Ginecologia do Hospital Sta. Maria quer fechar urgência dois dias por semana
A intenção é encerrar a urgência às terças e quintas feiras a todas as grávidas que não são acompanhadas no hospital.
O diretor do departamento de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, quer fechar a urgência da especialidade dois dias por semana já a partir de fevereiro. A intenção foi comunicada aos médicos do serviço na reunião da manhã de quinta feira, onde Calhaz Jorge explicou que, na sequência da saída de enfermeiros especialista, o objetivo é encerrar a urgência às terças e quintas feiras a todas as grávidas que não são acompanhadas no hospital. Fontes contactadas pelo DN explicam que para se tornar definitiva a proposta tem ainda de ser aprovada pelo Conselho de Administração e pelo próprio Ministério da Saúde, por implicar mexidas no encaminhamento de casos urgentes para outras unidades.
Segundo o que o DN apurou, a proposta prevê que as equipas se mantenham ao serviço mesmo nos dias em que a urgência de ginecologia-obstetrícia esteja fechada, disponíveis para prestar apoio à urgência central e às enfermarias do departamento. "Tudo isto é muito questionável eticamente. Então eu vou estar do lado de dentro da urgência e não vou atender grávidas a precisar de cuidados", questiona um elemento do serviço. "Isto para não falar na confusão que vai criar nas grávidas e nas grandes mudanças que implica no encaminhamento", acrescenta. O DN tentou, sem sucesso, obter explicações de Carlos Calhaz Jorge, diretor do departamento de Ginecologia e Obstetrícia do hospital.
Ao todo vão sair onze enfermeiros de saúde materna do maior hospital do país, a maioria no âmbito de um concurso para ocupação de vagas em centros de saúde, como o DN noticiou ontem. Tendo em conta dados do Movimento de Enfermeiros Especialistas em Saúde Materna e Obstétrica, o departamento de Ginecologia e Obstetrícia de Santa Maria fica agora com vinte enfermeiros, dez deles especialistas. Isto quando até agora tinha vinte especialistas, mais os generalistas. "Uma situação que agrava os receios dos médicos", relata Bruno Reis, porta voz do movimento.
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Mas fontes ouvidas pelo DN consideram que as alterações podem nem sequer entrar em vigor, tal como admitem o regresso da consulta de interrupção de gravidez, após o ambiente criado após as notícias do DN sobre a sua suspensão (ver texto ao lado). Isto porque a decisão final teria de passar pelo Conselho de Administração - cujo presidente, Carlos Martins, o DN tentou contactar ontem - e até pelo Ministério da Saúde. "A tutela tem uma palavra a dizer, porque no caso de encerramento da urgência tem de haver mexidas no protocolo de encaminhamento de grávidas dos Centros de Orientação de Doentes Urgentes (CODU), do INEM, e isso tem de ser validado centralmente", explica uma das fontes da área.
Centenas de enfermeiros de saída
O DN noticiou ontem que centenas de enfermeiros estão a trocar hospitais de norte a sul do país por centros de saúde, o que está a causar problemas nos serviços hospitalares. A saúde materna é precisamente uma das áreas mais afetadas por esta saída de profissionais, que vão ocupar a maioria das 774 vagas abertas nos cuidados primárias.
Ainda ontem, um dirigente regional do Algarve do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP) desafiou o primeiro-ministro a fornecer os "recursos necessários" para que os enfermeiros reforcem o Serviço Nacional de Saúde (SNS).