"O povo decidiu que há festa", disse à Lusa Maria João Lima Morais, "emocionada" com a designação do seu nome para comandar a próxima Festa dos Tabuleiros, uma das manifestações culturais e religiosas mais antigas de Portugal e que se realiza de quatro em quatro anos, numa decisão que parte sempre da decisão da população, tomada no ano anterior numa sessão convocada pela Câmara Municipal..A mordoma da festa disse à Lusa não conseguir precisar quantas pessoas compareceram à sessão de hoje à noite, assegurando que o Salão Nobre "encheu", com a presença de populares e de representantes de todas as 11 freguesias do concelho, cujo papel na construção da festa realçou..Maria João Morais sublinhou a "força, a garra, o brio" colocados pela população nesta festa, frisando que, tomada a decisão, começa o trabalho da confeção das flores para compor os tabuleiros, entre muitos outros detalhes que é necessário preparar..O nome de Maria João Morais, que pertencia já ao núcleo coordenador da festa que trabalhou com João Victal, o mordomo nas edições de 2007, 2011 e 2015 e que tinha declarado já a sua vontade de ceder o lugar, surgiu naturalmente, tendo sido colocado de imediato à votação por vários dos populares presentes..Entre as várias tarefas que tem em mãos, a mordoma terá que conseguir reunir os fundos necessários para a aquisição de todo o material necessário para a confeção dos tabuleiros, que na edição de 2015 totalizaram os 682..Maria João Morais disse à Lusa que, apesar do número crescente de jovens que se inscrevem nas freguesias para participar no desfile, o número atingido na última edição está próximo do limite possível, até pela dimensão da Praça da República, onde se concentram todos os participantes.."A festa começou hoje", afirmou, salientando o trabalho a fazer tanto nas freguesias como nas escolas do concelho, tendo em conta a realização do designado "cortejo dos rapazes", envolvendo as crianças do concelho..Segundo a mordoma, olhando para o calendário, é provável que a próxima edição da festa venha a acontecer no primeiro fim de semana de julho, culminando as "sete saídas das coroas", mas a data só será anunciada mais tarde..Milhares de tomarenses, da cidade e das freguesias rurais (nas juntas de freguesia, escolas, associações, lares, hospital), envolvem-se na confeção de flores de papel (para os tabuleiros e para enfeitar as ruas), dos tabuleiros e dos trajes..Os tabuleiros da festa de Tomar, únicos com esta forma nas tradicionais festas do Espírito Santo que se realizam um pouco por todo o país, têm na base um cesto de verga que é enfeitado com um pano bordado ou em renda..No cesto são espetadas cinco ou seis canas, dependendo da altura da rapariga que o vai transportar, que levam cinco ou seis pães (no total têm de ser obrigatoriamente 30), numa estrutura que é enfeitada com coloridas flores (papoilas e espigas são obrigatórias) e encimada com uma coroa que leva uma pomba branca ou a cruz da Ordem de Cristo..A rapariga traja de branco com uma faixa da cor dominante do tabuleiro que transporta à cabeça (com cerca de 10/11 quilogramas), cor que o rapaz usa também na gravata e na cinta que enfeitam o fato de camisa branca e calça preta..Com origem pagã, simbolizando a época das colheitas, a Festa dos Tabuleiros adquiriu caráter religioso na Idade Média, com a Rainha Santa Isabel..Dada a sua complexidade, a festa realiza-se de quatro em quatro anos, tendo havido apenas uma edição em que o povo decidiu adiar a sua realização por um ano, por coincidir com a Expo 98, evento no qual participou com um cortejo a convite do então Presidente da República, Jorge Sampaio.