"Ouço melhor do ouvido esquerdo do que do direito"
Marcelo Rebelo de Sousa, acabado de receber o apoio de PSD e CDS, elogiou ontem a opção de Pedro Passos Coelho em não ter presença ativa na sua campanha eleitoral para evitar dar-lhe um caráter partidário.
"Acho que é uma posição muito inteligente" do presidente do PSD, pois "esta é uma campanha que é pessoal, de candidatos [e] tudo o que seja introduzir ruído partidário é confundir as pessoas. São dois filmes completamente diferentes", enfatizou o candidato, no dia do seu 67º aniversário e à margem da visita ao lar de idosos da Santa Casa da Misericórdia do Cadaval.
Esta "não é uma campanha partidária, não é uma campanha de grupo, não é campanha de coligação... isso é para o governo, essa já foi. Agora é uma campanha pessoal, onde as pessoas olham para o candidato e dizem "o que é que pensa, o que é que fez na sua vida e o que é que tenciona fazer por nós?"", sublinhou Marcelo Rebelo de Sousa.
O professor, conhecido pela "mania das doenças" e que por isso "não [é] médico mas quase", passou a tarde a ouvir os idosos contarem pormenores da sua saúde e a mostrarem uma vitalidade e alegria que o levaram a fazer um comentário: "Saio daqui com um elixir da juventude!"
Entre as várias pessoas com quem trocou palavras bem humoradas esteve Maria Virgínia, de 99 anos e com quem combinou - pedindo mesmo um papel para marcar a data - encontrar-se no dia do seu centésimo aniversário: "Ouço sempre melhor do ouvido esquerdo do que do direito, por estranho que pareça", comentou, após elogiar o estado de saúde da antiga professora.
"Felicidades e muitos anos de vida"
"Acho que o país está hoje, depois da crise de quatro anos e meio, mais desejoso de proximidade, de afeto, de ligação", respondeu o candidato, quando questionado sobre o papel do Presidente da República, Cavaco Silva.
"As crises são assim, obrigam a que as pessoas queiram ser ouvidas e queiram quem dê voz àquilo que pensam ou que que sentem, aos seus anseios. Isto significa maior proximidade, [...] as pessoas querem que os políticos, os responsáveis estejam mais próximos. Não é só vê-los na televisão ou na Internet, só ao longe nas cerimónias oficiais. Querem tê-los próximos e a necessidade agora é maior do que era há 10 anos, ou há cinco anos", argumentou.
O professor, que cantou os parabéns "ao menino Marcelo" com os presentes junto do bolo de aniversário em tons de azul e branco, estranhou que o social-democrata Duarte Pacheco lhe entregasse pouco depois um pequeno embrulho. "São as velas" para poder "pedir um desejo", explicou-lhe o deputado.
"Mas já o fiz, pedi logo os três desejos" da praxe ao apagar as duas velas, exclamou Marcelo Rebelo de Sousa, dirigindo-se a outro local da sala para ouvir um idoso tocar órgão durante alguns minutos.
O aniversariante, que desejou "felicidades e muitos anos de vida" a Sampaio da Nóvoa - que ontem também fez campanha - e "a todos os que fazem anos para não haver discriminação entre portugueses de primeira e de segunda", invocou depois outra canção quando questionado pelos jornalistas sobre as sondagens que o dão como vencedor das presidenciais à primeira volta com larga vantagem.
"É a Grândola Vila Morena que diz que é o povo quem mais ordena. O povo vai ordenar dia 24 de janeiro e veremos se ordena definitivamente ou não, se quer ordenar novamente a 14 de fevereiro. Portanto, a obrigação dos candidatos, coisa que faço não por obrigação mas também com prazer, é o conviverem com as pessoas, contactarem com as pessoas, explicarem aquilo que pensam sobre o país".
Sobre o que as pessoas lhe pedem no exercício do mais alto cargo da nação, Marcelo Rebelo de Sousa - que chegou ao Cadaval sozinho ao volante do seu carro - respondeu: "Querem sentir calor humano, querem sentir que o Presidente possa ser um porta-voz daquilo que pensam e sentem. Querem muito isso. Daí a necessidade do afeto. O afeto não é uma teoria. O afeto é ouvir e dar voz, ouvir e dar voz permanentemente."