CDS à frente do PSD seria uma "mudança brutal" do sistema

Politólogos dizem ser muito difícil o partido de Assunção Cristas suplantar o de Rui Rio e ser a principal força de centro-direita.
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"É possível, mas não é nada fácil". É assim que Carlos Jalali, especialista em sistemas políticos, enquadra a ambição de Assunção Cristas em tornar o CDS o principal partido de centro-direita em Portugal. Mas a acontecer, diz o politólogo, será uma "mudança brutal" do sistema político português.

E é fácil perceber o porquê do adjetivo "brutal", já que o CDS mesmo nas suas melhores prestações eleitorais nunca se aproximou do PSD. Só nas primeiras eleições legislativas, em 1976, sob a liderança de Freitas do Amaral, fundador do partido, conseguiu o seu melhor resultado e o mais próximo com os sociais-democratas : com 42 deputados, num Parlamento então com 263 lugares, dos quais 73 foram conseguidos pelo PSD de Sá Carneiro (ver gráfico).

Carlos Jalali sublinha que Assunção Cristas tem "potencial" a seu favor para fazer reforçar o peso do CDS, num momento em que o PSD parece não estar a capitalizar nas intenções de voto em relação ao PS e, no terreno simbólico, o facto de ter ficado à frente da candidata social-democrata, Teresa Leal Coelho, nas eleições autárquicas em Lisboa serve de referencial: "Nós podemos, o PSD não é imbatível."

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Mas adverte o professor da Universidade de Aveiro, há uma "diferença abissal das estruturas a nível nacional entre os dois partidos". O PSD tem uma máquina territorial implantada em todo o país e, mesmo apesar das perdas eleitorais, está representado em força nas câmaras municipais, o que diz, "ajuda a mobilizar o eleitorado". Aliás, a implantação territorial do CDS foi sempre um dos problemas do partido de Assunção Cristas, que sofreu a sua maior erosão durante mais de uma década de liderança cavaquista do PSD e do país. Durante as duas maiorias absolutas de Cavaco - a de 1987 e a de 1991 - o CDS encolheu de tal forma, com 4 deputados e depois cinco, que ficou conhecido como o "partido do táxi".

Nos anos em que concorreram sozinhos para a Assembleia da República, como acontecerá em 2019, os centristas nunca conseguiram (à exceção de 1976) sequer chegar à metade dos lugares conquistados pelos sociais-democratas. As melhores eleições foram as de 1983, sob a liderança de Lucas Pires, com 30 mandatos (PSD conseguiu 75) e os anos de liderança de Paulo Portas. Em 2009 o CDS conseguiu 21 deputados (81 para o PSD) e 24 em 2011(108 para PSD). Com Manuel Monteiro, em 1995, o partido recuperou do esmagamento da era cavaquista e recuperou 15 mandatos no Parlamento.

Mesmo que os resultados ao longo da história democrática portuguesa contrariem a líder centrista, ao pedir um CDS como principal força do centro-direita Assunção Cristas faz uma aposta sem riscos, na opinião de Carlos Jalali. "Os militantes do PSD não lhe vão cobrar se ela não ultrapassar o PSD e tudo o que conseguir é benéfico para o seu partido". Resta-lhe tentar convencer os eleitores deste espetro político que o voto útil no CDS é o melhor para uma alternativa ao PS e à esquerda.

António Costa Pinto considera que o CDS "tem uma janela de oportunidade " para cativar os "desiludidos" com a saída de Passos Coelho. Além disso, diz o investigador do Instituto de Ciências Sociais (ICS) o facto da nova direção do PSD ainda estar relativamente discreta e com uma mensagem ainda pouco clara para o eleitorado do centro-direita "dá margem ao CDS para crescer".

Para o politólogo, Assunção Cristas também tem a vantagem de ter uma imagem que pode captar um maior segmento de eleitorado do que o clássico conservador que costuma votar no CDS. Acresce que este eleitorado de centro-direita "dá por adquirida uma aliança eleitoral entre PSD e CDS se saírem vencedores das eleições", o que refere Costa Pinto, "dá margem de crescimento ao CDS já que o voto no partido não prejudica no fundamental essa aliança".

Mas o professor considera que só "perante um colapso do PSD seria pensável que o CDS aumentasse muito a sua margem eleitoral". E sublinha: "Há 40 anos que a representação do centro-direita está congelada nesses dois partidos, com intenções de voto nos 34 e 35%; ou seja têm grande margem para crescer os dois. Se for apenas um a crescer à custa do outro, significa que vão ambos perder as eleições de 2019."

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