Mourato Nunes: o general amigo a quem Costa tentou dar uma quarta estrela

Comissão Nacional de Proteção Civil já deu parecer favorável. General esteve na linha da frente no apoio a Costa para líder do PS
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No dia em que António Costa apresentou a sua candidatura a secretário-geral do PS, numa cerimónia na sede do Rato, em julho de 2014, o tenente-general Mourato Nunes esteve entre as primeiras figuras públicas a assumir o seu apoio ao atual primeiro-ministro. Aos 71 anos, aposentado há 11, a sua nomeação para presidente da Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC) teve de ser sujeita a uma autorização especial do ministro das Finanças, "por razões de interesse público excecional".

A projeção, em tempo recorde, da GNR no Iraque e em Timor-Leste, a criação do Grupo de Intervenção, Proteção e Socorro (GIPS) e a reorganização territorial desta força de segurança aconteceram sob a liderança deste oficial, que foi comando na Guerra Colonial. "Foi o general que mais notoriedade deu à Guarda e é considerado pela maioria como um dos melhores comandantes-gerais de sempre", afirma um oficial superior no ativo.

A ligação de António Costa e Mourato reforçou-se quando Costa foi ministro da Administração Interna e o tenente-general o comandante-geral da GNR. Foi nesta altura, em 2007, que Costa quis mudar a lei orgânica da Guarda para a transformar numa espécie de um quarto ramo das Forças Armadas e promover o comandante-geral a general de quatro estrelas, à semelhança dos chefes de Estado-Maior dos ramos. Cavaco Silva, na altura Presidente da República, vetou e não permitiu a promoção de Mourato Nunes.

Quando deixou a GNR, António Costa não lhe poupou elogios: "A lealdade, a irrepreensível postura ética, o sentido de dever, a frontalidade, a competência e o saber científico e técnico que soube traduzir nas relações de trabalho com o governo e em particular com o Ministério da Administração Interna, designadamente, a propósito do complexo e sensível processo de reestruturação da Guarda e do sistema de segurança, são reveladores da elevada estatura pessoal e profissional do tenente-general Mourato Nunes, em que sobressai o apego e o inquebrantável compromisso de inteira dedicação à causa pública e aos interesses do Estado e da nação", escreveu no louvor que lhe dedicou.

O seu desempenho como comandante-geral da GNR não deixou ninguém indiferente, pela positiva ou negativa, mas até um dos seus mais "fiéis" adversários da altura, o ex-presidente da Associação Profissional da Guarda (APG), José Manageiro, lhe reconhece competência. "Independentemente das muitas situações de conflito que tivemos, é um homem muito competente, com uma enorme capacidade de trabalho e gestão. Acredito que possa fazer muito bom trabalho na GNR", reconhece este dirigente associativo.

Há no entanto quem não esqueça a sua perseguição a um jovem tenente que denunciou negócios ilícitos na Escola da Guarda com o apoio de António Costa, então ministro. Foi também no seu reinado e com o seu aval que o governo adquiriu os polémicos helicópteros Kamov e que abriu "guerra" com a Marinha, quando comprou lanchas rápidas e radares para o controlo costeiro.

Desde a sua manifestação pública de apoio ao secretário-geral do PS, o seu nome foi algumas vezes falado, em círculos próximos de Costa, para cargos superiores na esfera da segurança, como o de secretário-geral do Sistema de Segurança Interna. A Comissão Nacional de Proteção Civil, um órgão de consulta do governo presidido pelo ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, emitiu esta segunda-feira um parecer favorável por unanimidade à nomeação do tenente-general Mourato Nunes como novo presidente da Autoridade Nacional de Proteção Civil.

[Notícia atualizada às 13:50 com parecer favorável da Comissão Nacional de Proteção Civil]

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