Medina e Cristas são os mais conhecidos lá do bairro

De Belém ao Lumiar, as residências dos candidatos à presidência da Câmara de Lisboa localizam-se em várias freguesias. Teresa Leal Coelho, do PSD, e João Ferreira, da CDU, são quase vizinhos. Uma reportagem que coincidiu com o dia em que todos ficaram a saber onde fica o novo apartamento de Fernando Medina
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Na mercearia, no talho, na farmácia, no famoso Careca dos croissants, não há quem não conheça Assunção. A Rua Duarte Pacheco Pereira, em Belém, uma espécie de centro comercial ao ar livre, é regular destino da candidata do CDS à presidência da Câmara de Lisboa e a sua presença, muitas vezes acompanhada pelo marido e os quatro filhos, não passa despercebida. O bairro de Belém é a sua casa desde que veio com a família de Angola em 1977 e desde sempre que é nesta rua que faz as compras do dia-a-dia. "É o bairro onde cresci, onde ainda moro e faço a minha vida", conta ao DN a presidente do CDS, que escolheu para candidato à junta de freguesia um também "freguês" de Belém, Telmo Correia, bastante conhecido também na frequentada "rua das lojas".

Assunção confidencia que "o único clube desportivo de que alguma vez" foi sócia "é o Belenenses", onde praticou patinagem artística em miúda e os seus filhos tiveram aulas de natação. "Foi minha colega na escola", revela Luís Mena, filho do proprietário da pastelaria Careca. "A Dra. Assunção vem aqui muitas vezes com a família", acrescenta o pai, Ricardo Mena, atrás do balcão, enquanto acondiciona numa caixa de cartão quatro croissants. Na mercearia, um pouco mais abaixo, Fátima Moura não esconde a admiração que sente pela família Cristas. "Tanto ela como o marido são muito, muito simpáticos. Ele ajuda muito em casa, gostam de escolher as melhores frutas e legumes, são muito exigentes com a qualidade da alimentação dos meninos", afirma sorridente, sentada junto à máquina registadora.

Perguntamos a três senhoras, que tomam café numa das esplanadas da rua, se sabem que naquele bairro reside um dos candidatos à câmara. "Claro, a Assunção. Às vezes cruzo-me com ela na mercearia", responde de imediato Cristina Tavares. "Gosto imenso dela, é muito frontal e é uma mulher de família. Espero que ganhe", afiança.

Seguimos em direção à Estrela, onde reside há 24 anos José Pinto Coelho, o candidato do Partido Nacional Renovador. É um residente "discreto", como afirma José Monteiro, sócio da pastelaria O Carrossel, na Avenida Infante Santo, onde vai por vezes almoçar ou jantar. "Vem normalmente sozinho", afirma, confirmando que sabia que era candidato, mas que "nunca falaram de política". Na papelaria do outro lado da rua, Maria Júlia Marques, está há 40 anos atrás daquele balcão. "Sou capaz de o conhecer de vista, mas não estou a ver quem é", reconhece.

Seguimos depois para o bairro de Santo António, onde mora Ricardo Robles, a aposta do BE. "Mas a casa é antes ou depois do Elefante Branco", pergunta Armando Silva, 86 anos, que está com a mulher, Joaquina, junto a um café na Rua Luciano Cordeiro. Acena negativamente a cabeça. "Moro aqui há 70 anos e não conheço", diz. Nenhum dos outros homens e mulheres do pequeno grupo que integra conhecem Ricardo Robles. Mas a menos de cem metros mais abaixo, na pastelaria Camacha, um sorriso afirmativo invade a cara de Manuela Santos, quando perguntamos por Ricardo. "Vem cá quase todos os dias comer a nossa especialidade, as queijadas do Preço Certo." A iguaria, refira-se, confecionada com amêndoa e natas frescas, ganhou fama desde que a marca patrocina o programa de Fernando Mendes e é oferecida ao lanche dos convidados. Manuela diz que Ricardo Robles é "muito simpático, um espetáculo. É simples e as pessoas simples são assim". Sublinha também que "não é de falar de política", a tal ponto que apesar de ali ir "praticamente todos os dias, muitas vezes com a família", nunca comentou que era candidato. "Soubemos quando o vimos na televisão", refere.

Avançamos para a freguesia das Avenidas Novas, a única referência que nos foi facultada pela assessoria de Fernando Medina. A reportagem coincidiu com o dia em que as televisões mostravam repetidamente a fachada do prédio, na Rua Luís Bívar, onde o presidente e candidato à câmara reside e cuja aquisição é alvo de uma investigação do Ministério Público. Por isso, na rua, todos já sabiam onde morava e, claro, que era candidato. "Trabalhamos aqui há alguns anos e só agora soube que mora cá", diz Teresa, que conversava animadamente com três colegas, na esquina com a Rua Pinheiro Chagas. "Toda a gente sabe, não é? Vimos na TV", reforça, sorrindo com um piscar de olho.

A preparar-se para montar a sua bicicleta, Alexandra Simões tira os headphones dos ouvidos e pede para repetirmos a pergunta. Se conhece Fernando Medina e se sabe que mora no bairro? "Não sabia, não, sou de Telheiras e só vim aqui a uma consulta. Mas aproveito para dizer que gosto muito do trabalho que ele tem feito na câmara, principalmente as ciclovias. Há três anos que só ando de bicicleta na cidade", sublinha, satisfeita, começando a pedalar pela rua abaixo.

No entanto, não encontrámos ninguém que tivesse para contar algum encontro, conversa de café ou qualquer história sobre o "freguês" Medina. Nem no café Chikapa, mesmo no edifício onde Fernando Medina comprou o apartamento. "Sei que mora aqui no prédio, sim, mas sai sempre cedo de manhã, quando ainda estamos abrir. É simpático, mas, além do bom dia, nunca falámos mais", assevera Luís Binas, funcionário do estabelecimento. Fernando Medina é o único candidato de quem vimos cartazes em todos os bairros que visitámos.

Não é o caso de António Arruda, o candidato do Partido Unido dos Reformados e Pensionistas (PURP), nem de Luís Júdice, do PCTP-MRPP. Não vimos um único sinal de campanha e no seu bairro, Arroios, nem sequer ainda se sabe que são candidatos. No Jardim Constantino, quatro homens jogam às cartas numa das mesas. "Estamos a ver se roubamos o que resta da reforma uns aos outros, eh eh eh", diz Manuel "tlim-tlim", que não quer revelar o apelido, mas apenas as alcunhas. Nas mãos tem as cartas gastas e confessa que o seu candidato é mesmo João Ferreira, da CDU. Quanto ao resto, "todos juntos e barco ao fundo com eles, eh eh eh", ri-se agora António "Martelo", roendo um palito ao canto da boca.

No restaurante Danúbio, na Rua Passos Manuel, ao lado da junta de freguesia, António Arruda, que ali reside há mais de duas décadas, é um cliente "há 15/20 anos", confidencia o proprietário Acácio Teixeira, que não sabia que era um dos candidatos à câmara. No café O Preto dos Anjos, na rua com o mesmo nome, por pouco não apanhamos Luís Júdice, que, segundo os donos, Manuel e Isabel Silva, "costuma passear o cão" àquela hora (final de tarde). O candidato do MRPP vive no bairro há 50 anos. No Preto dos Anjos só souberam da sua candidatura pela televisão, apesar de, segundo Isabel Silva, ali ir quase todos os dias. "Não falamos de política, mas quando o vi na TV, no outro dia, meti--me com ele. Disse, na brincadeira, que, no que dependesse me mim, já ganhou!", conta.

O Lumiar é o bairro de João Ferreira e Teresa Leal Coelho, embora de lados opostos da Alameda das Linhas de Torres. Nem um nem outro são conhecidos, a não ser nos locais que regularmente frequentam. No caso do candidato comunista, o facto de se ter mudado há apenas um mês é a justificação. Pedro Marques, empregado do café Rainha Santa, na praça do mesmo nome onde fica o apartamento de João Ferreira, soube pela televisão que o novo cliente era candidato. "É muito discreto, não fez campanha", refere. Na rua, Paula Lima, que passeia o seu cão, conhece João Ferreira. "Comprou a casa por cima da dos meus pais. Mas não fazia ideia de que era candidato à câmara", assinala.

Teresa Leal Coelho reconhece que o Lumiar, onde reside há 20 anos, é o bairro "onde entra e sai rapidamente todos os dias" para ir trabalhar e isso justifica que apenas um dos vários moradores que abordámos soubesse que ali reside. "Sei que mora aqui perto, já me cruzei com ela no supermercado", confirma um, que pediu anonimato, depois de várias críticas à "inaceitável sujidade das ruas num bairro de classe média/alta", o que foi corroborado por outro morador, Pedro Chaves, que não sabia nem que Leal Coelho era candidata nem residente. No cabeleireiro Vetustas, todas conhecem a "Dra. Teresa". "Vem aqui há muitos anos, é simpática e muito despachada. Não gosta de nada complicado, tudo muito prático e rápido", revela Anabela Jorge.

A fechar a reportagem, o bairro de Alvalade, onde mora há cinco anos Joana Amaral Dias, a candidata do partido Nós Cidadãos. "Adoro viver nesse bairro. É central, tem bons transportes, muito comércio, é um bairro com vida própria", disse ao DN. No supermercado O Azeitona" é cliente habitual e Soraia Torres, uma das empregadas, garante que, "se votasse em Lisboa, a Joana era uma hipótese". "É uma pessoa muito agradável, expressiva e conversadora", afirma. À porta, uma moradora, Maria da Conceição Ahrens Teixeira, também conhece Joana. "Por acaso até conheço a família, mas não vai ter o meu voto", afirma. A partir daqui, outras pessoas que abordámos não conheciam a candidata, à exceção de uma senhora, na casa dos 80, Maria de Fátima, que conversava dentro de uma papelaria da Avenida de Roma. "Sei perfeitamente quem é. Uma muito engraçada. Até está um cartaz dela ali ao pé do hospital [Júlio de Matos]", informa. Corremos para a rua para tirar aquela que seria a única foto do cartaz de um candidato (sem ser Medina) no seu bairro. O poster lá estava de facto. Mas era o de Assunção Cristas e não Joana Amaral Dias.

Os candidatos do PTP e do PDR-JPP não responderam ao DN. Inês Sousa Real, do PAN, não reside em Lisboa.

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