Expansão do estacionamento regulado e abertura de novos parques na UDRA, com o objetivo de libertar mais espaço público e reduzir obstáculos.
Expansão do estacionamento regulado e abertura de novos parques na UDRA, com o objetivo de libertar mais espaço público e reduzir obstáculos.

Parques Tejo: de guardiã do estacionamento em Oeiras a arquiteta da mobilidade

A empresa que gere o espaço público em Oeiras passou de simples operadora de estacionamento a peça-chave na implementação de políticas de mobilidade sustentável.
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Num concelho que sempre foi sinónimo de gestão de estacionamento, a Parques Tejo emergiu nos últimos anos como um ator decisivo na transição para uma mobilidade urbana sustentável. A evolução do seu papel - de empresa de fiscalização de lugares para operadora de um ecossistema intermodal - está a redefinir o espaço público, sobretudo em Algés, onde o ambicioso projeto Parques Cidade do Tejo promete transformar radicalmente o quotidiano dos cidadãos.

Fundada no final dos anos 1990, a Parques Tejo começou por se dedicar à fiscalização do estacionamento em Oeiras. Em 2021, a alteração dos estatutos da empresa abriu caminho para uma nova missão: passar da mera gestão de lugares para a criação de um verdadeiro ecossistema de mobilidade sustentável, centrado na intermodalidade, no qual decisões de gestão e investimentos contemplam vários modos de transporte. Era, nas palavras da administração, “um passo em frente” na sua missão.

A verdade é que, como aponta Rui Rei, presidente da Parques Tejo, nos últimos três anos a empresa assumiu a execução das políticas de mobilidade da Câmara Municipal de Oeiras. “Neste tempo concretizámos uma série de medidas preconizadas no Plano de Mobilidade Urbana Sustentável de Oeiras (PMUS), como o aumento do transporte público e a criação de carreiras de autocarro onde antes não existiam, o reforço da mobilidade suave com a disponibilização de bicicletas e trotinetas partilhadas, a criação de serviços de mobilidade de proximidade, nomeadamente os serviços Vai & Volta em tuk-tuk, que aproxima as populações dos centros históricos de Algés e Paço de Arcos de forma gratuita, o reforço do número de lugares de estacionamento regulado nas ruas e a abertura de parques de estacionamento em vários pontos do concelho”, constata, acrescentando que a empresa está a trabalhar para o futuro. Como? “Além dos novos Parques de Estacionamento na UDRA - União Desportiva e Recreativa de Algés, na Avenida da República e no Quintal do Desportivo de Carnaxide, estamos a trabalhar na implementação dos novos sistemas de transporte coletivo em canal dedicado como o SATUO, o LIOS e o BRT da A5, articulados com as entidades envolvidas da AML”.

Mobilidade suave e novos parques para um concelho mais acessível

Acessibilidade e assegurar um transporte rápido para as pessoas. Esse tem sido o trabalho levado a cabo pela empresa, numa visão para a mobilidade que Rui Rei designa de Cardinal (referindo-se ao símbolo #). “Torna-se evidente ao olharmos para o mapa que há dois eixos que atravessam o concelho de ocidente para oriente - a linha de comboio Cascais-Lisboa e a A5 - e dois eixos que se desenvolvem de norte para sul - o SATUO e o LIOS”.

O presidente da Parques Tejo explica que o objetivo é tornar estes eixos altamente eficazes do ponto de vista da mobilidade, através da construção de sistemas em via dedicada ou exclusiva, com a capacidade de distribuir rapidamente o fluxo de pessoas que todos os dias entram e saem do concelho para trabalhar. Na prática, nos pontos de convergência destes eixos vão surgir interfaces funcionais que ligam vários meios de transporte - os autocarros em BRT, os comboios, os autocarros com rotas de proximidade, os meios de mobilidade suave e o transporte privado (que estará devidamente estacionado em lugar próprio). Mas, para que tudo funcione será necessário manter e aumentar as rotas das carreiras municipais e reforçar a mobilidade partilhada. “A meta é retirar carros das ruas, porque o transporte vai passar a ser mais rápido para as deslocações dentro do município.”

O presidente da Parques Tejo, Rui Rei, explica que, com a sua empresa, Algés terá um papel na mobilidade suave de Lisboa.
O presidente da Parques Tejo, Rui Rei, explica que, com a sua empresa, Algés terá um papel na mobilidade suave de Lisboa.

Mas só isso não chega. Como aponta Rui Rei, a mobilidade urbana não pode parar nas fronteiras do concelho. E é por isso mesmo que a Parques Tejo está integrada na TML, “o que nos permite ter em operação 53 carreiras intermunicipais, que servem realmente os nossos munícipes e com tendência a aumentar”. Tão ou mais importante, porém, é a participação em projetos futuros como o Transporte Rápido Lisboa-Oeiras, o SATUO e as ligações Algés-Trafaria.

Tudo isto, no entanto, não é futurologia. Nos últimos anos o trabalho da Parques Tejo refletiu-se em ações concretas:

· Novas carreiras de autocarro em áreas antes sem cobertura, reforçando o transporte coletivo como alternativa ao uso do automóvel;

· Mobilidade suave: disponibilização de bicicletas e trotinetas partilhadas;

· Serviço “Vai & Volta”: tuk-tuks gratuitos que aproxim am os residentes dos núcleos históricos de Algés e Paço de Arcos;

· Expansão do estacionamento regulado e abertura de novos parques na UDRA, Avenida da República e no Quintal do Desportivo de Carnaxide, com o objetivo de libertar mais espaço público e reduzir obstáculos.

“Algés vai passar por uma grande alteração nos próximos anos, para eliminar o risco de cheias e para assumir o seu papel de ligação entre os concelhos de Oeiras e Lisboa, que já tem, mas que é preciso atualizar para o século XXI”. É desta forma que Rui Rei explica o papel de Algés no futuro da área metropolitana de Lisboa. O executivo acrescenta que, neste cenário, cabe à Parques Tejo encontrar soluções para a interface que vai ligar o comboio da Linha de Cascais, o barco que virá da Trafaria, o LIOS que liga Algés ao Colégio Militar e a Alcântara, e os vários meios de mobilidade suave.

Algo que tem sido concretizado através do estabelecimento de parceiras com operadores de transportes públicos. A relação profícua com a TML (Transportes Metropolitanos de Lisboa), por exemplo, “tem permitido um aumento constante da oferta de transporte, que hoje já está 54% acima do período antes da Carris Metropolitana”. Com a Carris há o projeto conjunto do LIOS - Linha Intermodal Sustentável, que assegura uma ligação rápida entre Alcântara e Oeiras. Já com a CP o presidente da Parques Tejo revela ter esperança de desenvolver novas parcerias que permitam uma melhor integração entre os serviços ferroviários e as demais componentes do Ecossistema.

No meio de tudo isto está Algés e o seu Terminal, que se hoje já é um local estratégico da rede metropolitana de transportes, sendo a “segunda estação com mais tráfego da linha de Cascais, apenas superada pelo Cais do Sodré”, no futuro, com a implementação dos vários projetos anunciados, vai ganhar ainda mais destaque. Para já, como aponta Rui Rei, as condições atuais - de conforto e higiene da estação, de informação sobre a oferta de transporte, de iluminação do espaço, da própria presença no território - são muito inferiores ao aceitável. Condições que têm de ser repensadas, tanto mais que o terminal vai ser o ponto de encontro de várias formas de transporte e, com isso, receber muitos mais passageiros.

“Com a chegada do LIOS, que vai oferecer uma alternativa de transporte rápido Lisboa/Oeiras, com entrada em operação prevista para 2028, Algés vai estar no centro de dois importantes eixos de transporte em BRT, em direção a Alcântara e ao Colégio Militar”, constata Rui Rei, que lembra ainda a extensão prevista do Elétrico 15 até à Cruz Quebrada, que está a ser desenvolvida pela Carris. Tudo isto irá transformar Algés num hub de transportes muito relevante. Com a “pretensão do Governo de implementar a 4ª Travessia do Tejo, de Algés à Trafaria... percebe-se que o Terminal vai ser um dos epicentros da mobilidade da ‘Lisboa das duas margens’, e que como tal, temos de trabalhar já para o adaptar a esse futuro”.

O “Cardinal”: uma visão integrada para a mobilidade urbana

A visão - Cardinal - criada pela Parques Tejo assenta em quatro eixos principais:

· Ocidente-Oriente: a linha de comboio Cascais-Lisboa e a autoestrada A5.

· Norte-Sul: o SATUO (Sistema Automático de Transporte Urbano) e o futuro LIOS (Linha Intermodal Sustentável).

Estas infraestruturas são complementadas por interfaces multimodais - hubs onde se ligam BRT, comboios, autocarros, mobilidade suave e estacionamento privado - e por uma rede de carreiras municipais que cobrem as áreas entre estes eixos.

“A linha da CP de Cascais é um dos eixos do Cardinal, e que tem sido muito prejudicado com as reduções de serviço ao longo dos anos. Em paralelo à linha férrea, mas ao centro do concelho, é absolutamente essencial repensar a A5, reconvertendo-a enquanto autoestrada urbana, e instalando um corredor BRT na mesma, como é pretensão dos municípios de Oeiras, Lisboa e Cascais”, explica Rui Rei.

O presidente da Parques Tejo refere ainda que, em relação a estes dois eixos, desenvolvem-se dois corredores de transporte que lhes são perpendiculares: a ocidente o SATUO, entre Paço de Arcos e Massamá/Barcarena; e a oriente o LIOS, que cria novas ligações entre Algés, Alcântara e o Colégio Militar. A Parques Tejo trabalhou em ambos os projetos ao longos dos três últimos anos, os quais estão hoje em perfeitas condições de se avançar para as fases de obra.

São projetos essenciais no desenho de uma nova realidade, que prevê transportes públicos com conforto nas deslocações, previsibilidade no cumprimento dos horários, e uma velocidade comercial que os torna competitivos com o automóvel particular. “Se não assegurarmos estes três aspetos, as pessoas não irão optar pelos transportes públicos, com todos os impactos sociais e ambientais que a utilização do automóvel como principal meio de transporte representa”, constata Rui Rio.

A nova interface prevista em Algés será um hub multimodal que integrará:

· Estação da linha de Cascais

· Lancha fluvial desde a Trafaria

· LIOS (ligando Algés a Alcântara e ao Colégio Militar)

· Transportes suaves e pedonais

· Espaços públicos com mais comércio, zonas verdes e vida comunitária.

A ambição é elevar Algés a um centro estratégico na mobilidade metropolitana, preparando-se para a futura 4.ª travessia do Tejo e eventual expansão do Metro.

Metas ambiciosas: PMUS e o futuro de Oeiras

O Plano de Mobilidade Urbana Sustentável (PMUS) e o Plano de Acessibilidades definiram metas ambiciosas até 2033:

· +36,4 % na quota de transporte público;

· +24,9 % na mobilidade suave;

· -43 % na quota modal automóvel;

· -30 % em atropelamentos e vítimas;

· -20 % nas emissões de gases com efeito de estufa.

Esses planos estão ancorados em inquéritos à população, que identificaram padrões de mobilidade atuais - 45 % dos percursos diários feitos de carro, 31 % por transporte público e 21 % a pé ou de bicicleta. A maioria das viagens são internas ao concelho (57%)

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