Morreram "Joana", "André", "Maria"... Morreu Cândida Ventura

Militante comunista desde 1937, 17 anos de clandestinidade na luta antifascista, deixou o PCP depois do 25 de abril
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Foi a "Joana dos olhos claros", no livro "A balada dos amigos separados", de Mário Dionísio. "Joana" foi um dos pseudónimos, utilizado por Cândida Ventura durante os seus longos períodos na clandestinidade, como funcionária do PCP, no tempo da ditadura. Foi também "André", "Maria" e "Catarina" e todas essas personagens criadas para fugir ao controlo da PIDE, morreram esta madrugada com Cândida, que completou 97 anos a 30 de junho passado.

Nasceu em Lourenço Marques (atual Maputo, capital moçambicana) em 1918 e, com 19 anos ingressou na Faculdade de Letras de Lisboa. No mesmo ano, 1937, aderiu ao Partido Comunista.

Foi ativista das lutas académicas de 1937-39 participou também nas manifestações e greves de 1941.

Terminou a licenciatura em 1943 e passou de imediato à clandestinidade como funcionária do PCP. Em 1949 tornou-se membro do Comité Central.

Assumindo as diversas personalidades conseguiu ficar fora do radar da polícia política durante 17 anos, mas acabou por ser presa em 1960. Saiu em liberdade condicional em 1963 por se encontrar em perigo de vida. Em 1965, foi para a Checoslováquia, Praga, como representante do PCP e só regressaria a Portugal em 1975.

Tendo testemunhado a Primavera de Praga e a ocupação soviética, tornou-se uma mensageira indesejável ao PCP em pleno PREC (Processo Revolucionário em Curso). Fez questão em denunciar as condições de vida nos Países de Leste. A inevitável rutura com o partido acabou por se concretizar em 1976. Manteve a sua intervenção política e cívica e dedicou-se ao ensino.

Escreveu em 1984 o livro "O socialismo que eu vivi", no qual revela as influências do pai, um funcionário dos caminhos-de-ferro da ex-colónia portuguesa, na sua atitude política e social: "Inculcou nos filhos o amor pela natureza, doando-nos a retidão do seu caráter, a sua bondade, a compreensão, o diálogo e o respeito pelos outros como base das relações humanas".

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