Mestre e delfim em busca de uma maioria alentejana
"Nos últimos nove meses tentei levar por diante um trabalho de equipa que de equipa pouco se mostrou". A frase de Nuno Mocinha, atual autarca de Elvas eleito pelo PS, simboliza o fim da relação de camaradagem pessoal e profissional de anos e anos entre o histórico autarca de Elvas, José Rondão de Almeida e Mocinha, o seu ex-delfim.
Rondão de Almeida, o dinossauro político (na altura ainda filiado no PS) que de 1993 a 2013 liderou os destinos da autarquia raiana - tendo alcançado quase sempre maiorias absolutas - acabou por ser travado no último ato eleitoral de 2013, devido à lei de limitação de mandatos. Assim sendo, aquele que sempre foi o seu braço direito e delfim, Nuno Mocinha, concorreu também apoiado pelo PS e conseguiu as maiorias a que os socialistas desde os anos 90 estavam habituados: 69,3%. Ainda assim, Rondão manteve-se na sombra da autarquia como vereador. Mas a rutura acabou por se dar na reunião extraordinária do executivo elvense - a Julho de 2014 - com Mocinha a acusar Rondão de anunciar publicamente decisões camarárias como dados adquiridos, muitas delas sem conhecimento do próprio autarca. Desde essa altura, Mocinha corta as amarras que o ligavam ao homem que ocupa um espaço inquestionável no município (com ruas, monumentos e mesmo uma das salas de espetáculos mais importantes da cidade com o seu nome) ao retirar-lhe os pelouros, bem como a Elsa Grilo, também eleita pelo PS.
Agora, três anos depois, o delfim de 45 anos e o seu ex-mentor de 71 anos - defrontam-se num dos atos eleitorais mais imprevisíveis de sempre na cidade: Rondão concorre como independente e Nuno Mocinha é o candidato formalmente apoiado pelo PS. Ambos conseguiram, em anos anteriores, maiorias expressivas. O que acontecerá no dia 1 de outubro está, para já, no segredo dos deuses.
A (ainda não oficial) campanha eleitoral, já está carregada de insultos entre os dois. "A presença de ministros em época de eleições só revela a fragilidade do trabalho feito na autarquia do longo do último mandato. Há poucos dias foi o primeiro-ministro a prometer obras na escola de Santa Luzia até 2012. Ultimamente foi o ministro Pedro Marques a prometer comboios de alta velocidade de mercadorias", sublinha o comendador Rondão de Almeida. "Em Elvas nunca no período de atos eleitorais tivemos aqui ministros e secretários de Estado. Apenas precisávamos da avaliação dos elvenses", diz o candidato do "Movimento Cívico Elvas Nosso Partido". Rondão de Almeida -que entretanto se desfiliou do PS e que foi o primeiro a apresentar a candidatura -diz ainda que "Elvas está a ver passar comboios" desde que, em 2013, Mocinha assumiu a liderança da autarquia. Já Nuno Mocinha fez o anúncio formal da candidatura a 2 de Junho, no Centro de Negócios de Elvas que recebeu quase duas mil pessoas. "É pena que todos não estejam do mesmo lado", dizia o socialista.
O executivo municipal de Elvas é composto por seis eleitos pelo PS e um pelo CDS-PP. No distrito de Portalegre, com 15 concelhos, o PSD lidera em seis municípios (Alter do Chão, Arronches, Sousel, Fronteira, Marvão e Castelo de Vide). O PS conquistou também seis câmaras (Campo Maior, Elvas, Ponte de Sor, Crato, Nisa e Gavião), a CDU lidera em duas autarquias (Avis e Monforte), ao passo que a Câmara de Portalegre é gerida pelo movimento Candidatura Livre e Independente por Portalegre (CLIP). O foco e as preocupações do atual presidente da câmara estão centradas "nas crianças, nos jovens porque são os que estão em idade ativa e são a idade de ouro" sendo claramente uma candidatura que aponta para um eleitorado mais jovem.
A dirigente do PEV (Partido "Os Verdes") Manuela Cunha vai ser a candidata da CDU. Com 60 anos, é formada na área de animação sociocultural e desempenha as funções de assessora no grupo parlamentar do PEV desde 1988. No distrito de Portalegre, Manuela Cunha encabeçou a lista da CDU nas eleições legislativas de 2013, tendo também desenvolvido iniciativas na defesa do património industrial da fábrica Robinson, em Portalegre, e na reposição do transporte ferroviário na Linha do Leste.
O nadador salvador Rui Garrido é o candidato do Bloco de Esquerda . Rui Miguel Garrido, de 38 anos, é nadador salvador nas piscinas municipais de Elvas, natural e residente no concelho raiano. Coordenador da Concelhia de Elvas do BE, o candidato já foi também dirigente do Sindicato dos Trabalhadores em Funções Públicas e Sociais do Sul.
Tiago Abreu, vereador sem pelouros na autarquia e líder da Comissão Política Distrital de Portalegre do CDS-PP, foi o segundo candidato a ser conhecido. O candidato centrista considera que a isenção do pagamento dos parques de estacionamento da cidade deverá ser uma das prioridades e acusa o PS de "falhar nos objetivos traçados em 2013 para a cidade de Elvas, no que diz respeito à criação de emprego".
O engenheiro Luís Caldeira Fernandes foi a escolha do PSD para a cidade. Apresentou-se à corrida em dezembro com o lema "uma nova possibilidade de escolha". Uma candidatura de "pessoas livres e livres de pensamento".