Novo diretor da PJ: o "diplomata" e investigador implacável

Luís Neves, 53 anos, é elogiado pela oposição. Será diretor da PJ a partir de 15 de junho, substituindo Almeida Rodrigues, que liderou 10 anos aquela polícia
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Foi a segunda vez que Luís Neves, atual diretor da Unidade Nacional de Contraterrorismo foi convidado para liderar a Polícia Judiciária (PJ). A primeira por Alberto Costa, quando este foi ministro da Justiça, e não aceitou. Desta vez Francisca Van Dunem conseguiu convencer Luís Neves a liderar a PJ, uma polícia com muitos sucessos no combate ao crime violento, mas a passar pela sua mais grave crise de falta de inspetores e com o mais pesado aumento de sempre da idade média dos investigadores no ativo (47,7 anos).

Diz quem conhece Luís Neves, que se há alguém capaz de motivar e inspirar a desgastada Judiciária, é ele mesmo. "Incansável, determinado, implacável e às vezes obsessivo com as investigações. Não deixa ninguém desistir, mesmo que pareça que não há forma de provar o crime", revela um inspetor que trabalhou na UNCT.

Este nome escolhido pelo governo de António Costa tem a aprovação do PSD e do CDS, que elogiam o seu profissionalismo. "Um operacional que nunca vira a cara e um homem seguro na missão de nos dar confiança", sublinha Fernando Negrão, presidente da bancada social-democrata e que conhece bem Luís Neves do tempo em que foi diretor nacional da PJ. Nuno Magalhães, líder do grupo parlamentar do CDS, diz que o conhece "desde o Euro 2004 e é uma pessoa de elevada competência, com um curriculum invejável e que creio ter todas as condições para um ótimo mandato. Assim lhe sejam dados os meios necessários", assinala.

Foi no Euro 2004 que Luís Neves ganhou um cognome, que ainda perdura em alguns círculos: "o diplomata". "Nas reuniões com as outras polícias, tenta sempre fazer pontes, valorizar o trabalho de cada um", conta um oficial da GNR que pertenceu ao Sistema de Segurança Interna. "Mas a sua disponibilidade terminava no momento em que sentia que alguém tentava entrar no domínio das competências da PJ. Aí era e ainda é irredutível", acrescenta.

No seu histórico e da sua unidade são vários os exemplos dessa perseverança. Foi a este coordenador superior que o Ministério Público entregou o delicadíssimo caso do espião do SIS, entretanto condenado por vender documentos secretos à Rússia. A investigação da ETA em Portugal - que levou à condenação de um etarra - , o triplo-homicida "Rei Ghob", que conseguiu que fosse condenado à pena máxima, mesmo sem nunca terem aparecido os cadáveres, os cerca de uma centena de elementos dos gangues de assaltos a multibanco já detidos, a megaoperação que levou à condenação de 36 skinheads, em 2007, incluindo o líder Mário Machado, que só saiu no ano passado, são alguns exemplos de processos que tiveram a intervenção daquele que será o novo diretor da PJ. O assalto a Tancos é neste momento uma das investigações que mais deseja concluir.

Teve duas recentes intervenções públicas. Uma no congresso do sindicato dos inspetores, em abril, onde prometeu perseguir a "extrema-direita emergente e criminosa". Outra no congresso do sindicato do SEF, onde desenhou sorrisos no representante dos imigrantes, quando defendeu "a legalização e a integração como a melhor forma de combater os radicalismos".

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