Qual foi a primeira reação quando descobriu que tenha sido eleito deputado?Por um lado, uma alegria muito grande, porque pensei que já não iria entrar. Estavam a fechar a última freguesia, penso que Avenidas Novas, e não é onde temos mais força. Geralmente é Mem Martins a última, onde temos mais expressão eleitoral. Até já tinha desligado o celular e, quando me disseram que fui eleito e toda a gente me abraçou e começou a saudar, foi emocionante o carinho e simpatia das pessoas. Foi tremendo. Mas a política é um serviço aos que vivem e trabalham em Portugal. Imediatamente veio uma responsabilidade muito grande e o dever de estar à altura: das expectativas, e do mandato recebido. Vai reforçar o contingente da Juventude Chega no hemiciclo, que será maior do que alguns grupos parlamentares desta legislatura. Que contribuição espera dar para fortalecer o peso do seu partido entre o eleitorado mais jovem?Em primeiro lugar, foi um sinal muito positivo que o presidente André Ventura deu ao país, quando o Chega, há vários anos, se destacou como partido principal no segmento dos jovens, em percentagem e termos numéricos. Era preciso dar representação aos jovens, que votam maioritariamente no Chega. Neste momento, somos seis deputados jovens. É um sinal importante que damos ao país. Do ponto de vista pessoal, há três áreas fundamentais em que gostava de trabalhar. Por um lado, a Educação, minha área de formação. A História é a minha paixão.Chegou a dar aulas de História.Sim, estive a estagiar na Escola José Gomes Ferreira, em Benfica. É a minha grande paixão, aquilo que gosto de fazer e a que voltarei quando terminar as minhas funções. Há questões fundamentais, como a revisão dos currículos, para introduzir matérias muito mais importantes para os jovens do que algumas que se encontram nos manuais escolares, e que estão claramente desatualizadas e desfasadas face aos interesses e necessidades dos jovens para o ingresso no mercado de trabalho.Que tipo de matérias? Por exemplo, a alfabetização financeira. Há muitos jovens que nos abordam e dizem “não sei o que é o IRS” ou “não sei o que é uma taxa Euribor”. É importante que a escola, se pretende preparar cidadãos para a vida adulta, leve isto em consideração. Depois, sendo também candidato à Câmara de Viana do Alentejo, tenho grande preocupação com os jovens que se fixam no interior. A litoralização não é um fenómeno recente, mas é importante que Portugal não esteja a duas velocidades. Gostava de apresentar, enquanto jovem deputado e membro deste grupo parlamentar, um pacote de medidas para fixar jovens empreendedores e agricultores, aqueles que geram riqueza e são a salvaguarda da renovação geracional no interior. Por fim, a carga fiscal e o acesso à habitação são duas temáticas que, na minha faixa etária, dos jovens que estão a ingressar no mercado de trabalho, todos sentem. Não conseguimos constituir família, porque é muito difícil arrendar casa, e ainda mais difícil comprá-la. Temos de agir com medidas para aumentar o parque habitacional, para os jovens conseguirem cumprir esse sonho. E a fiscalidade é uma área particularmente importante para o Chega trabalhar nesta legislatura, pois as pessoas sentem, e os jovens de forma muito particular, que estão asfixiados por impostos. O modelo de IRS Jovem da AD é imperfeito, burocrático e pouco claro. Há que torná-lo um modelo verdadeiramente atrativo e que consiga fixar jovens em Portugal.Ao contrário de outros recém-eleitos, conhece bem a Assembleia da República. Em que é que a experiência de assessor político vai contribuir para ser deputado?Desde logo, por dominar todos os dossiers que trabalhei. Grande parte das iniciativas legislativas que apresentámos na área do Ensino fui eu quem as escreveu. Não só saíram do meu punho, como muitas delas saíram da minha cabeça. Há um trabalho de pensamento político a fazer, porque o Chega tem de dar este salto de ser uma alternativa credível. Se queremos governar Portugal, temos de ter uma visão global, panorâmica e holística das várias áreas de governo. Na área do Ensino, penso que estamos preparadíssimos não só para apresentar propostas, mas também para as executar. Há uma série de assuntos sobre a carreira docente, revisão curricular e revisão de diplomas importantes para o Ensino Superior em que queremos, e teremos, uma palavra a dizer. Não viemos para brincar, viemos para trabalhar a sério e percebemos como os outros partidos funcionam e como podemos e devemos atuar.Há algum motivo para pensar que esta legislatura será menos conturbada do que a anterior?Não depende só de nós, ou não depende em grande medida de nós. Sou um em 230 deputados e penso que terá de haver responsabilidade nas altas esferas dos partidos para que consigam ser feitas pontes e entendimentos em alguns assuntos. Penso que o Chega tem sido um grande pilar de estabilidade. Aliás, o presidente André Ventura, à saída do Palácio de Belém, falou em ser um farol de estabilidade, para garantir que não andamos permanentemente nestas idas às urnas. Mas não podemos descurar que os grandes causadores de instabilidade política em Portugal têm sido o PS e o PSD, que, com a sua cultura de falta de transparência, opacidade e de jogos de bastidores, têm arrastado o país para eleições. O Chega será uma alternativa que garante estabilidade e reformas para o país..João Pedro Louro: "A nossa expectativa é de que tomem posse sete membros da JSD como deputados".É realista pensar que pode haver mais entendimentos à direita ou, pelo contrário, antecipa que o Chega continuará a não ter interlocutores privilegiados?A questão tem de ser colocada, antes de mais aos outros, porque nós, desde o início, dissemos que votaríamos a favor de políticas boas para os portugueses, independentemente do proponente. O Chega desencadeou dois processos de revisão constitucional, mas muitas propostas que, hoje, vejo em cima da mesa - como abrir o setor da Saúde a parcerias entre os setores público, privado e social, e retirá-lo de um certo viés ideológico, que ainda não foi eliminado nas anteriores revisões constitucionais - foram trazidas pelo Chega, desde o primeiro dia, desde que André Ventura era deputado único. Hoje vejo margem para mudanças a esse nível. Penso que só não revemos a Constituição à direita se não quisermos. Há um chão comum capaz de fazer essas alterações sem precisarmos dos partidos de esquerda.Se o PSD não quiser uma revisão constitucional marcadamente à direita, será um teste de algodão de que não quer entendimentos?Para manter tudo na mesma, as pessoas votariam no PS e no PSD. Nós temos de fazer reformas. O país exige-o. Se nos deu esta maioria histórica, se há uma maioria sociológica do povo português, que votou à direita, temos esse dever, para com o eleitorado, de responder a uma aspiração que se sente nas ruas. Se não quiserem fazer reformas, se não quiserem fazer as alterações legislativas que o país pede e exige, quando vierem as próximas eleições provavelmente o Chega vencerá - e com maioria larga.Apesar da maioria sociológica de direita, que estará refletida neste Parlamento, admite ser possível que o Chega continue a aprovar medidas em convergência com o PS, como na legislatura anterior?Essa questão é muito interessante, e fazem-na ainda muitas vezes. A convergência não é com o PS; é com ideias, e o Chega tem ideias nos programas eleitorais anteriores, que apresentou no Parlamento, ano após ano, e que outros, por cegueira ideológica e por ter no rodapé ou no título a dizer Chega, votaram contra. Muitos não entendem, mas a nossa postura é mesmo diferente desde o início. Demos o nosso voto a iniciativas do PCP, Bloco de Esquerda, IL, PSD e CDS quando eram boas. Não nos interessa quem é o proponente se a proposta for boa para as pessoas, e se estiver em consonância com o nosso programa eleitoral. Isso vai continuar a acontecer. Vamos aprovar propostas de outros partidos, e esperamos que tenham a hombridade de fazer o mesmo.Acredita que há condições para o grupo parlamentar liquidar junto dos seus adversários políticos a tese de que o Chega é o partido de um só homem?Sei que isto é uma frase de efeito, mas é verdade: o Chega não é um partido de um homem só; é um partido de um homem único. André Ventura teve esta capacidade histórica, até inédita, do ponto de vista europeu, de conseguir em seis anos pôr um partido no patamar de quase 25% [teve 22,76%]. Os nossos pares europeus não o conseguiram. Muitos andaram 20 a 30 anos para terem acima dos 20%. Temos de valorizar e enaltecer o trabalho que este homem fez. Desde quando estava aqui sozinho até agora, que serão 60 ou 61 [a entrevista foi realizada antes do apuramento dos votos da emigração]. Por outro lado, há outras pessoas que vão surgindo, e vamos dar contributo para as várias áreas setoriais às quais é preciso dar resposta e para as quais temos propostas e ideias. Não é o protesto pelo protesto - é uma solução para o protesto. E o Chega vai trazer isso tudo nesta legislatura..Sofia Pereira, líder da JS: “O PS precisa mesmo de fazer uma reflexão um pouco mais aprofundada”.No final de verão terá outro desafio, pois é o candidato do Chega à Câmara de Viana do Alentejo. Já pensou como irá conciliar o novo cargo com a campanha eleitoral?É uma questão que ainda estamos a ver. Não tomámos sequer posse.E está longe de ser um caso único entre os deputados do Chega...Há uma questão prática e logística, que é Viana do Alentejo ficar a quase 200 quilómetros de Lisboa. Não posso teletransportar-me. É uma gestão exigente que terá de ser feita, mas há uma vantagem que senti nas ruas: haver um orgulho muito grande, em Viana do Alentejo, de ter um deputado na Assembleia da República que vai trazer propostas para a Saúde, a habitação e as acessibilidades, sobretudo rodoviárias. Vai ter essa voz no Parlamento pela primeira vez, e sinto que as pessoas o valorizam e vão recompensar o esforço e trabalho que vamos fazer na Assembleia da República, onde grande parte das decisões são tomadas. Vou honrar o meu mandato de deputado com propostas e trabalho em prol do Alentejo e de Viana do Alentejo. E, pela primeira vez, nem o PS, nem a CDU vão vencer. Vai ser o Chega.Caso seja eleito presidente de câmara está pronto para deixar a Assembleia da República?Estou pronto para que o presidente do partido me peça e avaliaremos, com base não só nos resultados, mas também nas orientações que são dadas. Temos uma equipa motivada para vencer. Sou cabeça de lista, há pessoas para vários órgãos, e vamos para ganhar. Depois veremos se ganhamos e quais serão os passos a seguir..Ventura será líder da oposição mesmo sem eleger mais deputados entre os emigrantes