Alentejanos do PCP dividem despesas para viajarem a Almada

Ninguém ficará a pé para ir à reunião magna comunista: despesas e viaturas serão partilhadas entre os 400 militantes
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A mobilização alentejana está feita e ninguém vai ficar a pé. Seja no Alandroal, Grândola, Odemira ou Cuba. Militante comunista ou "amigo do partido" que queira marcar presença no XX Congresso do PCP tem transporte garantido até Almada durante os três dias de reunião magna (que se realiza a partir de amanhã até domingo).

A organização das viagens está em fase adiantada. Terá começado há umas semanas, sobretudo nos concelhos onde os transportes públicos vão sendo uma miragem.

A maioria dos cerca de 400 alentejanos - segundo estimativas das estrutras locais -, oriundos dos distritos de Évora, Beja e Portalegre, deslocam-se em viaturas privadas e dividem despesas. Do combustível às portagens (se as houver) passando pelas refeições. Um velho hábito por essas paragens.

Para o último dia estão reservados autocarros a partir de várias zonas da região, engrossando a assistência para a sessão de encerramento, onde falará o secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa.

Ir e vir no mesmo dia

"A ideia é irmos e virmos todos os dias. Mesmo os militantes do Alandroal (a 170 quilómetros de Almada), que são os que estão mais longe, vão dormir a casa", explica ao DN Diamantino Dias, dirigente comunista em Évora, distrito onde o PCP voltou a garantir hegemonia nas últimas autárquicas, conquistando mesmo a câmara da capital ao PS. É de lá que vão viajar cerca de 150 militantes, 60 dos quais delegados ao congresso.

E quanto ao espírito da comitiva? Diamantino não esconde que a viagem até às margens do Tejo tem o seu quê de "convívio" que também incentiva ao "toca a rebate" em torno dos ideais comunistas, mas é a análise política quem mais ordena. "Uma elevada responsabilidade para quem vai estar ali, numa altura em que o mundo passa um momento tão complicado", justifica, admitindo por isso que, para já, as eleições autárquicas agendadas para 2017 deverão passar ao lado da discussão.

Também pelo Litoral Alentejano está tudo a postos. Irão mais de 100 pessoas até Almada, com a vida mais facilitada comparativamente com os camaradas dos concelhos do Alentejo Central mais afastados do palco do congresso. Quem mora em Grândola, por exemplo, está a uma hora de casa. "Já articulámos tudo entre nós. Quem tem carro dá boleia aos outros e dividimos tudo", revela o dirigente Manuel Valente, enquanto aproveita a "deixa" para revelar um dos temas mais caros junto dos comunistas de Grândola, Alcácer do Sal, Santiago do Cacém e Sines.

"A falta de transportes públicos na região é uma coisa incrível", diz, olhando ainda para o mau estado das estradas da região. Dá o exemplo do acesso ao Porto de Sines, onde diariamente passam centenas de camiões ou do IC1, repleto de buracos e rodeiras entre Alcácer e Grândola. "O congresso também serve para isto e não deixaremos de levantar este problema. É o nosso maior problema", diz o dirigente.

Contudo, há militantes do litoral que não terão necessidade de ida e volta diária, uma vez que têm alojamento à espera na casa de familiares. "Em Almada e no Barreiro moram muitas pessoas de cá, que há décadas foram para ali trabalhar na indústria. Claro que esses têm onde dormir."

Partido mais velho e com mais mulheres

O PCP é hoje um partido mais envelhecido, com mais mulheres e menos operários, segundo os dados revelados nas Teses ao XX Congresso - e também menos militantes, depois de uma "ação de contacto com os membros do Partido". Hoje são 54 280 militantes, eram 60 484 em 2012, no conclave anterior. A maioria destes militantes comunistas são operários (39%) e empregados (32%). Em 2012, os operários eram

41% (e este número já estava em queda, admitia o Comité Central), enquanto que os empregados eram 31%. Em termos etários, o PCP tem 15% de militantes com menos de 40 anos (tinha 16% há quatro anos); 41% (eram 45%) têm entre 41 e 64 anos e 44% (eram 39%) mais de 64 anos. Onde o PCP cresce - ainda que timidamente - é entre as mulheres, "ultrapassando os 31% dos membros do partido". Em 2012 eram 30,1% do total.

PCP tem 2542 organismos em atividade

O PCP indica, nas mesmas Teses ao XX Congresso, que decorre a partir de amanhã em Almada, que existem 2542 organismos no partido, no que é uma "ligeira redução", e por onde passa muita da mobilização para as suas atividades partidárias. Estes organismos incluem também "organizações não estruturadas, que reúnem em plenário e comissões para frentes de trabalho, das quais 354 são organismos de empresa, local de trabalho ou setor, e 616 são organismos a partir dos locais de residência".

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