Na quarta-feira cumprem-se os seis anos do período de transição para a aplicação do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, tendo em conta a data de 13 de maio de 2009, que marca a entrada em vigor em Portugal..O Acordo Ortográfico (AO) é uma convenção internacional, que em Portugal foi aprovada por resolução da Assembleia da República em 2008..A nova grafia é usada desde 01 de janeiro de 2012 nos documentos do Estado, em todos os serviços, organismos e entidades na tutela do Governo, bem como no Diário da República, embora ainda sujam, com alguma frequência, palavras escritas com a antiga ortografia..Quando aprovou esta medida, em 2008, o Conselho de Ministros adotou também o Vocabulário Ortográfico do Português e o conversor Lince como ferramentas de suporte à nova grafia, disponibilizados em www.portaldalinguaportuguesa.org. e sujeitos a "alterações pontuais até 2015"..A assinatura do acordo baseou-se em objetivos de reforço do papel da língua portuguesa como idioma de comunicação internacional e de uma maior uniformização ortográfica entre os países da CPLP..A nova grafia chegou às escolas portuguesas faseadamente, começando no ano letivo 2011-2012 e completando-se no presente ano letivo, com a obrigatoriedade de aplicação em todas as provas e exames. Apesar disso, o Acordo Ortográfico ainda não é para todos.."Não é uniforme a aplicação em toda a Comunicação Social. Nas próprias bibliotecas escolares ainda não foram retirados todos os livros antigos", disse à agência Lusa a presidente da Associação Nacional de Professores (ANP), Paula Carqueja..A docente alegou também que a nova grafia não está consolidada nas famílias, nem em todas as publicações: "Os jovens não leem só os manuais escolares. Ainda há muitos fatores que temos de ter em consideração"..Para a ANP, este ano e apenas este ano, a título excecional, deveria ser ainda permitida nas provas e exames a utilização da grafia antiga..Face a iniciativas destinadas a suspender a aplicação do acordo, nomeadamente nos exames escolares, o Ministério da Educação fez saber recentemente que não é sua intenção aceitar essa pretensão..Vários autores manifestaram-se contra o acordo, continuando a escrever até hoje pela grafia anterior. Os escritores e cronistas Miguel Esteves Cardoso e Pedro Mexia, por exemplo, vão continuar a usar o Acordo Ortográfico de 1945.."Quem quer mudar é que tem de convencer os utentes da Língua que vale a pena fazer essa mudança", defendeu Miguel Esteves Cardoso à Lusa. "Quem faz a Língua, que está em constante mudança, são os utentes, que maioritariamente usam o Acordo de 1945", salientou, dizendo que não usar o novo acordo é "uma posição de liberdade e patriótica"..Para o cronista, que defendeu a dupla grafia, como acontece com a língua inglesa, "há que dar tempo ao tempo e esperar para ver daqui a 20 anos, qual a grafia que prevalece"..Pedro Mexia, por seu lado, disse que continuará a escrever como aprendeu enquanto o deixarem, mas deixou uma reserva: "se for obrigado a escrever segundo o novo acordo, não tenho outra alternativa. Não vou deixar de escrever por causa disso, mas só se for obrigado mesmo"..O acordo foi assinado em Lisboa em 1990, resultando o texto da discussão então realizada em Portugal, Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe..A resolução da Assembleia da República n.º 35/2008 aprovou o acordo do Segundo Protocolo Modificativo ao Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, adotado na V Conferência dos Chefes de Estado e de Governo da CPLP, realizada em São Tomé em 26 e 27 de julho de 2004.."O depósito do respetivo instrumento de ratificação foi efetuado em 13 de maio de 2009, tendo o referido acordo entrado em vigor para Portugal nesta data", de acordo com aviso do Ministério dos Negócios Estrangeiros publicado em Diário da República..O Acordo Ortográfico foi ratificado pela maioria dos países lusófonos, à exceção de Angola e Moçambique. Em Angola ainda não foi ratificado por qualquer órgão político, enquanto em Moçambique já foi aprovado em Conselho de Ministros, faltando ainda a ratificação pelo parlamento..No Brasil, país que, tal como Portugal, estabeleceu uma moratória para a aplicação plena, o Acordo Ortográfico entra em prática em janeiro de 2016.