Ordem investiga queixas ao serviço de otorrino do Hospital de Santa Maria

Denúncias falam de internos escalados para dois serviços em simultâneo e de consultas sem privacidade para os doentes.
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A Ordem dos Médicos vai investigar as queixas feitas por um grupo de médicos ao serviço de otorrino do Hospital de Santa Maria. Em causa estão alegadas irregularidades na organização, como internos escalados para mais do que um serviço em simultâneo e a nomeação do diretor de otorrino. A visita ao serviço vai contar com a presença do bastonário, o colégio da especialidade e um representante da secção regional do Sul da Ordem. A administração garante que não existem ilegalidades e diz-se satisfeita com a visita da Ordem dos Médicos "para a confirmação da inexistência de situações que conflituam com o normal funcionamento do serviço".

"A Ordem vai fazer, em breve, uma visita ao serviço e vai na máxima força, com a presença do bastonário, do colégio da especialidade e da secção regional do Sul", disse ao DN o bastonário dos médicos, referindo que a decisão foi tomada na sequência de uma reunião que teve com um grupo de otorrinos do hospital, em que estes apresentaram queixas que têm de ser avaliadas. "Vou falar com todos - diretora clínica e presidente do conselho de administração - e pedir documentação", disse Miguel Guimarães.

"Quando me dizem que um interno está com uma dupla tarefa - no bloco operatório e na urgência, ou no bloco operatório e consulta - isto tem de se confirmar. É fundamental perceber o que está a acontecer. Não aceito que o Hospital de Santa Maria tenha um serviço em que as pessoas tenham duas tarefas ao mesmo tempo. Se for assim, muda na hora", afirmou Miguel Guimarães, salientando que, "se não estiverem a cumprir as regras da idoneidade, haverá consequências".

Entre as queixas feitas à Ordem estão também situações em que o mesmo médico está escalado para dois blocos operatórios ao mesmo tempo e haver dois internos a fazer duas consultas em simultâneo na mesma sala sem a garantia de privacidade dos doentes. Assim como o não respeito pela relação médico/doente ao reatribuir a cirurgia a outro profissional. O que originou, pelo menos, uma queixa de um utente. O presidente do colégio de otorrino da Ordem dos Médicos, Artur Condé, reforça que "está a decorrer uma investigação para fazer a avaliação do que se está a passar e só depois será tomada uma decisão". Sem se referir à situação em concreto, disse que "nem um interno nem um especialista pode estar em dois sítios ao mesmo tempo, seja em que hospital for. É uma questão de bom senso, de organização. Cada área tem de ter a sua equipa própria para responder às necessidades".

A nomeação do diretor de serviço, que iniciou funções no dia 1 de novembro de 2016, foi contestada com uma providência cautelar - recusada pelo Tribunal Administrativo de Lisboa, à qual houve recurso -, que apontava que o nomeado era assistente graduado há um ano, nono na posição hierárquica do serviço, no qual trabalha um médico assistente graduado sénior, que é o topo da carreira. Situação que a Ordem dos Médicos também vai avaliar.

Questionado pelo DN, a administração do Hospital de Santa Maria afirmou: "Quer tratando-se de especialistas quer de médicos internos, os requisitos exigidos são respeitados tanto no que se refere ao número de elementos como ao serviço ou bloco para que são efetuados."

Recusa a existência de situações nas consultas que coloquem a causa a privacidade dos doentes e a existência de queixas relacionadas com a mudança de cirurgião, dizendo que "a equipa é escalada de acordo com a sua diferenciação face à intervenção a realizar".

A administração "congratula-se com as visitas de órgãos afetos à Ordem dos Médicos para confirmação de inexistência de situações que conflituam com o normal funcionamento do serviço, designadamente no que respeita à atividade e idoneidade formativas, o que ademais sempre defendemos e estimulamos", afirmou, reforçando que a escolha do diretor "não violou o estatuído na legislação das carreiras médicas ou qualquer outra".

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