No PS, nos círculos eleitorais mais a norte de Portugal, apenas duas cabeças de lista vão manter-se face às legislativas do ano passado. O resto, muda, com a entrada em campo, como cabeças de lista, de pelo menos dois autarcas que não têm possibilidade de renovar o cargo, por estarem no terceiro mandato. Pelo meio, há substituições de última hora e um arguido num processo que já não faz parte das listas. AD e Chega mantêm quase tudo na mesma, incluindo o ex-secretário de Estado da Administração Local e Ordenamento do Território, Hernâni Dias, que se demitiu por conflito de interesses.No total dos círculos eleitorais de Viana do Castelo, Vila Real, Bragança, Viseu e Guarda vão ser eleitos, a 18 de maio, 24 deputados para a Assembleia da República. De acordo com a Comissão Nacional de Eleições (CNE), há 1.045 .864 eleitores inscritos nestes círculos, o que corresponde a 9,6% do eleitorado de todos o país. No ano passado, só a AD, PS e Chega conseguiram eleger por aqui.Em Viana do Castelo, os 40 237 votos no PS (28,15%) permitiram que os socialistas tivessem os mesmos dois mandatos atingidos pela AD, que, por seu turno, foi a opção de 49 613 eleitores (34,72%). A cabeça de lista do PS por este círculo eleitoral continua a ser a antiga ministra da Habitação Marina Gonçalves, que desde o ano passado ocupa um lugar lugar na bancada do partido. Também o número dois, José Maria Costa, vai manter-se. E por aqui termina a estabilidade socialista nas listas a deputados.No que diz respeito à AD para Viana do Castelo, a estratégia passa por manter como cabeça de lista o ainda presidente da Assembleia da República, José Pedro Aguiar Branco, e substituir, na segunda posição, Emília Cerqueira, que é a candidata social-democrata à Câmara de Paredes de Coura, por João Manuel Esteves, que é pela terceira e última vez presidente da Câmara de Arcos de Valdevez.Já o Chega, que em 2024 conseguiu 18,64% dos votos e um mandato, mantém como cabeça de lista o ex-social-democrata Eduardo Teixeira.Em Vila Real, o cenário, em termos de lugares no Parlamento, é muito semelhante ao de Viana do Castelo, com PS e AD a elegerem dois deputados cada, e o Chega um.Também aqui o PS faz mudanças, ao remeter a antiga cabeça de lista, Fátima Correia Pinto, para segundo lugar, e a optar por dar o primeiro lugar ao presidente da Câmara de Vila Real, Rui Santos, que está a cumprir o seu terceiro e necessariamente último mandato.Já a AD faz uma alteração, que poderá não ser assim tão radical: a ainda ministra da Saúde, Ana Paula Martins, será cabeça de lista, substituindo Amílcar Almeida, que passa para segundo lugar. No entanto, se a AD vencer as eleições e se Ana Paula Martins regressar ao Executivo, Amílcar Almeida volta a ser o primeiro. De fora fica o antigo número dois, Alberto Machado, que já suspendera o seu mandato nesta legislatura, “por motivos pessoais”. A Comissão de Transparência, porém, avisou-o de que, neste período, não poderia voltar a assumir funções na Câmara de Vila Pouca de Aguiar, ou incorreria em incompatibilidade. Alberto Machado suspendera o seu mandato como autarca para, em 2024, ocupar o mandato como deputado. O Chega repete a fórmula e opta por manter a antiga deputada social-democrata Manuela Tender como cabeça de lista.Por Bragança, a estratégia do PS para as legislativas volta a passar pelas autárquicas. A única deputada socialista eleita em 2024 por este círculo, Isabel Ferreira, deixa agora de ser cabeça de lista para, em setembro, concorrer à Câmara de Bragança. No seu lugar fica Júlia Rodrigues, que ainda lidera o executivo municipal de Mirandela.Neste círculo, a AD mantém no topo da lista o ex-secretário de Estado Hernâni Dias - que deixou o Governo de Montenegro por ter constituído duas imobiliárias dias antes de ter sido aprovada a lei dos solos - e volta a candidatar como número dois Nuno Gonçalves.O Chega, que conseguiu 18,19% dos votos, sem eleger (o único círculo eleitoral onde em 2024 tal aconteceu), aponta agora como cabeça de lista José Mário Mesquita, o médico que foi candidato à Câmara de Mirandela pelo CDS, solidificando a estratégia de apostar em dissidentes centristas e sociais-democratas.Viseu vai dar ao Parlamento oito deputados. AD e PS têm três cada, e o Chega tem dois.O PS mantém Elza Pais como cabeça de lista mas substitui no segundo lugar José Rui Cruz por Armando Mourisco, o presidente da Câmara de Cinfães, que suspendeu o mandato para integrar esta lista. José Rui Cruz, em novembro do ano passado, viu a sua imunidade parlamentar ser levantada, por ter sido constituído arguido por alegada prática de obtenção de subsídio.Já o número três em 2024, João Azevedo, deixa esta lista para se candidatar à Câmara de Viseu em setembro, dando assim lugar a João Paulo Rebelo, que é próximo de Pedro Nuno Santos.Neste círculo, a AD não altera o elenco, mantendo na posição cimeira da lista o ainda ministro da Presidência, António Leitão Amaro, logo seguido por Pedro Alves e Inês Domingos.O Chega também não muda nada, voltando a apostar para cabeça de lista em João Tilly, o professor de matemática que entrou no Parlamento depois de ter tido algum envolvimento nas redes sociais, para além de ainda ser o candidato do partido à Câmara de Seia. No segundo lugar, volta a aparecer Bernardo Pessanha, o antigo assessor de imprensa do Chega, que é deputado desde o ano passado.Na Guarda, o cenário repete-se, com histórias diferentes. AD, PS e Chega tem um deputado cada. O PS retira do topo da lista a antiga ministra do Trabalho, Ana Mendes Godinho, que é candidata a Sintra nas autárquicas. A substitui-la, fica a presidente do conselho de administração do Côa Parque, Aida Carvalho. Porém, poucos dias antes de ser revelado este nome, a 2 de abril a Federação do PS da Guarda tinha anunciado o nome do presidente do Politécnico da Guarda, Joaquim Brigas, como cabeça de lista pelo círculo, que não se concretizou.Na AD, tudo se mantém, com Dulcineia Moura como cabeça de lista.É preciso recuar até 1985 para encontrar outro partido - para além do PS e do PSD - que tivesse conseguido eleger pela Guarda. Nessa altura, foi o CDS que conseguiu a proeza. Em 2024, o Chega contrariou a tendência instalada e elegeu Nuno Simões de Melo, em quem volta a apostar. Portanto, sem alterações.“Abandono político”As legislativas de 2024 trouxeram alterações no panorama político destes cinco círculos, que não se resumem à eleição de um deputado do Chega pela Guarda. Em Viseu, Vila Real e Bragança o partido de extrema-direita Alternativa Democrática Nacional (ADN), que em 2022 nem sequer aparecia nos boletins de voto, ficou em quarto.“O apoio à direita radical é de facto desproporcionalmente mais forte em zonas rurais, tal como sucede noutros países”, explicou ao DN o professor de Ciência Política na NOVA FCSH João Cancela, questionado sobre o que levou a que o ADN conseguisse estes resultados. O também investigador explica que não tem dados sobre o partido em concreto, mas esclarece que tem “tentado desvendar alguns dos mecanismos explicativos” por trás do apoio à direita radical.O ADN ficou longe de eleger nestes três círculos, mas os resultados podem ser sintoma de “perceção de abandono político”, “regresso da clivagem urbano/rural como linha de divisão relevante no comportamento político” ou até “o eco de uma tendência europeia” por parte da população, continua João Cancela.Só na Guarda e em Viana do Castelo é que o ADN não ficou a seguir ao partido de André Ventura. Em Viana do Castelo, ficou em oitavo (com 2 263 votos ou 1,58%), atrás de partidos como o Livre, o PCP, o BE e a IL, e na Guarda ficou em quinto, com 2 181 votos (2,56%), logo a seguir ao BE, que teve 2 301 votos (2,70%). A nível nacional, em 2024, o ADN teve 102 132 votos (1,58%), quando dois anos antes, na reta final da pandemia, tinha tido 10 911 (0,20%).A coligação do PSD com CDS e PPM no ano passado, a Aliança Democrática (AD), chegou a apresentar uma queixa à CNE, alegando “inúmeros relatos” de eleitores que confundiram esta sigla com a do ADN.