Portugueses põem drones subaquáticos a decidir sozinhos

Cientistas e militares de vários países e da NATO testaram também comunicações em rede com drones aéreos e de superfície.

Investigadores portugueses estão a desenvolver um conjunto de programas informáticos para permitir que diferentes modelos de drones subaquáticos comuniquem entre si e, em rede, com veículos não tripulados de superfície e aéreos.

O projeto esteve há dias em testes ao largo de Sesimbra e da península de Tróia, num exercício de quase duas semanas - de 10 a 21 deste mês - que juntou investigadores de universidades portuguesas e estrangeiras, as Marinhas de Portugal e da Bélgica, e ainda centros de pesquisa naval e subaquática dos EUA e da NATO.

João Tasso, da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), explicou ao DN no último dia do REP17 - o maior exercício naval de veículos não tripulados, que envolve múltiplos sistemas e entidades (civis e militares) - que o projeto engloba duas vertentes: melhorar a capacidade de comunicação entre os drones subaquáticos e a sua autocondução, incluindo tomada de decisões sem intervenção humana, bem como o processo de transferência dos dados recolhidos para terra.

"Este é um exercício destinado a testar e a avaliar, em ambiente operacional, os mais recentes desenvolvimentos [do software] em operação com múltiplos veículos não tripulados submarinos, de superfície e aéreos", precisou o investigador do Laboratório de Sistemas e Tecnologias Subaquáticas da FEUP.

"Se for ao mercado comprar um drone da empresa A e outro da empresa B, eles não conseguem falar entre si e o nosso software permite que todos comuniquem entre si", adiantou João Tasso. Note-se que os testes ao programa informático visam desenvolver um "sistema que está a ser usado por uma vintena de países, por fabricantes de submarinos e por instituições oceanográficas de referência" como o Instituto de Pesquisa da baía de Monterey (Califórnia), informou o especialista em robótica de sistemas marítimos

Sendo o programa "open source", cuja versão comercial já rendeu várias centenas de milhares de euros que João Tasso se escusou a quantificar, há ainda uma versão de uso público mais limitada mas que também garante que equipamentos acústicos submarinos consigam comunicar com os aéreos e de superfície que operam via rádio, por satélite ou wifi.

Mapear certas zonas do fundo do mar ou na entrada de portos para os navios saberem por onde navegar, detetar minas ou integrar operações de busca e salvamento são algumas das missões executadas pelos drones subaquáticos.

Concluída a operação, voltam à superfície para transmitir os dados por wifi para drones de superfície ou aéreos (evitando assim a interferências provocadas pela ondulação no sinal se fosse enviado diretamente para terra).

Cabe a estes veículos não tripulados de superfície ou aéreos - as chamadas "mulas de dados" - fazerem depois o transporte da informação ou o seu reenvio para a estação base em terra, explicou João Tasso, revelando que o software testado tem sido desenvolvido com responsáveis pela criação do programa informático de planeamento usado pelas sondas que exploraram Marte a partir de 2004: a Spirit e a Opportunity.

João Tasso adiantou que uma novidade no REP17 foi o uso de veículos aéreos não tripulados capazes de pousar na água para comunicar com os submarinos e descolar.

O exercício REP (sigla inglesa de Imagem Ambiental Reconhecida) deste ano - agora na sua oitava edição - envolveu investigadores das universidades do Porto e de Aveiro, da Noruega, da República Checa, de Carnegie Mellon e do Havai (ambas dos EUA), bem como equipas da Marinha portuguesa e da belga, do Centro de Guerra Submarina Naval da Marinha norte-americana e do Centro de Investigação e Experimentação Marítima da NATO (CMRE).

Participaram ainda duas empresas do setor, permitindo assim o trabalho conjunto entre "os utilizadores finais, a indústria e a academia", assinalou o comandante António Mourinha. Segundo este militar da Marinha, os exercícios da série REP "permitem a familiarização com os protótipos em teste, permitem desenvolvê-los em função dos utilizadores e permitem trabalhar em ambiente real" - além de conhecer (e comparar com) o que de melhor existe no mercado.

A partir do submarino Arpão e das lanchas Cassiopeia e Hidra, com o apoio de mergulhadores especializados em guerra de minas, os investigadores acompanharam e monitorizaram a atividade dos drones "totalmente autónomos" e sem qualquer controlo humano debaixo de água. A capacidade de orientação - leia-se saberem sempre onde estão - é feita também com recurso a equipamentos acústicos (modems) pré-posicionados.

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