André Ventura afirmou esta quarta-feira que o "Chega será a oposição ao bloco central" e que apresentará em breve um governo-sombra, com pessoas da sociedade civil, porque o partido "tem de estar preparado para governar" e "assumir a responsabilidade" quando o Governo cair."O primeiro-ministro teve suspeitas sobre ele que não esclareceu. Dois partidos tiraram a confiança a Luís Montenegro: PS e Chega. O povo português deu força a um e tirou a outro. Ao contrário do Chega, o PS deu a mão à AD no Orçamento de Estado para 2025 e na imigração e o povo tirou-lhes a confiança. O Chega será a oposição ao bloco central. Os portugueses disseram que há um novo líder da oposição. É uma responsabilidade que o povo português me deu", afirmou, em entrevista à TVI/CNN Portugal, considerando que as eleições legislativas de domingo "mudaram o panorama político" em Portugal."Nunca aconteceu um partido destronar um dos dois [PS e PSD]. Tudo indica que Chega vencerá pelo menos um dos círculos, tenha mais dois deputados e ultrapasse PS", adiantou, deixando os entendimentos para AD e PS: "eles entendem-se há 50 anos, porque não se hão de entender agora?"Ainda assim, Ventura diz que um Chega não será uma força de bloqueio. "Não fui dizer ao Presidente da República que queria ser primeiro-ministro. Esse papel é para Luís Montenegro. Mas o mas povo português quer-nos como farol da oposição. Nunca fomos bloqueio a medidas da AD e da IL. Viabilizámos medidas que são boas para o país. O OE2025 era mau e distribuiu tachos, não podíamos viabilizar isso", vincou, esclarecendo o seu conceito de concessões: "O que é bom para o país nós fazemos."O líder do Chega diz que o "Estado precisa de uma auditoria". "Não tenho prazer nenhum em responsabilizar pessoas, mas Montenegro bateu recordes de tachos, de nomeações diretas. Há desperdício e fraude. Temos de cortar em desperdícios, damos subsídios a associações de ideologia de género e do diabo, à Fundação Mário Soares, que só organiza colóquios. Anda metade do país a trabalhar para a outra metade", explicou.Sobre a revisão constitucional proposta pela Iniciativa Liberal, Ventura diz que foi o Chega que a propôs "há uns meses" e que "os liberais vêm sempre atrás". "Temos de reduzir número de deputados e fazer uma reforma na justiça. Temos de despolitizar o Estado e punir crimes violentos para a vida toda", vincou.Questionado sobre a escolha dos deputados para esta legislatura, o líder do partido disse que procurou "garantir a idoneidade das pessoas" e voltou a atirar-se às sondagens e à comunicação social: "Tivemos sondagens que davam 10%. Tivemos 23%. As nossas sondagens davam 19% e 20%. Houve sondagens para desmobilizar o nosso eleitorado e levar ao colo o PSD e a IL. Havia sondagens em que o PS ia arrasar e perdeu. No ano passado não tive episódios de saúde. Depois dos debates, nos comentários na comunicação social, diziam que perdi todos os debates e que era uma nódoa. Vi gozarem com o meu estado de saúde."Acerca da abertura de um inquérito por parte do Ministério Público por causa de vídeos de André Ventura sobre ciganos, o líder do Chega diz que levou com cuspidelas e foi ameaçado de morte durante a campanha e que inclusivamente teve receio de ser envenenado. "Levei com cuspidelas de ciganos, morteiros que me passaram a centímetros e ameaças à minha vida. Tive receio de envenenamento quando tive aqueles episódios de saúde. Houve queixas de associações de ciganos contra mim mas não se mobilizaram para parar isto", contou, referindo-se ao episódio de saúde que viveu como "um dos momentos mais dramáticos" da sua vida. "Bebi água e tive grande sensação de queimadura. tive sensação de ser envenenado. Tudo indica que não, mas tive receio", aditou.Ainda sobre a comunidade cigana, Ventura disse que não quer tirar direitos à mesma, mas que quer que "todos tenham os mesmos direitos e deveres". "Não podemos construir casas só para ciganos, como consta em despachos, mas para toda a gente", sublinhou.Ventura revelou ainda que não acha que as pessoas tivessem pensado no Caso Spinumviva quando foram votar, mas avisou que "não são as pessoas que condenam ou absolvem" e admitiu que "hoje é menos provável" candidatar-se às eleições presidenciais do próximo ano do que era "há um mês atrás", devido ao "voto de confiança" que os portugueses lhe deram, afirmando-se "sempre descansado com o voto dos portugueses". "Se eu não for candidato, o Chega apoiará um candidato, nem que seja só na segunda volta", acrescentou, sem se querer referir a Henrique Gouveia e Melo.No que concerne a assuntos internacionais, Ventura disse que "talvez seja importante um papa norte-americano", mas que "como crente" acredita que não esteja relacionado. O líder do Chega aditou ainda que o "direito humanitário deve prevalecer em Gaza" e que "a Ucrânia não pode se derrotada", tendo chamado "ditador e assassino" a Vladimir Putin. "O presidente norte-americano está a ser muito brando com a Rússia. Eu seria muito mais duro com os russos", rematou..A AD (PSD/CDS-PP), liderada pelo atual primeiro-ministro, Luís Montenegro, venceu as eleições legislativas antecipadas de domingo, com mais de 32% dos votos, sem maioria absoluta. Em coligação, os dois partidos elegeram 89 deputados, dos quais 87 são do PSD e dois do CDS-PP - mais de um terço dos 230 lugares do parlamento, mas longe da maioria absoluta.Quando estão por contabilizar os votos dos círculos da emigração e atribuir os respetivos quatro mandatos, o PS é o segundo mais votado, com 23,38% dos votos, e 58 deputados, os mesmos que o Chega, que tem menor votação, 22,56%.De acordo com os resultados provisórios divulgados pela Secretaria-geral do Ministério da Administração Interna, segue-se a IL, em quarto lugar, com 5,53% dos votos e nove deputados, e depois o Livre, com 4,2% e seis eleitos.A CDU (PCP/PEV) obteve 3,03% dos votos e elegeu três deputados, todos do PCP. O BE, com 2%, o PAN, com 1,36%, e o JPP, da Madeira, com 0,34% dos votos em termos nacionais, tiveram um mandato cada um.