Beja (na foto) é um dos círculos que menos deputados elege. Num distrito onde o Chega venceu em 2024, PSD e PS tentam não perder espaço, com a CDU a querer reconquistar um lugar histórico.
Beja (na foto) é um dos círculos que menos deputados elege. Num distrito onde o Chega venceu em 2024, PSD e PS tentam não perder espaço, com a CDU a querer reconquistar um lugar histórico.FOTO: Reinaldo Rodrigues / Global Imagens

Sul e ilhas: entre a reconquista, milhares de votos desperdiçados e uma possível surpresa

Alentejo, Algarve, ilhas são das regiões que menos elegem. Portalegre, por exemplo, só tem dois deputados. PS e PSD mostram-se confiantes na quebra do Chega. JPP pode vir a eleger pela Madeira.
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Passaram praticamente dez anos. Desde 4 de outubro de 2015 que o distrito de Portalegre não tem deputados eleitos do PSD (e do CDS-PP). Há um ano, os sociais-democratas ficaram a apenas 784 votos de voltar a ter um mandato pelo distrito, que é o que menos elege em todo o território nacional (dois deputados). Só a emigração (Europa e Fora de Europa) tem direito a tão poucos assentos no Parlamento e, com isto, o volume de votos desperdiçados é grande (em 2024, foram 23.650, ou 40% do total de votos deste círculo).

Agora, a intenção, diz ao DN fonte do PSD local, é “voltar a conquistar o deputado” que escapa desde 2015. Mas sem perspetiva de vencer. Até porque “é raro o PS não ganhar o distrito”. Assim sendo, os sociais-democratas consideram provável que o Chega perca o lugar que conquistou há um ano, até pelas convulsões que existiram com a formação da lista, levando à demissão de Henrique de Freitas da distrital, depois de saber que ficaria fora das escolhas para o Parlamento. Essa estrutura - “frágil”, acrescentam os sociais-democratas ao DN - pode representar uma fraqueza para o partido nas legislativas de 18 de maio. Tal como João Aleixo, agora cabeça-de-lista do Chega por Portalegre, Henrique de Freitas foi um candidato paraquedista. No entanto, após um ano, “já conhecia associações e tinha feito algumas visitas” ao distrito e isso pode pesar na hora do voto.

Se os palpites do PSD Portalegre se confirmarem, isto pode significar a entrada de um nome jovem no Parlamento: João Pedro Luís, secretário-geral da Juventude Social-Democrrata (JSD), que já encabeçou a lista pelo distrito em 2022. Isto porque o primeiro nome da lista de Portalegre é o ainda ministro da Coesão, Manuel Castro Almeida.

Mais a sul, em Évora, a expectativa é a de que o cenário seja mais ou menos igual ao de há um ano, em que PSD e PS conquistaram um lugar cada. E houve uma novidade. O Chega elegeu pela primeira vez um deputado naquele círculo (o cabeça de lista Rui Cristina), ‘roubando’ um dos mandatos ao PS e confirmando um facto que já se verificara em 2022: a CDU não elegeu nenhum deputado. Com isto, os comunistas (que até governam a autarquia eborense, mas em fim de mandato) procurarão agora voltar a ter um lugar no Parlamento, que era deles desde 1976.

Mas a perspetiva, neste círculo eleitoral, é a de que PS e PSD dividam entre si os três mandatos do distrito, fazendo um 2-1 a favor dos socialistas. Os socialistas do distrito dizem ao DN que a CDU, desta vez, não deverá ser carta no baralho, uma vez que “escolheu um nome de segunda linha” (Maria da Graça Nascimento) - em contraste com os anteriores rostos do partido no distrito: João Oliveira e Alma Rivera - e, com isso, “não deve” conseguir voltar a ter um deputado por Évora. E o Chega, que indicou Jorge Galveias (cabeça de lista por Aveiro em 2022) para ser o primeiro da lista no distrito? “Não será uma aposta certa” por se tratar de “alguém sem ligação ao distrito” e “não conhecer” o que por lá se passa, apontam.

Mas os chamados candidatos paraquedistas não param por aqui. Se, em Beja, a AD decidiu manter o mesmo cabeça de lista (Gonçalo Valente), com o PS a apostar em Pedro do Carmo (que já foi deputado socialista eleito por Beja e ex-autarca de Ourique), o Chega fez ‘descer’ Rui Cristina. Há um ano, o ex-PSD concorreu por Évora, agora vai como cabeça de lista pelo distrito bejense. Por outro lado, a CDU aposta no ex-líder parlamentar Bernardino Soares, para tentar recuperar o lugar que os comunistas perderam há um ano. No caso do cabeça de lista do Chega por Beja, não se lhe conhece ligação ao distrito. Já o candidato comunista referiu, num debate na Sic Notícias, que “tem ligações” familiares a Vila Nova de São Bento, concelho de Serpa.

Há contudo um fator na luta eleitoral nestes três círculos: o número de votos que não servem para eleger ninguém. Em todo o Alentejo, houve, em 2024, 64.777 votos que não foram transformados em mandatos. Portalegre foi o distrito onde a percentagem foi maior: 40%. Juntos, os três distritos - que têm um total de 343.502 eleitores recenseados - elegem oito mandatos, o que acaba por beneficiar os partidos com maior percentagem de votos, prejudicando, por consequência, as bases eleitorais mais pequenas.

Faro com Chega na frente e PSD e PS a lutar pela vitória

Menos desperdiçados são os votos no círculo de Faro: cerca de 23% do total no distrito não serviram para eleger ninguém. No entanto, há mais mandatos para atribuir, tendo os mesmos nove que Santarém e Coimbra.

Aqui, tudo indica que o desfecho vá ser próximo do de há um ano, sendo até um círculo eleitoral em que PS e PSD, historicamente, elegeram sempre mais do que três deputados. Mas, agora, o Chega entrou na equação e, há um ano, elegeu pela primeira mais do que um deputado por este círculo eleitoral. Com isto, o BE, que em 2019 ainda conseguiu ter um mandato pelo Algarve (João Vasconcelos). E há um dado que pode dar esperança às hostes bloquistas: há um ano, o candidato José Gusmão - que agora volta a ser cabeça de lista - ficou a quatro mil votos (num universo de mais de 383 mil eleitores) de conseguir um lugar no Parlamento.

A incógnita nos Açores e a expectativa com o JPP

Nas ilhas, o cenário será idêntico, com PSD e PS a estarem na calha para eleger a maior parte dos 11 deputados a que Açores e Madeira têm direito. Todavia, os cenários locais podem fazer a diferença.

Começando pelos Açores, há desde logo a dúvida que como vai sair-se o Chega, após o caso de Miguel Arruda, o primeiro deputado que o partido alguma vez elegeu pelo arquipélago. Suspeito de furtar malas em aeroportos, o caso que envolve o agora ex-deputado do partido (desfiliou-se após serem conhecidas as suspeitas, tornando-se deputado não-inscrito) pode vir a ter um impacto na votação no Chega.

Surpresas podem vir, no entanto, do arquipélago da Madeira, onde há uma questão: será que o Juntos Pelo Povo (JPP) vai conseguir transportar para as legislativas o resultado que teve nas regionais de 23 de março, em que remeteu o PS para segunda força política? Havendo seis acentos no Parlamento para deputados madeirenses, as hipóteses são grandes - até porque, nas regionais, o JPP conquistou os mesmos 11 deputados que o PS tinha no Parlamento regional.

Com esse resultado, os socialistas conquistaram dois deputados nas legislativas de há um ano (Paulo Cafôfo e Miguel Iglésias), que não estão nas listas. Já o JPP ficou a 518 votos de conseguir ter o seu primeiro mandato de sempre na Assembleia da República.

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