"Causadores não devem sair impunes"
Em que medida é que esta acusação prejudicou o seu trabalho e a sua reputação?
A minha vida ficou congelada. Eu e o professor Johnson deixámos de escrever artigos, despedi-me da Salute Capital e renunciei ao cargo na administração. Não se pode trabalhar no setor financeiro quando se tem um processo-crime sobre a cabeça. Deixei de escrever sobre política económica. E gastei uma pequena fortuna em apoio legal e custos processuais.
Quando vai avançar com a ação contra o Estado?
Ainda não decidi quando ou o valor da indemnização a pedir, mas vou avançar por dois motivos: primeiro, pelo que gastei neste processo e por considerar que ele nunca deveria ter existido; segundo, porque a integridade das instituições exige que as pessoas ajam quando as ações não são adequadas. É tentador simplesmente esquecer, mas as pessoas que causaram isto não devem sair impunes. Não podemos permitir que reguladores e procuradores usem os seus poderes para fins políticos, vinganças e experiências. O que receber além do que gastei em custos legais será doado para caridade.
Acredita que a acusação que lhe foi movida tinha por intenção dissimular o que estava a acontecer em Portugal?
Não sei o que levou a esta investigação, mas acredito que alguns responsáveis portugueses estavam zangados por eu e o professor Johnson, tal como muitos outros, termos criticado as suas políticas. Foi a primeira vez que nos acusaram de enganar os leitores para obter ganhos. Ironicamente, os posts sobre Portugal revelaram-se os mais certeiros (...) Além das críticas públicas que nos foram feitas pelo então ministro das Finanças, também o ex-Presidente falou contra nós. E a investigação da CMVM começou cinco dias depois de sair o artigo. Alguma coisa levou o regulador a mexer-se tão depressa.
Tinha algum tipo de interesse em manipular a dívida?
Não. Eu dava conselhos de investimento. O meu objetivo era prever de forma certeira o que iria passar-se.