Morreu Almeida Santos. "Era paciente, persistente e... tinha quase sempre razão"
Almeida Santos morreu esta segunda-feira à noite. Tinha 89 anos. A notícia foi confirmada por Carlos César, presidente do PS, que começou por avisar alguns militantes do partido, tendo entretanto colocado uma mensagem no Facebook.
"A Almeida Santos, cuja notícia de falecimento acabo há pouco de receber, devo uma amizade quase paternal. Foi e continuará a ser uma das maiores referências do Partido Socialista", escreveu Carlos César, que salienta ainda que o antigo presidente da Assembleia da República "era paciente, persistente, pedagogo e... tinha quase sempre razão, sem que tivesse que alterar o tom de voz para persuadir".
O presidente honorário do PS tinha participado no domingo numa ação da campanha presidencial de Maria de Belém que recordou precisamente esse momento: "Recordo uma personalidade extraordinária. Ainda ontem estive com ele, num almoço na Figueira da Foz. Era um grande amigo, um grande democrata, um grande vulto da política nacional e é uma personalidade extraordinária. Como calcula, estou profundamente chocada com a notícia."
[citacao:Era um grande amigo, um grande democrata, um grande vulto da política nacional e é uma personalidade extraordinária]
À SIC Notícias, a candidata presidencial salientou que "pessoas desta craveira fazem sempre falta, são absolutamente insubstituíveis". "Era uma pessoa com uma sabedoria e uma serenidade extraordinárias, com uma inteligência que era absolutamente, também, fantástica e, portanto, pessoas destas fazem sempre uma enorme falta quando desaparecem e o mundo não fica igual", acrescentou.
A morte de Almeida Santos poderá condicionar a agenda dos candidatos em campanha, nomeadamente os da área socialista. Maria de Belém já anunciou a suspensão de todas as ações de campanha até ao funeral do histórico socialista.
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Segundo a Lusa, Almeida Santos faleceu em sua casa, em Oeiras, pouco antes das 00:00. O presidente honorário do Partido Socialista sentiu-se mal após o jantar e foi ainda assistido na sua residência. O corpo do fundador do PS deverá estar em câmara ardente na Basílica da Estrela, em Lisboa, mas não haverá cerimónia religiosa, a pedido do próprio, adiantou fonte da família.
Numa mensagem colocada no Facebook, cerca das 2:00 de terça-feira, o candidato Sampaio da Nóvoa, que tem contado com o apoio de muitos dirigentes do PS, disse tratar-se de uma "personalidade marcante do Portugal contemporâneo, fundador da nossa Democracia, combatente pela liberdade e por todos acarinhado como presidente da Assembleia da República, exemplar na sua forma de construir consensos e prestigiar o debate democrático".
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Definindo o "momento" como "triste para a nossa República", Nóvoa prestou a sua "homenagem a uma das mais emblemáticas figuras da nossa história democrática, uma referência da oposição à ditadura, advogado e jurista de excelência, presidente histórico do Partido Socialista, que nunca faltou à chamada na governação e no serviço público". E deixou as suas "sentidas condolências à família, aos amigos, ao Partido Socialista e a todos os seus militantes", apontando como uma possível "inspiração" a "sua vida empenhada na defesa dos valores da República e da democracia parlamentar e no seu exemplo de uma longa vida de serviço público e de combate pela liberdade".
Marcelo Rebelo de Sousa referiu que "Almeida Santos era um amigo de família e amigo pessoal há 46 anos, desde Moçambique e era uma personalidade invulgar". Salientou que era "um homem inteligente, um homem muito culto, um grande jurista, um homem que teve um papel fundamental no período de criação da democracia".
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"Coube-lhe a ele, de facto, como já referiu o senhor ministro dos Negócios Estrangeiros, construir o travejamento jurídico inicial da nossa democracia e depois, por várias vezes, interveio, nomeadamente no Conselho de Estado ou em funções governativas. E deixa um traço significativo de consenso, de pacificação e de abertura política que, de facto, se junta ao desgosto pessoal, nos amigos que o admiravam muito e o conheciam bem. Daqui envio o meu pesar à família, antes de mais, ao Partido Socialista e a todos aqueles com quem privou de perto, nomeadamente, mais recentemente, a doutora Maria de Belém", afirmou à SIC Notícias.
Domingos Abrantes, conselheiro de Estado e militante do PCP, foi dos primeiros a reagir à notícia. Está com António Costa na visita oficial a Cabo Verde que o primeiro-ministro iniciou esta madrugada. "Desapareceu o construtor da democracia, resistente antifascista e um opositor ativo do fascismo e do antigo regime. Nesse sentido, a democracia portuguesa fica mais pobre e eu, que o conheci pessoalmente, não posso deixar de enviar as minhas condolências ao PS e também à família de Almeida Santos. O percurso de Almeida Santos fica incontornavelmente marcado pela vitória da democracia e a derrota do antigo regime", realçou.
Um dia antes de morrer, António de Almeida Santos afirmou que se Maria de Belém perder as eleições presidenciais de domingo, da próxima vez "ganha ela". "Não será a última vez que me ouvireis, a próxima vez que a Maria de Belém se candidatar eu cá estarei com ela, porque nessa altura já vai ser muito difícil derrotá-la, muito difícil. Lembrem-se disso do que eu vos digo hoje: se não ganhar desta vez, não sei se ganha se não, da próxima ganha ela", afirmou Almeida Santos, num almoço na Figueira Foz..
O ex-ministro de Mário Soares e antigo presidente da Assembleia da República disse que sua presença no almoço da candidatura, este domingo, foi "uma homenagem muito sincera" a Maria de Belém, de quem é "muito amigo". Lembrando que até agora só uma vez uma mulher se tinha candidatado à Presidência da República - Maria de Lurdes Pintassilgo, em 1986 - Almeida Santos disse ter uma "identificação completa" com a candidatura da antiga ministra com as pastas da Saúde e da Igualdade nos Governos de António Guterres.
Com Lusa