Barreiro. Tão perto e tão longe da capital

Projetos existem: um novo terminal de contentores, o aeroporto da margem sul e a terceira ponte sobre o Tejo..Terá isto ajudado a eleger Frederido Cunha, após 12 anos de executivo comunista?
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Pedro Dias tem à sua frente o rio Tejo, imenso, azul, e a cidade de Lisboa mesmo do outro lado. "É uma paisagem linda belíssima, não é?" No entanto, os seus olhos não se distraem com a paisagem, estão mais atentos às duas canas de pesca espetadas entre às rochas. Pode ser que o peixe pique. Robalos, douradas, enguias. Nos dias bons leva dali peixe para uma caldeirada. Natural do Barreiro, ali viveu todos os 58 anos da sua vida, e é com algum desgosto que olha para a "avenida da praia": "Ainda há muito por fazer aqui. Esta parte ribeirinha deveria ser mais explorada, ter mais turismo, ter mais infraestruturas... Eu sou um fanático do Barreiro, não percebo como não se desenvolveu mais."

Projetos existem: um novo terminal de contentores, o aeroporto da margem sul e a terceira ponte sobre o Tejo. A que se junta a ideia apresentada pelos socialistas de transformar as 21 hectares da até agora abandonada Quinta do Brancaamp num parque de diversões, com uma roda gigante e tudo. Terá sido esse um dos motivos que levou os barreirenses a eleger Frederido Rosa, após 12 anos de executivo comunista?

A verdade é que a crise da indústria na região e depois as várias crises económicas do país levaram a um envelhecimento gradual, que é hoje um problema. "O Barreiro vem definhando há 40 anos", diz José Martins Sousa, advogado e vice-presidente do Futebol Clube Barreirense. O tecido empresarial é bastante frágil, o património tem vindo a degradar-se, há um potencial turístico que urge aproveitar. "Estamos a 20 minutos de barco do Terreiro do Paço. Isso é incrível."

"Tão perto de Lisboa e ao mesmo tempo tão longe. O sentimento que temos quando vamos a Lisboa é que estamos noutro país", concorda Rui Pedro Dâmaso, 36 anos, da associação Out.ra que, entre outras iniciativas, organiza o Out.Fest - Festival Internacional de Música Exploratóra, cuja 14º edição começa já amanhã. Ele que já chegou a morar em Lisboa e a trabalhar no Barreiro optou por, há quatro anos, voltar para casa. E diz que aqui tem mais qualidade de vida, diz.

O festival, que tem cerca de dois mil espectadores, é um dos eventos que traz mais visitantes ao Barreiro. Todos os anos, há alguém que vem aqui pela primeira vez, que se perde na saída da autoestrada ou que chega a um concerto a dizer que "nunca tinha andado de barco". Mas eles não desistiram. Este ano, o concerto de abertura vai juntar na Igreja de Santa Maria mais de 70 cantores do Coral dos Trabalhadores da Autarquia do Barreiro com o músico experimental Jonathan Uliel Saldanha. Uma experiência inédita. O que Rui Pedro mais gostaria que mudasse no Barreiro: "Que se deixasse de ouvir a palavra potencial. Quando essa palavra desaparecer do discurso, quer dizer que esse potencial de que toda a gente fala está finalmente a ser concretizado."

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