O que está disposto a fazer, se for eleito presidente da Iniciativa Liberal (IL), para garantir que Rui Rocha não sente necessidade de sair do partido, como sucedeu com Carla Castro e José Cardoso, candidatos à liderança que ele derrotou há dois anos?Vou ser eleito. Respondendo à pergunta, tenciono organizar um encontro com Rui Rocha no dia a seguir à Convenção e tentar gizar com ele uma estratégia para trabalharmos em conjunto, para atacarmos de imediato as eleições da Madeira, daqui a menos de dois meses, e as eleições autárquicas, daqui a oito meses. Todos fazemos falta no partido e o que aconteceu há dois anos não pode voltar a acontecer. O nosso mote é Unidos pelo Liberalismo e queremos contar com todos. Há pessoas válidas na equipa dele e ele próprio estará em lugar de destaque na Assembleia da República. O que diria aos nossos membros é: melhor do que um Rui, só dois Ruis; um como presidente da IL e o outro na Assembleia da República.Pode deixar a garantia, de si e da sua equipa, de que a Convenção Nacional fará jus ao pavilhão em que decorre: Paz e Amizade?Vai ser uma festa do liberalismo. A campanha que temos feito, falando membro a membro nos núcleos, e nas redes sociais, é para agregar e nunca para dividir. Unidos pelo Liberalismo é o nosso mote e estamos aqui para ver o liberalismo implementado em Portugal, atingindo um patamar que nos permita ser governo a médio e longo prazo, com 10% já nas próximas legislativas. É isso a que nos propomos e só poderemos apresentar-nos unidos com liderança forte e agregadora. Tem noção de que muitos duvidam que haja muito mais gente pronta a aceitar que o liberalismo resulta e faz falta a Portugal?A minha candidatura visa trazer a esperança do liberalismo em Portugal. Não só para os membros que estão a pensar em sair do partido, porque já não acalentam esperança na IL, mas a todos os liberais que ou saíram do partido ou que são liberais mas ainda não deram um passo em frente. As nossas propostas devem ir ao encontro de toda a população, sejam reformados, função pública, jovens e menos jovens. Neste momento, falamos para cerca de 15 a 20% do eleitorado com as nossas mensagens, e temos um resultado de 5%. Ou seja, 33%. Se falarmos para 100% da população, e tivermos os mesmos 33%, quase somos Governo. Estando em causa uma solução de continuidade e uma solução de mudança para a IL, o que é mais necessário mudar? Há muitas coisas a mudar dentro da IL. Uma delas é unir o partido. Outra é ter coragem e ambição de tocar em todos os temas que interessam à população. Ou seja, não andar a reboque da espuma dos dias, que é o que Rui Rocha e a sua direção fazem hoje em dia. Não é acantonarmo-nos na Assembleia da República; é irmos para o terreno, aplicarmos medidas liberais nas autarquias, na Assembleia da República, no Parlamento Europeu, ter contacto direto com o cidadão, e explicar-lhe a nossa mensagem de forma clara, para ganhar confiança de que somos um partido de Governo e não de protesto. A IL peca por não aplicar a si própria o que advoga para o país? Na última Convenção, uma moção setorial de transparência foi vencedora e, passados dois anos, vimos que Rui Rocha não a implementou de forma nenhuma. Como esta moção, tivemos muitos outros temas onde Rocha falhou paulatinamente: nas legislativas prometeu 7,5% e teve 5%, falhou nos Açores, falhou na Madeira com o objetivo de um grupo parlamentar, falhou na autonomia financeira dos núcleos. Há que perceber que, ao fim de dois anos, Rui Rocha parece um produto de marketing mal conseguido e que está na altura de mudarmos, de darmos mais esperança aos liberais e aos portugueses, com um partido forte e capaz de passar as suas ideias. .Defende o aumento da atenção que a IL dá ao interior, mas também alerta para o foco excessivo no eleitorado jovem. É um problema real ou uma perceção?A descentralização é fundamental. É um sinal claro que o partido precisa de dar e a perceção que precisa de ter junto da população, de forma que se entenda que não somos um partido de nicho. Temos de ir para o interior, de expandir o nosso raio de ação para lá da Assembleia da República, de estar nos núcleos, como temos estado ao longo desta campanha, num sinal muito claro de que queremos estar em todo o lado. E com foco nas grandes cidades, pois nas últimas eleições caímos tanto em Lisboa como no Porto. Mesmo aí as coisas não estão a correr bem e há que reforçar, mas entendendo que o país é muito vasto e temos de ter presença liberal em todo o lado.A IL tem sido um partido voluntariamente afunilado?Podemos dizer que sim. Por conta de Rui Rocha e desta direção, não se expandiu internamente e não temos tido formação de quadros. São sempre praticamente os mesmos e a lista já conhecida de Rui Rocha apresenta um núcleo duro que há de ter os seus méritos, mas que nos levou à estagnação onde nos encontramos desde há dois anos. É preciso fazer política de forma diferente para os portugueses. Pretendemos também ter um centro de formação para membros, autarcas e dirigentes, abrindo muito mais o nosso leque de soluções e de candidatos.Questões como a simplificação e redução da fiscalidade e o aumento da liberdade de escolha nos serviços públicos são suficientes para assegurar espaço político ou acabam por ser uma barreira semelhante àquela que o ambientalismo e o animalismo constitui para o PAN?É a tal questão do nicho de mercado. A nossa moção estratégica global fala de vários outros temas. Falamos de saúde, habitação e reforma fiscal, mas vamos mais longe, aos setores da energia e das águas, e à reforma florestal. Abarcamos um leque vasto de medidas que fazem falta à IL, para descomplexificar e mudar a ideia de que é um partido de nichos e de elites. Temos vontade de debater com Rui Rocha sobre estes temas todos. Não temos para já, infelizmente, muitos debates marcados. Só um. Apelo ao Rui Rocha que venha debater ideias. Sabemos que a moção estratégica global dele não apresenta medidas para fora, mas seguramente há de ter na sua cabeça medidas para debater connosco.Nos últimos tempos, os liberais parecem mais atentos aos problemas de segurança. É o caminho certo ou uma concessão à agenda de outros partidos?Considero que Portugal é um país seguro e que hoje em dia a segurança não está na lista de prioridades dos portugueses. Parece-me que, mais uma vez, perdemos a oportunidade de falar das nossas medidas liberais, e de como conseguem impactar as pessoas e melhorar a sua qualidade de vida.Qual é a visão da vossa candidatura sobre a imigração?Na nossa moção estratégica global falamos de imigração, de segurança e de todos os temas. A visão para a imigração é defender um país não de portas fechadas, mas em que a fiscalização e a regulação sejam efetivas e, acima de tudo, em que os imigrantes tenham condições para estar no país e não sejam alvos de redes de tráfico humano. Consideramos que Portugal é um país de emigrantes e devemos acolher da melhor forma possível. Não só a nível de imigração, mas de forma transversal, tem que existir desburocratização e as medidas liberais estão cá para resolver isso. Todos são bem-vindos e precisamos de imigrantes, porque a mão-de-obra em Portugal escasseia, os nossos jovens emigram, e temos que colmatar essas saídas de alguma forma. .Disse que conta com Rui Rocha enquanto deputado se for eleito presidente da Comissão Executiva. E conta com Mariana Leitão para líder parlamentar?Sim. Neste momento não temos legislativas, e os eleitos para a Assembleia da República devem ter independência para definir o seu líder parlamentar.A sua equipa, nomeadamente a vice-presidente responsável pela pasta, tem relação próximas com os deputados da IL?Sim, mas pretendemos ter muito mais, pois tem de existir sinergia. Não podemos é ter a IL, como Rui Rocha tem hoje em dia, entre a Assembleia da República e a Comissão Executiva. Temos deputados na Comissão Executiva, Rui Rocha apresenta deputados nesta nova lista, e acreditamos que as pessoas devem ter um foco claro. Se são deputados, devem focar-se na Assembleia da República e deixar o partido ser gerido por outros. Quanto mais foco e especialização tivermos no partido, melhores resultados teremos.Falando em deputados, é justo dizer que além de dois candidatos à Comissão Executiva de 2025, estará na Convenção um candidato à Comissão Executiva em 2027, Bernardo Blanco?Bernardo Blanco, candidato neste momento ao Conselho Nacional, saiu da direção de Rui Rocha, tal como António Costa Amaral ou Bruno Mourão Martins. Acredito que, no meio de tantos tiques socialistas que Rui Rocha teve nos últimos dois anos, acabaram por se afastar e poderão almejar a outros voos daqui a dois anos. Nós estamos focados no presente, em combater estes tiques socialistas de prometer e não cumprir, sem ser responsabilizado pelos maus resultados ou pelos resultados menos conseguidos. Se estivesse no lugar de Rui Rocha, nas últimas legislativas tinha colocado o meu lugar à disposição, pois não conseguimos cumprir o que tínhamos prometido. Vamos terminar com estes tiques socialistas, vamos debater, unir e colocar a IL no patamar onde merece, e acredito que essas pessoas, que neste momento se candidatam a órgãos nacionais não executivos, com certeza trabalharão connosco. E, daqui a dois anos, estarão possivelmente numa equipa liderada por mim.Quando menciona tiques socialistas está a falar de práticas políticas ou de propostas?Estou a falar de ações de Rui Rocha e não tanto nas propostas. As contas da IL foram apresentadas em novembro, o que não faz sentido. Há mais profissionais a trabalhar no partido nestes últimos dois anos, mas temos um partido menos profissional, o que é curioso. Tudo o que Rui Rocha fez nos últimos dois anos não foi unir o partido. As clivagens com pessoas válidas, que acabaram por não ser reconhecidas, e que levou à saída de vários quadros, é para nós um tique altamente socialista. E temos de o combater.Depois das próximas eleições na Madeira, um ou mais eleitos da IL podem viabilizar um novo governo de Miguel Albuquerque?Acreditamos na autonomia total da IL-Madeira, que deve ponderar muito bem se esse apoio deve existir. Não trocamos apoio por cargos, pelo qualquer apoio que exista tem de ser um apoio onde as políticas liberais e o liberalismo sejam implementados. Consideramos também que Miguel Albuquerque, neste momento, já não tem condições de continuar à frente do governo da Madeira.E se ele for o candidato do PSD e os deputados da IL forem essenciais para uma maioria?Pela minha vontade, continuará a não ser governo na Madeira.Qual será o critério para a IL integrar coligações autárquicas?Acima de tudo, entendemos que as decisões locais têm de ser tomadas pelos núcleos, e a Comissão Executiva tem um papel de aconselhamento. As propostas são enviadas ao Conselho Nacional, que aprovará essas candidaturas. Mas preferimos sempre correr em pista própria. Temos na moção estratégica global a ambição de termos 200 autarcas eleitos em 100 concelhos. Temos aqui uma luta grande nas próximas autárquicas, mas estou convicto, com a minha presença - e estarei com todas as candidaturas liberais que solicitarem a minha presença, pois não estando na Assembleia da República tenho muito mais disponibilidade para estar presente - de que isto possa ser uma realidade. Quanto a coligações, que não sejam por cargos, mas que sejam para implementar medidas e políticas liberais em regiões em que a presença liberal não exista.