Quantos precários há nas vossas redações, diretores?
"Quantos precários têm nas vossas redações", lançou a jornalista Margarida Neves de Sousa, há 21 anos na RTP, ao painel de diretores de órgãos de comunicação social, que ontem se sentaram no mesmo palco, o da Sala Manoel de Oliveira, no Cinema São Jorge, em Lisboa.
O microfone passou pelos 16 diretores que permaneciam no debate por esta altura. Paulo Dentinho, RTP: "A informação que tenho da administração é que serão 200 em toda a empresa", disse, esclarecendo não se trata apenas de jornalistas, mas também trabalhadores da produção e outros departamentos. Sérgio Figueiredo, TVI: "20% da direção de informação." João Paulo Baltazar, Antena 1: "Como diretor de informação nenhum, como gestor de recursos uma dúzia." Mafalda Anjos, Visão: "Quatro regulares, em 54." Pedro Camacho, Lusa: "Temos jornalistas com contratos de substituição, avença na rede nacional e internacional da agência." Paulo Baldaia, DN: "Nenhum." Arsénio Reis, TSF: "Na redação não temos, mas temos vários colaboradores à peça." José Manuel Ribeiro, O Jogo: "Quatro pessoas foram integradas, temos três e colaboradores à peça." Afonso Camões, Jornal de Notícias: "Temos seis, temos estado a resolver. Anteontem convertemos dois recibos verdes, foram integrados na redação." António Costa, Eco: "Não temos precários, temos quatro estágios profissionais." Vítor Serpa: "Três de estágios das universidades." Rui Hortelão, Sábado: "Temos de repensar o conceito de precário. Uma pessoa que ganhe o salário mínimo é precário. Tivemos dois aumentos neste ano." David Dinis, Público: "Havia três casos graves para resolver, coisa que estamos a fazer." Graça Franco, Rádio Renascença: "Temos quatro recibos verdes em 90." Miguel Pinheiro, Observador: "Não temos. Temos estágios profissionais, quando o contrato termina, vão embora ou fazemos contrato."
Questionado, Paulo Baldaia corrigiu a informação prestada anteriormente. "Temos dois contratos a termo. Findos estes, as pessoas serão passadas ao quadro."
Quatro diretores - Ricardo Costa da SIC, Raul Vaz, do Jornal de Negócios, Pedro Santos Guerreiro, do Expresso, e António Magalhães, do Record, não responderam por já terem deixado o debate no Cinema São Jorge. Vítor Rainho, do i e do Sol, faltou e Octávio Ribeiro, diretor do Correio da Manhã, recusou o convite para estar presente no painel. "Não é operativo neste contexto", justificou Carlos Rodrigues, da direção deste título, após a presença no primeiro painel do dia, dedicado ao estado do jornalismo.
Margarida Neves de Sousa considera as respostas eufemismos. "Vi grande parte como não respostas, usaram tantos eufemismos para classificar as situações precárias - colaboradores, jornalistas em rede, à peça, avença. Parece que não veem o mundo como nós vemos e como os estudos nos mostram, que há 50% de precários." Hoje, terceiro dia do congresso, um de 33 trabalhadores em situação precária da RTP fará uma comunicação sobre o assunto.
Dos 19 diretores, nove entraram em funções em 2016, só duas mulheres faziam parte deste lote e apenas um dos jornalistas iniciou funções no século XX, Vítor Serpa de A Bola, que confirmou no 4.º Congresso dos Jornalistas que está a preparar a transição para deixar o cargo que ocupa há 25 anos à frente daquele diário desportivo.