No ano passado morreram 44 pessoas com overdose alcoólica, com maior prevalência entre os 45 e os 54 anos. É um número surpreendente?.Não esperávamos tantas intoxicações tão agudas. O consumo de álcool tornou-se mais violento do que se esperava. Entre as pessoas mais novas está muito ligado à aventura. Nas pessoas mais velhas não sei se poderá estar associado a uma certa angústia dos últimos anos. Talvez tenha contribuído o desalento desta geração que é nova demais para deixar de trabalhar e velha para procurar trabalho. Nos últimos anos houve uma mudança de padrão, em que já não há um trabalho para a vida. Isso cria uma instabilidade que não é favorável a um estado de espírito tranquilo. As pessoas recorrem ao álcool que é um produto barato e acessível..Este tipo de consumo continua a ser demasiado bem aceite culturalmente?.Está enraizado no convívio social. É preciso trabalhar melhor a informação para que ela seja captada sobre o que é o consumo excessivo. Não é verdade que o consumo num jantar ou numa festa não é nocivo. Está provado que o consumo de grandes quantidades em poucas horas tem consequências, tantas ou mais graves do que o consumo em permanência. Há uma alteração de valores para desculpar o consumo. Há um esclarecimento que deve ser feito mais profundamente: o álcool invade todo o organismo. Atinge os sistemas pulmonar, digestivo, cardíaco, cerebral, na capacidade de concentração..A aposta no futuro deve ser na passagem desta informação?.As pessoas estão muito ligadas ao álcool como prótese para se relacionarem e os mais novos aprendem isso com os adultos. Falta formação na educação para aprenderem a fazer boas escolhas. Há outra questão que é fundamental: a densificação de locais onde se consome. As câmaras têm de ponderar esta questão e repartir estes espaços por diferentes locais da cidade. A concentração leva à competitividade que pode estimular o consumo de álcool.