Dos quatro argelinos que invadiram a pista do aeroporto de Lisboa no sábado dois estavam impedidos de entrar em França e um em Espanha. A falha de segurança que permitiu a invasão da pista vai ser investigada pela Autoridade Nacional de Aviação Civil (ANAC)..Foi uma "falha grave a que permitiu que quatro argelinos que chegaram a Lisboa num voo de Argel, às 19.34 de sábado, tenham conseguido invadir a pista do Aeroporto Humberto Delgado numa fuga desesperada por não terem visto para permanecer em Portugal", afirmou ao DN António Nunes, presidente do Observatório de Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo (OSCOT)..O DN soube junto de fonte da hierarquia da PSP que será a ANAC a averiguar se o protocolo de segurança do aeroporto foi cumprido pelas várias entidades: polícia, funcionários, elementos da segurança aeroportuária e outros..Esta não foi a primeira vez que alguns destes cinco argelinos (um não chegou à pista e foi detido pelo SEF) tentaram entrar no espaço europeu. Como apurou o DN junto do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, dois já tinham tido parecer negativo para obter um visto de França e um outro tinha interdição de entrada em Espanha. O que se mutilou com uma lâmina quando percebeu que ia ser detido não tinha qualquer interdição de entrar no espaço europeu. O elemento do grupo que não chegou à pista foi ontem repatriado para a Argélia..Esta não foi a primeira falha de segurança no aeroporto. Em maio, o angolano Gima Calunga foi condenado por invadir a pista munido de uma faca mas foi ilibado da suspeita de terrorismo. Desde essa situação, a PSP adotou novos procedimentos de segurança. Após os atentados de Paris, em novembro, houve um reforço policial, com elementos da Unidade Especial de Polícia armados de metralhadoras e com coletes à prova de bala..Duas versões para a fuga.Os argelinos seguiam num voo de ligação para Cabo Verde (tinham o arquipélago africano como destino final) e conseguiram escapar ao controlo e aceder a zonas interditas - quatro correram pela pista, onde acabariam por ser detidos após uma perseguição por agentes da PSP. Poderá ter havido aí uma falha dos elementos da segurança aeroportuária, adiantou fonte policial..Mas o DN também apurou que o acesso do grupo de argelinos à pista pode ter sido tão simples como terem entrado no autocarro à saída do voo e, em vez de seguirem para a gare de forma a fazerem a ligação com o avião que os levaria a Cabo Verde, fugiram. Nenhum tinha visto, nem para Cabo Verde nem para ficar em Portugal..[artigo:5315546].Como os bilhetes de avião dos argelinos tinham como destino oficial Cabo Verde, as autoridades não lhes solicitaram vistos para Portugal quando embarcaram em Argel. O objetivo seria tentar escapar às autoridades em Lisboa após a aterragem ou, caso chegassem a embarcar para Cabo Verde - e uma vez que também não tinham autorização para lá permanecer -, serem depois repatriados para Portugal, onde voltariam a tentar a fuga..Os quatro argelinos serão hoje ouvidos em tribunal. Os documentos com que viajavam são verdadeiros e não revelaram qualquer ligação a grupos terroristas.."Há voos de maior risco".António Nunes lembra que a situação instável que a Europa e o mundo vivem hoje "exige que a segurança nos aeroportos seja avaliada em todos os quadrantes. Há voos de maior risco, como é o caso dos oriundos de países do Norte de África, como era o caso"..Para o presidente do OSCOT, "é fundamental haver maior isolamento de áreas nos aeroportos e investir numa maior presença de efetivos, sejam da PSP ou da segurança privada". António Nunes critica que "não se empenhem o número adequado de meios humanos e de videovigilância para acompanhar todo o processo, que tem de ser mais preventivo do que reativo". E considera que "a avaliação do plano de segurança do aeroporto devia ser feita por entidades externas"..Aeroporto encerrado meia hora."As operações estiveram encerradas durante 34 minutos no sábado e foram desviados seis voos para Faro, cinco para o Porto e um para Madrid", afirmou Rui Oliveira, porta-voz da ANA - Aeroportos de Portugal. O mesmo problema esteve na origem de alguns atrasos em voos com partida de Lisboa na noite de sábado. Centenas de pessoas ficaram retidas nos aviões que esperavam ordem para descolar.