' da Procuradoria-Geral Distrital de Lisboa, os 18 agentes da PSP estão igualmente acusados de outros "tratamentos cruéis e degradantes ou desumanos e sequestro agravado" e falsificação de documento..Segundo a acusação do MP, os agentes da PSP, em fevereiro de 2015, "fizeram constar de documentos factos que não correspondiam à verdade, praticaram atos e proferiram expressões que ofenderam o corpo e a honra dos ofendidos, prestaram declarações que igualmente não correspondiam à verdade e privaram-nos da liberdade"..Os arguidos encontram-se sujeitos a termo de identidade e residência..A PSP destacou hoje que "a presunção de inocência se mantém até trânsito em julgado", recordando que foram acionados os meios disciplinares internos e da IGAI aos polícias envolvidos nos incidentes com os jovens da Cova da Moura..Contactado pela Lusa, o Ministério da Administração Interna indicou que não faz comentários "sobre qualquer decisão judicial"..Fonte policial disse à agência Lusa que os agentes agora acusados estão todos ao serviço..A versão da PSP, que na altura apresentou aos acontecimentos de fevereiro de 2015, relata que um grupo de cerca de 10 jovens tentou invadir a esquadra da PSP de Alfragide, no concelho da Amadora, na sequência da detenção de um jovem que atirou uma pedra contra uma carrinha policial..Ainda de acordo com a PSP, uma carrinha de uma equipa que patrulhava o bairro da Cova da Moura foi atingida por uma pedra atirada por um jovem de um grupo de cerca de 10 pessoas. Um polícia sofreu ferimentos ligeiros, no rosto e nos braços, e foi transportado para o Hospital de Amadora-Sintra, e o jovem, de 24 anos, foi levado para a esquadra de Alfragide..Na sequência da detenção, os restantes jovens, com idades entre os 23 e 25 anos, "tentaram invadir" a esquadra, tendo sido disparado um novo tiro para o ar, disse a PSP. Foram detidos cinco elementos do grupo e os restantes fugiram..Esta versão é contrariada pelos jovens, que se queixam de agressões, tortura e discriminação racial por parte dos agentes da PSP.