Otelo Saraiva de Carvalho diz que atraso de Portugal a reconhecer independência de Angola foi "muito grave"

"Não há dúvidas de que o reconhecimento tardio da independência de Angola levou a que nem sempre as relações com Portugal sejam boas. Há coisas que deixam marcas para sempre", salientou.
Publicado a
Atualizado a

O "capitão de Abril" Otelo Saraiva de Carvalho considerou "muito grave" que Portugal tenha sido o 83.º país a reconhecer a independência de Angola, algo que considera ainda interferir nas relações entre os dois Estados.

A posição foi defendida em entrevista à agência noticiosa angolana, Angop, em Lisboa, a propósito dos 40 anos de independência de Angola, que se assinalam a 11 de novembro deste ano, durante a qual Otelo Saraiva de Carvalho assumiu que "tardou demais" o reconhecimento, não havendo dúvidas de se ter tratado de um "tremendo erro" de Portugal.

"Não há dúvidas de que o reconhecimento tardio da independência de Angola levou a que nem sempre, ainda hoje, as relações com Portugal sejam boas. Há coisas que deixam marcas para sempre. Isso tudo custou caro para as relações entre Angola e Portugal", sublinhou Otelo Saraiva de Carvalho.

O antigo militar adiantou que foi "tentada uma plataforma mínima de acordo entre os três movimentos de libertação", o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) e Frente Nacional para a Libertação de Angola (FNLA).

"Tínhamos mais preferência pelo MPLA, porque era o único movimento, por razões ideológicas e capacidade de gestão política, do qual tínhamos contacto e diálogo", reconheceu também.

Otelo Saraiva de Carvalho disse ainda que António Spínola, político conservador, tinha uma ideia completamente diferente de autodeterminação e de independência.

"Spínola tinha uma ideia de criar uma 'Commonwealth' à portuguesa, em que ele seria o Presidente da República e de todas as províncias ultramarinas. A perspetiva dele era gizar uma cultura ultramarina que conduzisse à paz e mais nada. Isso era completamente ridículo", disse.

Segundo Saraiva de Carvalho, a visão do Movimento das Forças Armadas (MFA) passava por medidas para elevar o nível económico, cultural e social do povo português, sobretudo das classes sociais mais desfavorecidas.

"Para nós, o Governo saído do da revolução de 25 de Abril deveria, imediatamente, também, reconhecer o direito dos povos à autodeterminação, com todas as consequências que daí adviriam, mesmo a independência", frisou.

O revolucionário português defendeu que as relações de Portugal com os Países Africanos de Língua Portuguesa (PALOP) deveriam ser fraternas.

Numa mensagem a propósito dos 40 anos de independência que os PALOP comemoram este ano, Otelo Saraiva de Carvalho considerou "extremamente aliciante (re) construir um país".

"É satisfatório sentirmos, eu e os meus camaradas, o sonho dos nacionalistas africanos em tornar rapidamente possível o alcance da liberdade, da dignidade e da soberania dos seus países", destacou.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt