A proposta do Bloco de Esquerda para uma nova lei de bases da Saúde baixou hoje a comissão parlamentar sem ir a votos, uma forma de ultrapassar o previsível chumbo da proposta face à anunciada abstenção do PS e o previsível voto contra das bancadas da direita. Uma decisão tomada, nas palavras do líder parlamentar bloquista, Pedro Filipe Soares, "para que não seja o PS a ajudar a direita a rejeitar a proposta de António Arnaut"..A discussão segue agora em setembro, altura em que será apresentada a proposta do grupo de trabalho nomeado pelo governo, e liderado pela ex-ministra da Saúde Maria de Belém Roseira, que na última terça-feira divulgou já uma versão preliminar do documento. Para o Bloco de Esquerda, trata-se de uma proposta "insuficiente", que deixa quase tudo na mesma."Mantém a mesma formulação de investimento, mantém as taxas moderadoras, mantém as parcerias público-privadas", apontou o deputado bloquista Moisés Ferreira. E deixou um recado aos socialistas: "Uma nova lei de bases não pode ser um exercício de cosmética ou um jogo de palavras"..O documento a apresentar por Maria de Belém Roseira constituirá a base de uma iniciativa legislativa do PS. Num sinal para a esquerda, Maria Antónia Almeida Santos, deputada e porta-voz do PS, fez questão de sublinhar hoje que o texto que os socialistas levarão ao parlamento não seguirá necessariamente à risca as recomendações do grupo de trabalho. E garantiu, como pretende o BE, que esse trabalho será feito "nesta legislatura"..A proposta do PS irá assim, juntar-se à do Bloco de Esquerda, numa discussão que contará igualmente com iniciativas do PCP, anunciadas hoje pela bancada comunista. Também o CDS avançará com propostas para uma nova lei de bases da Saúde..Mas, como deixou claro o debate parlamentar desta manhã, BE e PCP olham com desconfiança para as intenções dos socialistas, questionando o PS sobre se quer um consenso à esquerda ou fazer aprovar uma nova lei de bases da saúde com o PSD - o líder social-democrata, Rui Rio, já deu sinais de concordância com a proposta preliminar apresentada esta semana..E o próprio PS desafiou a esquerda para uma convergência, mas não deixou de assinalar as palavras de Rui Rio e de questionar se os sociais-democratas estão disponíveis para discutir uma nova lei de bases da Saúde..A Lei de Bases da Saúde proposta pelo Bloco de Esquerda, que hoje esteve em discussão no parlamento, tem como base o trabalho desenvolvido pelo socialista António Arnaut, considerado como o pai do Serviço Nacional de Saúde (recentemente falecido) e o bloquista João Semedo..No documento, o BE propõe um SNS público e gratuito, sem taxas moderadoras, e só admite o recurso a serviços privados com "caráter supletivo", ou seja, quando o próprio Serviço Nacional de Saúde não possa garantir a prestação de cuidados médicos, o que implicará o fim das parcerias público-privadas na área da Saúde.