Após perder a bênção de Rui Moreira e, por arrasto, do movimento cívico que por três vezes consecutivas fez eleger o atual presidente, Filipe Araújo vacilou, reponderou, mas “depressa percebeu” que tem pouca margem de manobra para desistir da corrida à Câmara do Porto. “Se agora desistisse, estaria a sair pela porta dos fundos”, diz ao DN quem conhece bem o autarca. Que está “há três anos e meio” a preparar este passo. “Meticulosamente”, diz quem tem acompanhado o processo. “Não vejo”, acrescenta “como poderia agora escolher uma saída tão pouco airosa”.Parecendo a desistência um cenário a evitar, à hipótese de uma corrida solitária junta-se uma outra: uma porta escancarada repetidamente pelo PSD, com o convite para integrar a lista do partido, encabeçada por Pedro Duarte, o candidato que Montenegro sempre quis, não sem que o ministro tivesse oposto resistência.Há pelo menos um mês que Luís Montenegro, ainda sem o sim de Pedro Duarte, pôs as cartas em cima da mesa, informando Araújo de que o partido teria um candidato próprio. Nessa altura, o líder do PSD desejava “uma AD, que englobasse o CDS, a iniciativa Liberal e os moreiristas na pessoa de Filipe Araújo”, diz quem assistiu ao processo.O convite ao vice de Moreira é ditado pelas sondagens que o partido tem em sua posse: o autarca valerá entre 5% a 8%, margem que pode ser essencial num contexto eleitoral, em que dificilmente o vencedor terá maioria absoluta.É precisamente nesse tabuleiro que Filipe Araújo poderá também jogar. “Sendo eleito, e facilmente poderá sê-lo, ficaria como vereador-charneira nas votações da câmara”, diz a mesma fonte..A grande desilusão “Três anos e meio a trabalhar para isto”, relembram fontes próximas. “Com o incentivo constante” de Rui Moreira, recordam. Para isto: duas semanas depois de ter dado a entender que Filipe Araújo seria candidato à Câmara do Porto - uma declaração considerada precoce pelo protocandidato -, Rui Moreira tirou o tapete ao homem que é há 12 anos seu vice-presidente, e que há três prepara uma candidatura pensada para se afirmar como de continuidade, contando para isso com o apoio dos movimentos cívicos que fizeram eleger Rui Moreira para três mandatos consecutivos.“Se avançares com uma candidatura, ela resultará sempre, e por necessidade e imperativo legal, de um novo movimento de cidadãos, uma vez que eles se extinguem depois de cada eleição”, afirmou Rui Moreira. Para o autarca, a associação não é uma força partidária, não podendo por isso apresentar-se a eleições.Eleito em 2021 pelo movimento “Rui Moreira: Aqui há Porto!”, contando também com o apoio do CDS/PP e da IL, Moreira celebraria, já eleito, um acordo com o PSD.Acrescentado que o novo projeto do seu vice-presidente “não se deve alicerçar numa associação que teve um propósito único”: “Manter vivos os laços entre os apoiantes do nosso movimento e servir de respaldo à governação de que fizeste e fazes parte, e que pretendemos que, até ao último dia, corresponda ao mandato que recebemos dos cidadãos do Porto”, acrescentou na missiva. “Quero agradecer a reflexão que fizeste, pois cria a oportunidade de consolidar ideias e esclarecer a minha perfeita concordância com o que escreveste”, foi a resposta de Araújo, também em carta publicada. Porém, não deixou de lembrar, agradecendo, “o incentivo constante” que Moreira terá dado para avançar com uma candidatura. Até ao fecho, não foi possível obter esclarecimentos de Filipe Araújo. .Rui Moreira 'lança' candidatura do seu vice-presidente Filipe Araújo