Schäuble: "Portugal tem de estar bem ciente de que pode perturbar os mercados"
O presidente do Eurogrupo também alertou para a possível necessidade de medidas orçamentais adicionais para cumprir metas da Europa
No dia em que os ministros das Finanças da zona euro discutem o orçamento português, perante um novo cenário de agitação nos mercados financeiros, o alemão Wolfgang Schäuble avisou que Portugal "pode perturbar os mercados", caso venha a "afastar-se" do rumo político que adotou nos últimos anos. O ministro de Angela Merkel considera que o governo "deve estar bem ciente" que isso o seria "delicado e perigoso" para o país.
"Estamos a observar os mercados financeiros e eu já disse que Portugal tem de estar bem ciente que pode perturbar os mercados, se der a impressão que está a inverter do caminho percorrido", disse o ministro à entrada para a reunião do Eurogrupo, alertando ainda que tal "seria muito delicado e perigoso para Portugal".
À chegada para a reunião do Eurogrupo, o presidente Jeroen Dijsselbloem alertou o governo português para "estar preparado" para avançar com mais medidas se no decorrer da execução orçamental isso se revelar "necessário". Mas, à entrada para a reunião do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem preferiu desvalorizar o facto de Bruxelas apontar "riscos" no projeto de orçamento.
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"É um procedimento normal, tendo em conta que o orçamento português não é o primeiro, nem é o único com o risco de incumprimento", disse o holandês que preside ao fórum dos ministros das Finanças da zona euro, considerando que não há razão para haver desconfiança em relação a Portugal.
"Ouvi que o novo governo disse em Lisboa que está muito comprometido com o Pacto de Estabilidade e Crescimento e com as regras orçamentais que temos. E, esse compromisso é muito importante. É um sinal de confiança, que nós esperamos ouvir do ministro hoje outra vez", afirmou.
Dijsselbloem entende ainda assim que o governo deve preparar-se para avançar com mais austeridade. "As regras básicas são sempre que Portugal deve estar preparado para fazer mais, se for necessário, para cumprir o pacto de estabilidade", disse Dijsselbloem, considerando ainda que o compromisso com as regras do pacto de estabilidade e crescimento é a melhor defesa para a atual agitação nos mercados financeiros.
Na véspera, o primeiro-ministro, António Costa, afirmou em Lisboa que preferia a versão inicial do Orçamento do que a final negociada com Bruxelas, mas frisou que, "acima de tudo", prefere ter a versão atual e continuar na zona euro.
"Se me perguntam se o resultado da negociação melhorou o Orçamento, não quero ser imodesto e digo não, porque a versão inicial preparada era melhor do que a final. Mas quem quer participar numa união, quem tem que partilhar regras comuns, tem que estar disponível para o compromisso, para ceder onde pode ceder, para não ceder onde não pode ceder e, ainda, para ganhar aquilo que tem de ganhar", disse o secretário-geral do PS numa sessão pública com militantes socialistas sobre a proposta de Orçamento do Estado para 2016.
Os ministros das Finanças da zona euro vão discutir hoje, em Bruxelas, o plano orçamental português para 2016, à luz da opinião da Comissão Europeia, que na semana passada aprovou o documento após intensas negociações com o Governo.
Portugal é um dos pontos em agenda na reunião de fevereiro do Eurogrupo, com os ministros das Finanças da zona euro a apreciarem hoje, finalmente, o projeto de Orçamento de Estado (OE) português - cerca de dois meses e meio após se ter pronunciado sobre os esboços de planos orçamentais dos outros Estados-membros do espaço monetário único -, assim como as conclusões preliminares da missão de vigilância pós-programa levada a cabo pela troika.
Com Lusa