Lóbi LGBT do PS aceita veto de Marcelo à lei da identidade de género
Socialistas vão "acomodar" pedido do PR para mudança de género de um menor seja antecedida de um relatório médico. Principais defensoras da lei defendem
O PS vai "acomodar" na revisão da lei da identidade de género as reservas do Presidente da República e isso teve o acordo, na bancada, das principais dinamizadoras desse processo legislativo, Isabel Moreira e Catarina Marcelino, há muito ativistas das causas LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transsexuais).
Anteontem, Marcelo Rebelo de Sousa vetou a lei - ou seja, devolveu-a ao Parlamento sem promulgação -, por discordar da possibilidade de um menor (entre os 16 e os 18 anos) mudar de género (nos seus documentos de identificação) sem que, nesse processo, haja necessidade de um "relatório médico prévio à decisão". E avançou com duas razões.
Por um lado, "importa deixar a quem escolhe o máximo de liberdade ou autonomia para eventual reponderação da sua opção, em momento subsequente, se for caso disso" e "o parecer constante de relatório médico pode ajudar a consolidar a aludida escolha, sem a pré-determinar"; por outro, "havendo a possibilidade de intervenção cirúrgica para mudança de sexo, e tratando-se de intervenção que, como ato médico, supõe sempre juízo clínico, parece sensato que um parecer clínico possa também existir mais cedo, logo no momento inicial da decisão de escolha de género".
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Ontem Carlos César anunciou que o PS irá "acomodar" as reservas do Presidente da República. "O veto do senhor Presidente da República, na sua melhor leitura, significa a concordância em relação à iniciativa e ao seu conteúdo em geral. Dispõe apenas, no que toca à decisão que é tomada entre os 16 e os 18 anos, de associá-la à existência de um relatório médico, que nem sequer é um relatório de diagnóstico."
Falando ao DN, Isabel Moreira disse que o PR "viabilizou o essencial do diploma". Ou seja, Marcelo só quer, antes da decisão do menor, um relatório médico "apenas a atestar que a pessoa está em condições de liberdade e autonomia para decidir". Não tem de "atestar uma disforia de género ou questões de saúde ou patológicas, como o PSD e o CDS queriam". E mais do que isso.
Segundo a deputada, o relatório que o Presidente da República pretende "nem sequer tem de ser vinculativo". "Há espaço para nós [PS] pensarmos numa solução que acomode as pretensões do Presidente da República, sem que com isso a autodeterminação de género fique prejudicada."
Factor decisivo na posição de Isabel Moreira foi o facto de Marcelo ter dito na mensagem que o seu pedido "não se prende com qualquer qualificação da situação em causa como patologia ou situação mental anómala, que não é". O PR tambémafirmou que a sua "posição pessoal" é coincidente com a do Conselho Nacional de Ética e para as Ciências da Vida (contra a lei em geral) mas garantindo que isso não pesou no veto.
A lei foi aprovada com os votos favoráveis do PS, BE, PEV e PAN, os votos contra do PSD e do CDS, e a abstenção do PCP.