Marcelo. "Coligação das esquerdas superou as expectativas"
Presidente da República diz ao diário espanhol El País que "tinha que mostrar uma posição de apoio ao governo"
O Presidente da República considera que a coligação entre o PS, BE, PCP e PEV "superou as expectativas". A afirmação de Marcelo Rebelo de Sousa foi feita ao El País. Em entrevista ao diário espanhol o Presidente da República diz também que "tinha que mostrar uma posição de apoio ao governo" - "Não um apoio incondicional, mas com condições claras: o controlo do défice, o respeito pelos compromissos europeus e da NATO e também a condição de uma distensão política".
"Portugal vive uma experiência inédita", diz Marcelo, sublinhando que ninguém sabia como se desenvolveria o compromisso "em torno de um programa de esquerda moderada do PS com partidos que, em teoria, têm dúvidas sobre a NATO, sobre o euro, sobre as políticas económicas de Bruxelas". "Nos círculos financeiros internacionais diziam-me, no início desta experiência, que eram cépticos sobre os compromissos europeus de Portugal. Mas depois de dois trimestres difíceis, com um crescimento do PIB quase nulo, o governo mostrou que o défice está controlado, que há um crescimento do emprego e um maior crescimento do PIB. Porquê? Porque o governo decidiu nas negociações do orçamento [do Estado] de 2016 aceitar o essencial do compromisso europeu com Bruxelas", refere o Presidente da República.
Já sobre a banca, o chefe do Estado sublinha que o governo enfrentou uma questão complexa, com muitos problemas simultâneos, mas que foram dados vários passos para a sua resolução: "Foram encaminhados vários assuntos, em dez ou onze meses". E como é que foi possível gerir toda esta situação com um governo minoritário com o apoio parlamentar de uma esquerda considerada radical e anti-sistema?, pergunta o próprio Marcelo. E responde: "Fizeram-no e superaram as expectativas iniciais, e para Portugal isso foi positivo. Agora há que ir mais além no crescimento e nas reformas estruturais na Administração".
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Questionado sobre a cooperação entre instituições, Marcelo fala então do apoio ao governo. E, admitindo "algumas iniciativas discutíveis" diz que "nas questões mais sensíveis houve a preocupação em convergir no essencial", apontando um "ambiente distendido, não tão crispado" e uma "boa cooperação entre presidente, governo e parlamento".
O Presidente da República mostra-se ainda confiante na resolução do problema entre Portugal e Espanha em torno da central nuclear de Almaraz: "Não há nenhuma família em que os irmãos, ou os cônjuges, não tenham um ponto, dois pontos de divergência. Não é um drama. Como é que se resolve? Dialogando".
Marcelo fala também dos populismos que alastram na Europa defendendo que "tudo o que seja fechar horizontes é uma visão condenada. Hoje, para muitos, é atrativa. Mas é errada a médio e longo prazo".