O deslize de Dijsselbloem sobre a vitória de Centeno para liderar Eurogrupo
"Sou presidente até dia 12 de janeiro e Mário Centeno [assumirá o cargo] a 13", disse Dijsselbloem aos jornalistas, à entrada para a reunião do Eurogrupo para eleger o seu sucessor no fórum dos ministros das Finanças da zona euro, cargo para o qual o ministro português é candidato.
Percebendo o deslize, Dijsselbloem acrescentou: "Eu disse Mário Centeno? Claro que não sei isso, mas aparentemente está-me na cabeça".
"Por favor não me citem", pediu, numa declaração transmitida em direto.
O fórum de ministros das Finanças da zona euro elege esta segunda-feira, em Bruxelas, o seu novo presidente, com Mário Centeno, o candidato dos Socialistas Europeus, a surgir como favorito numa corrida a quatro à liderança do Eurogrup.
Mário Centeno concorre contra o luxemburguês Pierre Gramegna, o eslovaco Peter Kazimir e a letã Dana Reizniece-Ozola.
Ganhar à primeira volta
O ministro das Finanças, Mário Centeno, afirmou à entrada para a reunião do Eurogrupo, em Bruxelas, que o objetivo para a eleição de hoje do novo presidente "é obviamente ganhar", e se possível à primeira volta.
"O objetivo em qualquer eleição em que nos colocamos é obviamente ganhar. Fizemos o que tínhamos que fazer dentro do grupo dos países com governos sociais-democratas (socialistas), depois conversando de forma muito aberta com os outros grupos políticos", afirmou aos jornalistas, à chegada à reunião.
Questionado sobre se conta triunfar logo na primeira volta da votação, sorriu, admitiu que "seria um bom resultado", e comentou que "qualquer candidato que seja eleito à primeira volta num processo destes tem obviamente uma posição se calhar reforçada".
No entanto, sublinhou, o que Portugal considera "que é muito importante" é que no final, qualquer que seja o resultado a que se chegue, todos possam reconhecer "que esse resultado reflete a opinião do grupo de países que está sentado à volta da mesa, neste caso os 19 membros do Eurogrupo".
Centeno apontou que, para já, "o principal objetivo" é participar e poder transmitir aos seus colegas a sua posição sobre como vê "quer a condução do Eurogrupo, quer a condução das políticas e destas reformas que se desenham na Europa".
"Hoje é um dia importante para o Eurogrupo, vamos eleger um novo presidente que terá uma responsabilidade significativa, dado o facto de estarmos a iniciar um novo ciclo politico em muitos países na Europa", disse, acrescentando que todos reconhecem a importância do momento "para lançar um processo de reformas que completem algumas das instituições-chave da área do euro que todos também" identificam "como não estando completas, começando seguramente pela união bancária".
Mário Centeno recordou que sempre disse que a sua candidatura só avançaria se estivesse "sustentada na formação de consensos, numa plataforma e agenda que permitisse avanços significativos na área do euro", e disse que é isso que espera "no caso de ter sucesso".
"É muito importante fazer notar a enorme cooperação que desde o princípio, mesmo quando estávamos um pouco mais a ser analisados de um ângulo menos positivo, tivemos com as instituições europeias, com os meus colegas do Eurogrupo. Nós apresentámo-nos sempre numa posição de construção e de credibilização do país dentro da UE e em particular na área do euro, e foi aliás isso que possibilitou que hoje estivéssemos aqui neste processo", sustentou.
Essa foi a principal mensagem que o candidato português expressou nas declarações que fez em inglês, à chegada à reunião, quando questionado pelos jornalistas de órgãos de comunicação social estrangeiros sobre a sua candidatura.
"Mostrámos a todos que podemos alcançar consensos, podemos trabalhar com outras partes, com as instituições. Portugal é um exemplo disso ultimamente, por isso penso que estou numa boa posição", afirmou.
O fórum de ministros das Finanças da zona euro elege hoje, em Bruxelas, o seu novo presidente, com Mário Centeno, o candidato dos Socialistas Europeus, a surgir como favorito numa corrida a quatro à liderança do Eurogrupo.
Moscovici quer um presidente que marque golos, seja ele Ronaldo ou Messi
O comissário europeu dos Assuntos Económicos, Pierre Moscovici, defendeu à entrada para a reunião do Eurogrupo que o importante é que o presidente hoje eleito seja capaz de "marcar golos, seja ele Ronaldo, Messi, Griezmann ou Benzema".
Em declarações à entrada para a reunião do fórum de ministros das Finanças da zona euro, em Bruxelas, na qual vai ser eleito o terceiro presidente do Eurogrupo -- entre Mário Centeno, o luxemburguês Pierre Gramegna, o eslovaco Peter Kazimir e a letã Dana Reizniece-Ozola -, Moscovici lembrou que, embora tenha lugar à mesa, "são os (19) ministros que vão votar", e garantiu que trabalhará "muito bem" com quem quer que seja eleito, ainda que admita ter uma "preferência pessoal", por Mário Centeno, ainda que sem a assumir.
O comissário francês disse não ser difícil adivinhar a sua "preferência pessoal", pois não é segredo a família política à qual pertence, a dos Socialistas Europeus, "e sabe-se que essa família política adotou uma posição" (de apoio a Centeno, na reunião celebrada em Lisboa entre sexta-feira e sábado passados), mas vincou que o importante é que o Eurogrupo tenha um novo presidente tão eficaz quanto os dois anteriores.
Recordando que o Eurogrupo teve até agora dois presidentes, Jean-Claude Juncker e Jeroen Dijsselbloem, comentou que ambos têm "personalidades e estilos diferentes, mas ambos conseguiram marcar golos, para usar uma metáfora futebolística", e o importante é que assim continue, "seja com Ronaldo, Messi, ou Griezmann ou Benzema", afirmou, juntando às "estrelas" de Portugal e Argentina nomes de dois futebolistas seus compatriotas.
Há meses, o antigo ministro alemão Wolfgang Schäuble "batizou" o ministro Centeno como "o Ronaldo do Ecofin", alcunha desde então muitas vezes utilizada nos corredores do Eurogrupo.
Pierre Moscovici preferiu enunciar aquelas que considera deverem ser as três grandes prioridades de quem for hoje eleito: aproveitar o bom momento que a zona euro atravessa para aprofundar a união económica e monetária; trabalhar com vista à conclusão atempada, no próximo verão, do programa de assistência à Grécia; promover a democratização e transparência do Eurogrupo.
"Estes desafios exigem uma liderança forte. Qualquer dos quatro candidatos -- e conheço-os a todos e gosto deles todos -- que vença a eleição de hoje pode contar com o meu forte apoio nos importantes meses que se seguem para a zona euro. E atuaremos como uma equipa, para fazer face aos desafios e discussões que nos esperam", declarou.
(Nota da redação: Mário Centeno foi mesmo eleito líder do Eurogrupo, horas depois)