Islamita "raptado" pela ex-agente da CIA defende-a. É "bode expiatório"

Sabrina de Sousa foi condenada em Itália por ter raptado este extremista islâmico, que diz agora que a culpa não foi dela e que Sousa devia ser perdoada. O clérigo islamita não se recorda de alguma vez ter visto a ex-agente da CIA
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A ex-agente secreta Sabrina de Sousa aguarda em Lisboa a extradição para Itália, para cumprir uma pena de prisão de cinco anos pelo rapto do radical islâmico conhecido como Abu Omar, durante uma operação da agência norte-americana CIA. Mas numa entrevista ao jornal britânico The Guardian, Abu Omar afirma agora que Sabrina de Sousa devia ser perdoada pelo presidente italiano, e que está apenas a ser usada como "bode expiatório" por responsáveis mais altos da CIA, a agência de serviços secretos norte-americana que atua no estrangeiro.

Abu Omar, egípcio, vivia em Itália desde 2001, quando lhe foi concedido asilo político. Foi em 2003 que foi raptado por um grupo de agentes da CIA, que trabalhariam com o apoio das autoridades italianas, e posteriormente levado para o Cairo, onde foi interrogado e torturado. Em 2009, o tribunal italiano condenou Sabrina de Sousa, ex-agente da CIA com dupla nacionalidade norte-americana e portuguesa, a cinco anos de prisão pelo seu papel neste rapto, juntamente com outros 21 agentes da CIA e membros das autoridades americanas.

Todos os condenados tinham saído de Itália antes da decisão do tribunal em 2009, pelo que foram condenados à revelia. Alguns foram entretanto perdoados. Mas o mandado europeu de detenção de Sabrina de Sousa continuava em efeito quando a ex-agente da CIA foi detida no aeroporto de Lisboa. Após um processo em que os advogados de Sousa recorreram ao Supremo Tribunal e ao Tribunal Constitucional, ficou confirmado: a partir de 4 de maio, a antiga agente secreta será extraditada para Itália para cumprir a sua pena.

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É o próprio Abu Omar, porém, que agora se opõe a que Sabrina de Sousa, hoje com 60 anos, cumpra pena. "A Sabrina e os outros que foram condenados são bodes expiatórios", disse Abu Omar ao The Guardian. O clérigo islamita não se recorda de alguma vez ter visto Sousa. E acrescenta: "O governo norte-americano sacrificou-os. As pessoas no cimo da hierarquia é que estão a desfrutar da sua imunidade. Essas pessoas lá de cima, sem dúvida que deviam ser condenadas neste caso".

Abu Omar afirma que as 22 pessoas condenadas em Itália em 2009 eram bodes expiatórios para uma operação que partira de mais altas autoridades. A própria Sabrina de Sousa sempre disse que o seu único papel no rapto de Abu Omar fora enquanto intérprete numa fase muito inicial do processo, quando o nome do clérigo egípcio ainda nem sequer tinha sido mencionado em específico.

Abu Omar também defende Sabrina de Sousa, nas suas declarações ao The Guardian, por razões mais pessoais. Diz não desejar à mulher uma pena de prisão, visto que ele próprio cumpriu tempo na prisão e não é uma experiência que desejasse para alguém, "nem como amiga nem como inimiga". Acrescentou ainda ter empatia por Sousa porque esta foi apanhada pela polícia no aeroporto de Lisboa quando se preparava para ir visitar a mãe idosa e doente em Goa, onde nasceu.

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