16 abril 2018 às 00h10

O novo Campo das Cebolas convida ao passeio. "Já beneficiámos com a bela vista"

Quem trabalha na praça desde 1985, ao lado da Casa dos Bicos-Fundação José Saramago, aplaude a renovação. Algumas famílias aproveitaram ontem para estrear o parque infantil da praça renovada por Carrilho da Graça

Rute Coelho

O "novo" Campo das Cebolas, praça localizada a meio caminho entre o Terreiro do Paço e Santa Apolónia, inaugurado no sábado, atrai agora um público novo que andava arredado de um local que estava algo decadente: as famílias que vêm à Lisboa antiga em passeio. Mesmo num domingo de futebol e com alguns aguaceiros, houve casais que foram em passeio estrear o espaço ajardinado e o parque infantil que está no meio para as crianças brincarem, com vista para o rio Tejo.

Susana Gabino, de 46 anos, e Fernando Domingues, de 42, bancários, vieram de propósito de Carcavelos, no concelho de Cascais, onde vivem, com as duas filhas de 7 e 4 anos para desfrutar do novo Campo das Cebolas. "Não pudemos vir no sábado, na inauguração, e aproveitamos para vir conhecer hoje que está mais calmo, com menos gente", diz Susana, enquanto olha pelas filhas Beatriz e Elisa, maravilhadas com as cordas do parque infantil. "Gosto muito de arquitetura e da traça pombalina e acho que os edifícios desta praça ganharam bastante com a remodelação", acrescenta Susana.

Fernando recorda que o local era antes "pouco convidativo" e que quando vinham a passeio a Lisboa só atravessavam aquela zona "de passagem". Agora vai ser diferente. "Já convida a vir passear", admite. O casal garante é que não se vai deixar tentar pelos restaurantes novos e bares que ali surgiram com ementas em inglês, francês e espanhol. "É para turistas", ri--se Susana.

"Mudou do dia para a noite"

"Já beneficiámos com isto: ganhámos uma bela vista. Mudou do dia para a noite", diz sorridente José Monteiro, 53 anos, um dos donos de um dos mais antigos restaurantes da praça, localizado ao lado da Casa dos Bicos-Fundação José Saramago. Nas costas do famoso edifício está o bairro de Alfama e a Sé de Lisboa, pontos de interesse que motivam os turistas de várias nacionalidades a andar de mapa na mão, rua acima, rua abaixo.

Da esplanada do restaurante do José avista-se o jardim e a entrada para o cais pombalino que foi desenterrado (e que à vista tinha apenas a escadaria de pedra porque o acesso ainda estava fechado ao público). Foram três anos de obras mas, para quem trabalha no Campo das Cebolas há 33 anos, como José Monteiro, compensou. "Em 1985 ainda havia aqui camionagem e despachantes, cargas e descargas. Assim foi até ao ano 2000, dois anos depois da Expo 98. Depois, toda essa atividade acabou e o Campo das Cebolas ficou meio vazio, não mora aqui ninguém. De há dois anos para cá veio o turismo e agora temos a praça renovada. Está muito melhor." José recorda um local que era decadente, com "um ambiente estranho, toxicodependentes e sem-abrigo".

No campo onde se descarregariam cebolas, no século XVI, descarregam-se agora turistas, estrangeiros e portugueses.

Com a requalificação assinada pelo arquiteto Carrilho da Graça ganhou-se uma vista desafogada para um edificado do século XVI de pinturas renovadas e azulejos restaurados cuidados de onde se destaca, como tela singular, a famosa Casa dos Bicos. No coração do largo, vê-se ainda uma escultura em ferro contemporânea, cafés modernos e um percurso da Lisboa medieval e de muralha fernandina.

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