Chefe do Exército mantém a confiança nos oficiais exonerados

Posição foi assumida na reunião da estrutura superior do Exército, onde o ambiente ao nível de oficiais superiores está "agitado".

O chefe do Estado-Maior do Exército (CEME) expressou, na reunião de segunda-feira da estrutura superior do ramo, "a sua máxima confiança" nos cinco comandantes que exonerou no sábado, após o roubo de material de guerra em Tancos.

A informação consta do documento distribuído ontem internamente, a que o DN teve acesso, para dar a conhecer à estrutura do Exército e de forma sintética o que foi dito em cada um dos diferentes pontos abordados.

No ponto 1, sobre o assalto ao Paiol Nacional de Tancos, o documento informa que o general Rovisco Duarte disse que "foram tomadas decisões difíceis, designadamente a exoneração de cinco comandantes das unidades com responsabilidades na segurança" daquela área, "reiterando que esta medida não deve ser interpretada como uma atribuição de culpabilidade dos referidos oficiais, relativamente aos quais sublinhou a sua máxima confiança, mas antes criar melhores condições para o desenvolvimento dos processos de averiguações".

Um oficial próximo do CEME, que é ouvido na quinta-feira pela comissão parlamentar de Defesa, assegurou ao DN que o general "não está incomodado" com haver quem pense que a sua decisão de exonerar os cinco oficiais superiores possa resultar de quaisquer pressões de natureza política. Nesse sentido, esta fonte lembrou a decisão tomada pelo general Rovisco Duarte aquando das investigações às mortes de dois instruendos do curso de Comandos: retirou o inquérito da esfera do Regimento e atribuiu-a ao Comando das Forças Terrestres, com isso demonstrando a vontade do Exército em ter "uma investigação isenta" aos acontecimentos.

Certo é que os comandantes das unidades responsáveis pela segurança dos paióis de Tancos foram mesmo exonerados, pelo que a sua renomeação para os cargos ou punição disciplinar resultará do que disserem os inquéritos.

A verdade é que o ambiente interno continua agitado e em especial ao nível dos oficiais superiores devido à exoneração dos cinco comandantes, segundo fontes militares ouvidas pelo DN sob anonimato por não estarem autorizadas a falar.

A exoneração daqueles militares, que justificara uma manifestação de apoio marcada para hoje frente ao Palácio de Belém e que foi desmarcada ontem, levou também o tenente-general Faria Menezes, comandante operacional do Exército e responsável direto por quatro dos oficiais exonerados (bem como pela área da segurança das unidades militares), a escrever nas redes sociais: "A quebra do vínculo sagrado da confiança entre comandante e subordinado viola os princípios e valores que perfilho. Tenho total confiança nos meus comandantes, que constituem um exemplo de abnegação e disciplina."

"Sou sempre responsável pelos atos praticados no cumprimento das missões que determino. Só assim se desenvolve a iniciativa e a liderança responsável e se cimenta a necessária coesão. Só assim se preside de cara lavada à formatura da parada. Honremos com responsabilidade a Espada de Ourique", acrescentou o general Faria Menezes - que hoje participa, em Coimbra, na cerimónia de receção do batalhão que esteve destacado no Kosovo e que é presidida pelo Chefe do Estado e Comandante Supremo das Forças Armadas, Marcelo Rebelo de Sousa.

O ministro da Defesa tem sido alvo de fortes críticas nos últimos dias por ter dito que assumia a responsabilidade política pelo assalto aos paióis de Tancos - mas sem fazer corresponder essa declaração com qualquer ato público equivalente.

Marcelo em Tancos

De surpresa, o Presidente da República convocou ontem o ministro da Defesa e os dois chefes militares do Exército - o chefe do Estado-Maior-General, general Pina Monteiro, e o CEME - para uma reunião nos paióis de Tancos.

"Foi muito útil e importante em termos informativos a vinda cá. É completamente diferente ter a noção distante e outra coisa é vir ao terreno", disse Marcelo Rebelo de Sousa, citado pela Lusa, no final da visita - que foi "também ocasião para apoiar a investigação em curso e apoiar e incentivar aquilo que venham a ser os passos seguintes na investigação".

Horas antes, em Castanheira de Pera, o Comandante Supremo das Forças Armadas exigiu "uma investigação total" ao caso e que se traduz em algo "muito simples: tem de se apurar tudo, de alto a baixo, até ao fim, doa a quem doer".

Quem se está a queixar de falta de informação são os deputados da comissão de Defesa, que ontem aprovaram por unanimidade as audições do CEME e do ministro da tutela, Azeredo Lopes (este à porta aberta e, em princípio, na sexta-feira).

Para já, os ministros dos Negócios Estrangeiros (em substituição do chefe do governo), da Defesa, da Administração Interna e da Justiça participam hoje numa reunião conduzida pela secretária-geral do Sistema de Segurança Interna e em que participam os principais responsáveis do Ministério Público, das Forças Armadas e das forças e serviços de segurança.

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