Edgar Silva: "Defender os trabalhadores não é uma nota de rodapé"

O candidato comunista não deixou de notar que Passos Coelho até concorda consigo, quando diz que Cavaco e Marcelo não são assim tão diferentes.
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Edgar Silva rumou a norte esta tarde, fora da zona de "conforto" do PCP, onde quis mostrar exemplos de casos de quando "há luta dos trabalhadores eles conquistam os seus direitos". Primeiro foi uma fábrica de cabos de aço, na Maia, a Ficocables. "As mulheres aqui trabalham oito horas seguidas, a maioria sempre de pé, apenas com 15 minutos para uma 'bucha'. O ordenado médio é cerca de 580 euros", explica Luís Pinto, coordenador do Sindicato das Indústrias de Transformação, Energia e Ambiente (Site-Norte), afeto à CGTP. O candidato comunista estava à porta, na mudança de turno. São duas da tarde e as mulheres que entraram às seis da manhã começam a sair, surpreendidas com o aparato televisivo. Umas aceitam, com sorrisos, o panfleto que lhe é entregue por Edgar Silva, outras seguem caminho sem olhar.

A unidade tem 800 trabalhadores, dos quais cerca de 700 são mulheres. Apenas pouco mais de 200 são sindicalizados, metade no Site, outra metade na organização afeta à UGT. "O nosso trabalho tem sido muito dificultado aqui", reconhece Luís Pinto. Uma das mulheres que saiu vem ter connosco, diz-nos o seu nome e pede para não divulgarmos. Tem perto de 50 anos e trabalha todo o dia de pé. Tem tendinites e muitos problemas de costas, o que é "normal em todas" as operárias, diz-nos. "Uma vez fui a um ortopedista que, depois da consulta me disse, a abanar a cabeça, 'nem a um cão se obriga a estar oito horas de pé. Se calhar é isso que pensam que somos. Quando perguntamos se é sindicalizada ou se já se juntou a algum protesto, afirma, encolhendo os ombros: "É a vida. a gente já está calejada".

O tema deste quarto dia de campanha é a "valorização do trabalho e mostrar que a luta traz vantagens aos trabalhadores", sublinha a porta-voz da candidatura, à entrada da outra fábrica, a Sakhti."A luta traz vitórias civilizacionais", sublinha. Segundo a organização da campanha, esta unidade industrial, é "um exemplo de há muitos anos, de como o diálogo entre sindicatos e trabalhadores, e a determinação da luta, produzem resultados". Edgar Silva salienta aos jornalistas que "a defesa do trabalho e dos direitos dos trabalhadores como motor de desenvolvimento do país não é apenas uma nota de rodapé" na sua candidatura "é um vetor fundamental".

No final, não resistiu, como um sorriso nos lábios, a dar nota que tinha reparado que Pedro Passos Coelho até concordava em parte com ele, a propósito de semelhanças entre Cavaco Silva e Marcelo Rebelo de Sousa. "Passos Coelho veio dizer hoje (em entrevista à Rádio Renascença) que não há diferenças fundamentais entre Cavaco Silva e Marcelo Rebelo de Sousa, a natureza das suas políticas e da conceção que têm do papel o Presidente da República é o mesmo". Recorda que ambos defenderam uma revisão constitucional que terminava com a inconstitucionalidade do despedimento sem justa causa. Salienta também que hoje, na Madeira, onde esteve Marcelo, "o presidente do governo Regional, Miguel Albuquerque, assumiu mesmo o seu apoio a este candidato, dizendo que não valia a pena disfarçar".

A terminar o roteiro da tarde, o candidato presidencial quis deixar outro "bom exemplo" nos resultados da "valorização dos trabalhadores" e marcou presença na fábrica de pneus Continental Mabor, uma das mais competitivas do mundo, neste setor. Tem cerca de 1700 trabalhadores e o salário médio ronda os 1100 euros. A esmagadora maioria dos operários sai de carro da fábrica, de um vasto parque de estacionamento. Ao lado de Edgar Silva, estava Joaquim Daniel, trabalhador desta unidade e mandatário do distrito de Braga, que explicou porque "é bom" trabalha ali: "é percetível verificar que quando os trabalhadores são valorizados e quando há investimento tecnológico, a produtividade aumenta", sublinhou, "há um diálogo permanente entre as estruturas sindicais e a administração, todos os anos são negociados os aumentos e o resultado está a vista".

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