João Cravinho: Quem esteve nos governos de Sócrates "não tirou consequências"
"Sócrates como primeiro-ministro não se interessou pelo combate à corrupção", afirma o antigo deputado socialista
O antigo deputado socialista, João Cravinho, considera que os membros do Governo de José Sócrates se sentiram "fortemente incomodados" com as notícias que envolviam o antigo primeiro-ministro. "Mas essa questão do incómodo não teve quaisquer consequências políticas", registou em entrevista à TSF.
Atitude diferente teve o antigo ministro socialista que recordou o momento em que foi convidado por Sócrates para "fazer parte da lista da Comissão Nacional no último Congresso dele como Secretário-geral" e recusou. "Não estava de acordo de maneira nenhuma, achei que não devia estar nos órgãos do partido, sentia-me desconfortável com aquilo que eu já sabia do caso", admitiu aos microfones da rádio.
"Sócrates como primeiro-ministro não se interessou pelo combate à corrupção", considerou Cravinho, que recuou aos tempos em que era deputado na Assembleia da República.
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Ele [José Sócrates] não quis que se aperfeiçoasse o sistema e, por isso, ainda hoje o sistema de combate à corrupção anda sem rei nem roque
No parlamento, o socialista apresentou um pacote legislativo para prevenir e combater a corrupção, mas, lembrou, Sócrates foi uma das principais forças de bloqueio às medidas apresentadas "porque era ele que dava orientações à direção da bancada parlamentar do PS".
"Ele não quis que se aperfeiçoasse o sistema e, por isso, ainda hoje o sistema de combate à corrupção anda sem rei nem roque", considerou.
No meu íntimo, não tenho dúvidas nenhumas que os comportamentos de Sócrates como secretário-geral do PS, primeiro-ministro, como pessoa não são admissíveis
O antigo deputado socialista considera que é possível fazer-se uma avaliação política, ética e moral do comportamento do antigo primeiro-ministro tendo em conta a informação que o país já sabe.
"No meu íntimo, não tenho dúvidas nenhumas que os comportamentos de Sócrates como secretário-geral do PS, primeiro-ministro, como pessoa não são adequados, não são admissíveis", afirmou. "Não recomendo que esse tipo de comportamento faça parte do padrão de um futuro primeiro-ministro", acrescentou João Cravinho.
A poucos dias do congresso do PS, o ex-ministro do Governo de António Guterres defende que a reunião magna do partido não serve para discutir com profundidade a questão da corrupção. "Pode-se dizer em matéria de políticas futuras que nós não deixaremos de apurar as responsabilidades politicas, não deixaremos de fazer um juízo político, moral e ético sobre este tipo de comportamentos e de quem está envolvido", afirmou.