Pedro Nuno Santos. "Só há uma forma de evitarmos eleições: É o Governo retirar a moção de confiança"
O secretário-geral do Partido Socialista insistiu esta noite, em entrevista à SIC, que o seu partido vai votar contra a moção de confiança que será votada na terça-feira. E insistiu que o primeiro-ministro tem de dar explicações adicionais sobre a avença da Solverde à empresa Spinumviva.
“Já avisamos e repeti nos últimos dois debates que o PS votaria contra uma moção de confiança. Ele já sabia de antemão a posição do PS quando a apresentou”, salientou Pedro Nuno Santos.
“Então não vai reconsiderar?”, perguntou a jornalista da SIC. “Claro [que não]!”, disse Pedro Nuno Santos, explicando que a responsabilidade recai sobre o governo e que a ideia do executivo sempre foi provocar eleições na sequência de um chumbo à moção de confiança.
“Ao ler o texto, percebemos que o Governo não quer, em nenhum momento, que alguém aprove a moção de confiança”, disse o líder do PS.
Por outro lado, Pedro Nuno Santos insistiu na ideia de que o PS não vai abdicar de uma comissão parlamentar de inquérito ao caso, nem que o PSD ganhe as eleições antecipadas. “A procura da verdade não se esgota com as eleições", afirmou.
Sobre se pode garantir que o PS vai manter a mesma estratégia, mesmo que venha a mudar de secretário-geral na sequência das eleições, Pedro Nuno Santos disse que os socialistas não estão a trabalhar nesse cenário.
"Sou líder do PS ao dia de hoje. O PM quer arrastar o país para umas eleições. O PS está a preparar-se para isso e para ganhar as eleições. Só trabalhamos nesse cenário, não trabalhamos noutro", disse.
Ainda assim, e confrontado com a ideia de que o PS poderia abster-se na moção de confiança, manter o governo e mesmo assim exercer escrutínio sobre o primeiro-ministro, Pedro Nuno Santos voltou a dizer que não o fará.
"É inaceitável que o PS, depois de ter dito há uma semana, há duas semanas e há meses, que chumbaria uma moção de confiança se o governo a apresentasse, seria inaceitável agora não o fazer", disse.
O líder do PS foi confrontado com a informação de que o seu partido, ao contrário do que tinha dito, não enviou perguntas por escrito ao primeiro-ministro sobre o caso, algo que foi revelado hoje pelo ministro da Presidência, António Leitão Amaro.
Pedro Nuno Santos disse que as perguntas que fez de viva voz ao PM também têm peso e que uma comissão parlamentar de inquérito é a melhor forma de escrutinar, porque permite ter acesso a documentos que considera importantes.
E aproveitou para levantar mais suspeitas sobre outros negócios da Spinumviva e do primeiro-ministro. "Ainda há pouco tempo soubemos de um trabalho de reestruturação de uma pequenas empresa, por 214 mil euros, contratada a um advogado, Luís Montenegro, que não tem experiência nenhuma em reestruturação de empresas", revelou.
Para Pedro Nuno Santos, "o primeiro-ministro não tem dado esclarecimentos cabais" sobre este e outros casos, e está a avançar para eleições para fugir à sua responsabilidade.
E se Luís Montenegro citou o fundador do PSD, Francisco Sá Carneiro, no debate da moção de censura, o líder do PS fez hoje o mesmo. "A política sem risco é uma chatice, mas sem ética é uma vergonha". Isto a propósito dos riscos que ele mesmo, Pedro Nuno Santos, está a correr indo a votos quando as sondagens não lhe são favoráveis. Mas também a propósito de Luís Montenegro, que diz ser "um primeiro-ministro sem ética".
Amanhã, terça-feira, o parlamento debate e vota uma moção de confiança apresentada pelo governo na sequência da polémica que o primeiro-ministro, Luís Montenegro, tem enfrentado devido às avenças recebidas por uma empresa que lhe pertencia e que passou aos filhos e à mulher, a Spinumviva. O executivo tinha dito que buscaria "clarificação" através de uma moção de confiança – e, com o provável chumbo, novas eleições – porque as explicações dadas "nunca seriam suficientes para convencer quem não quer compreender".
Já o PS afirmou desde o início que o PM teria de se submeter ao escrutínio do parlamento, exigindo respostas detalhadas do PM, incluindo através de uma comissão parlamentar de inquérito que já pediu e que, garante, vai manter mesmo que o PSD ganhe as eleições.
Em causa no processo Spinumviva está o facto de o grupo de casinos Solverde ter pagado durante anos, incluindo quando Montenegro já era primeiro-minsitro, uma avença mensal de 4500 euros por serviços relacionados com a política de proteção de dados da empresa. Montenegro garante que está desligado da empresa, cuja gestão está alegadamente entregue à mulher e aos filhos. Na sequência da polémica, o PM anunciou que a gestão e posse da empresa iria passar exclusivamente aos seus filhos (evitando assim a questão do casamento em comunhão de bens) e que a sede de empresa seria mudado (já que estava registada na sua própria casa).