A mãe e as crianças almoçaram com os avós e não voltaram
Almoçaram com a mãe e avós, as crianças que terão morrido segunda-feira no mar em Caxias. A mulher, que vivia com a madrinha em Castanheira do Ribatejo, deslocou-se a casa dos pais, na Amadora, e saiu com as filhas depois da refeição sem levar os medicamentos e o saco destas. Isso e o facto de tardar em chegar preocupou os familiares que pediram para contactar o ex-companheiro. Mais tarde perguntaram-lhe a matrícula do carro da filha. Só no dia seguinte o pai terá sabido da tragédia. A PJ investiga o crime de homicídio das duas meninas, de 19 meses e quatro anos. O Ministério Público averigua a consistência da queixa de abusos sexuais por parte do pai.
O pai das crianças, Nelson, de 35 anos, técnico de audiovisuais, já foi ouvido pela PJ que investiga o que terá acontecido na noite de segunda-feira na praia de Giribita, entre Caxias e Paços de Arcos. E a hipótese que está sobre a mesa é do homicídio das duas crianças, uma de 19 meses cujo corpo foi encontrado na areia e outra de quatro que ainda não foi encontrada. Os mergulhadores vasculharam ontem as rochas e hoje atuarão mais diretamente no mar. Confrontado com a queixa de violência doméstica e de abuso sexual por parte do homem, fonte policial sublinhou que, para já, se investiga a consistência da mesma.
A mulher foi encaminhada para o Hospital de Santa Maria. O DN apurou que está internada no serviço de psiquiatria com sinais de depressão e que é provável que tenha alta hoje. Elementos da PJ foram ao hospital mas a mãe não estava em condições para prestar declarações.
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Um taxista, que teve necessidade de parar na marginal, deu o alerta na segunda-feira para a Capitania do Porto de Lisboa, disse ao DN o comandante Malaquias Domingos. Explica que "o homem teve que fazer três telefonemas para perceberem o que se tinha passado, tal era a situação com que se tinha deparado". "Uma mulher em pânico na água, a quem ajudou e que lhe contou que estava com duas crianças". Eram 21:05 de segunda-feira e dez minutos depois estavam no local para assistir a mãe em hipotermia, Sónia, de 37 anos, desempregada. Chamaram os bombeiros e a PJ, e o corpo da bebé foi encontrado uma hora depois.
"O mar estava absolutamente calmo, não havia vento, apenas água a borbulhar na zona de rebentação", descreveu ao DN o comente Malaquias Domingues, negando que o taxista tenha referido gritos de socorro por parte da mãe.
Sérgio Duarte, adjunto do comando dos Bombeiros de Paço de Arcos, que também esteve no local, contou que o carro da família estava parado à beira da praia, na estrada e a mulher desceu até à zona do areal com as duas filhas.
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Terá sido a identificação do dono da viatura que alertou os pais de Sónia para o que se passou com a filha e os netos, apurou o DN. Ao contrário do que foi noticiado, o ex-companheiro não comunicara à PSP o desaparecimento da ex-mulher. Só segunda-feira à noite é que teve conhecimento de que haveria problemas com ela e as filhas, através de um telefonema de uma vizinha dos sogros a perguntando se sabia do paradeiro delas. Mais tarde, perguntaram-lhe qual era a matrícula do carro, uma vez que foi ele quem fez os seguros. Já passava das 22:00 e terá sido então que os avós souberam da tragédia. Nelson só soube no dia seguinte.
A última vez que viu as filhas foi no dia 6 de fevereiro em Castanheira do Ribatejo. O casal separou-se no início de novembro e Sónia foi viver com os pais. Mais recentemente residia com a madrinha.
"Uma separação aparentemente normal", diz o advogado, apenas com problemas para o pai visitar as filhas. Mas a 24 de novembro Sónia apresentou queixa na PSP contra Nelson por violência doméstica e abuso sexual das menores. A queixa foi encaminhada para a Comissão de Proteção de Crianças e Jovens da Amadora. Por se tratar de abuso sexual de menores alegadamente por parte do pai, o processo foi enviado o Ministério Público (MP), explica Joana Fonseca, presidente da Comissão. E deixou de lhes pertencer.
"Na sequência de uma participação da PSP, a que foi junta uma comunicação do Hospital Amadora-Sintra, foi instaurado, em finais de novembro, um inquérito onde se investigam factos suscetíveis de integrarem os crimes de violência doméstica e de abuso sexual de crianças", respondeu ao DN a assessoria. O processo está no Departamento de Investigação e Ação Penal de Lisboa-Oeste (secção de Sintra), em segredo de justiça.
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Paralelamente, o MP requereu, a 2 de dezembro, a abertura do processo judicial de promoção e de proteção a favor das duas crianças. Segundo Rui Maurício, o pai apenas sabia desta investigação e só teve conhecimento da ida ao hospital quando recebeu a conta relativa à consulta. "Desconheço quaisquer factos que sustentem essa tese. Há razões para suspeitar de alienação parental [acusações para impedir as visitas do pai]. *Com Ricardo Simões Ferreira