O PSD vai voltar a ser o maior partido no poder local?Se assim acontecer, será a primeira vez em 12 anos, o que permitiria cumprir os objetivos de recuperar a liderança da Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP) e da Associação Nacional de Freguesias (Anafre), presentes na moção com que Luís Montenegro foi reeleito presidente do PSD. Mas será necessária uma grande viragem em relação às autárquicas de 2021, nas quais o PS foi o mais votado em 149 câmaras municipais (só uma em coligação, com o Livre, em Felgueiras), enquanto o PSD não foi além de 114, incluindo 42 em que juntou forças com o CDS e outros partidos.Reverter uma desvantagem tão grande implica mais do que derrotar os socialistas em autarquias de grande dimensão, como Sintra ou Vila Nova de Gaia, sendo essencial reforçar a votação no Norte e no Centro para colorir o mapa de laranja. Para tal, o PSD alargou o leque de parceiros, reforçando a presença da Iniciativa Liberal em coligações, e conta com o desgaste eleitoral do PS, que nas últimas legislativas teve um dos piores resultados de sempre (22,83%), mas também com o facto de mais de metade dos presidentes de câmara que não se podem recandidatar pertencerem a esse partido: 49 dos 89 que estão de saída, enquanto apenas 21 autarcas sociais-democratas se encontram em tais condições.Por seu lado, o PS, que tem Luísa Salgueiro, quase certamente reeleita em Matosinhos, na presidência da ANMP, conta com a vantagem com que parte para as autárquicas, com um maior número de coligações com o Livre, Bloco de Esquerda e PAN, e com o factor Chega. Apesar de o previsível crescimento do partido de André Ventura poder ocorrer às custas de câmaras socialistas nas suas zonas de maior implantação, como Algarve, Alentejo, Ribatejo e Península de Setúbal, há esperança no Largo do Rato de que a votação nos candidatos do Chega impeça vitórias do PSD e dos seus aliados em todo o país. Algo que tanto poderá ser válido para as principais câmaras, de Lisboa, Porto e Sintra, como para os municípios de pequena dimensão..Quem vai ser o vencedor nas grandes câmaras?Se em Lisboa as contas parecem indicar uma reeleição de Carlos Moedas (PSD-CDS-IL), mas muito pressionado por Alexandra Leitão (PS-Livre-BE-PAN), o resultado no Porto parece ser mais incerto, com Pedro Duarte (PSD) e Manuel Pizarro (PS) a estarem praticamente empatados. Depois, em Sintra, há a expectativa para perceber se Marco Almeida, do PSD, IL e PAN, conseguirá ser eleito à terceira candidatura (tal como Manuel Pizarro). Por outro lado, o PS - que tem a câmara - aposta em Ana Mendes Godinho, ex-ministra, para tentar manter-se no poder. Mas depois há a variável Chega, que apostou na deputada Rita Matias. O concelho sintrense foi um dos que o Chega ganhou nas legislativas de maio e há a expectativa para perceber se o resultado será transposto agora. Mais a norte, em Braga (autarquia que só teve dois presidentes de câmara desde 1976), há a incógnita sobre o impacto do caso Spinumviva. Um dos nomes citados no processo é o pai de João Rodrigues, candidato do PSD. Do lado socialista, António Braga tentará recuperar para o PS uma autarquia que já foi do partido..O Chega vai conseguir eleger presidentes de câmara?Quase de certeza, até porque nas autárquicas basta ter um voto a mais do que o segundo classificado. Depois dos 22,76% obtidos nas eleições legislativas, o Chega tem a ambição de transpor o tripartidarismo para o poder local, mesmo com a noção de que parte de um patamar muito baixo, pois há quatro anos não foi além da eleição de 19 vereadores, dos quais quase metade não demoraram a afastar-se do partido. Desta vez, com André Ventura a mobilizar praticamente todo o seu grupo parlamentar para as autárquicas, ao mesmo tempo que continua a recrutar dissidentes de outras forças políticas, a fasquia está colocada na eleição de presidentes de câmara que permitam demonstrar o que seria a governação do Chega.Ninguém no partido de André Ventura acredita que possa vencer nos 60 concelhos portugueses onde foi o mais votado nas legislativas, e é provável que algumas das maiores figuras do partido (como Rita Matias, candidata em Sintra, ou o líder parlamentar Pedro Pinto, candidato em Faro) não tenham de trocar a Assembleia da República por gabinetes de presidência, mas a noite eleitoral não poderá ser positiva para o Chega se não tiver entre 10 a 20 vitórias em municípios. No Algarve aponta-se sobretudo para Albufeira, Portimão e Vila Real de Santo António, mas também há oportunidades no Alentejo (Elvas e Moura), no Ribatejo (Benavente e Entroncamento) e na Península de Setúbal. Assim sucede na Moita, no Montijo e em Sesimbra, embora a joia da coroa, pelo simbolismo do fim da hegemonia comunista, fosse a vitória da deputada Marta Silva no Seixal..O PCP continuará a ser a terceira força autárquica?Neste momento, a CDU (PCP-PEV) governa 19 autarquias. Mas grande parte (11) estão em limitação de mandatos, o que pode mudar o equilíbrio de forças autárquico. Entre estas autarquias comunistas estão duas capitais de distrito (Évora e Setúbal), que podem estar em risco. Isto, aliado ao crescimento do Chega e, eventualmente, de alguns movimentos de cidadãos, pode levar a CDU a perder o terceiro lugar do ‘pódio’ autárquico..O CDS continuará a vencer câmaras sem ser em coligações?Tudo indica que sim. Os centristas vão a votos com meia-dúzia de autarquias governadas “à revelia” do PSD, e provavelmente assim continuarão, apesar de metade dos seus presidentes estarem de saída, por limitação de mandatos. Não é o caso de Ponte de Lima, autarquia do Alto Minho que é desde há muito o principal bastião centrista no poder local, mas o partido também espera uma transição suave no distrito de Aveiro, apesar das mudanças de cabeça de lista em Albergaria-a-Velha (onde os sociais-democratas se coligaram com a Iniciativa Liberal) e em Vale de Cambra. Restam Oliveira do Bairro, também nesse distrito, e ainda Santana, na ilha da Madeira, e Velas, na ilha de São Jorge, nos Açores. Manter todos estes municípios seria o ideal para um partido que dificilmente conseguirá conquistar mais alguma autarquia, e aposta forte nas candidaturas em choque frontal com o PSD. Sobretudo Hélder Amaral, que poderá custar a maioria absoluta ao “eterno” Fernando Ruas em Viseu, e Maurício Rodrigues, atual vereador, que é muito crítico da terceira candidatura de Marco Almeida à Câmara de Sintra..Qual a percentagem de câmaras em limitação de mandatos que vai mudar?O número exato de autarquias que vão mudar de partido devido à limitação de mandatos não é certo. Mas, como o DN já analisou, a percentagem tem oscilado ao longo dos anos. Por exemplo, em 2013 havia 160 municípios com autarcas nesta situação. Em 2017 o número desceu para 41. Em 2021, 145 dos 308 presidentes de câmara eleitos cumpriam já o segundo mandato autárquico, o que significava que em 2025 teriam de sair. Alguns saíram entretanto e, em julho, esse número era de 118 autarcas - mas entretanto Filipe Sousa (JPP), na Câmara Municipal de Santa Cruz (Madeira), saiu para ser deputado. O PS era o partido com mais presidentes de câmara nesta situação (54). Mas a CDU era quem tinha maior percentagem em fim de ciclo (58%). Já o CDS, que governa seis municípios, tem metade dos autarcas em limitação de mandatos. O PSD tem 39% e o PS com mais de 36%. A percentagem de independentes em tal é de 26%..Os casos de justiça terão influência nos resultados eleitorais?É bastante duvidoso. Com os alegados desenvolvimentos na investigação do Ministério Público à Spinumviva a servirem de ruído de fundo ao encerramento da campanha autárquica, o que poderá teoricamente desgastar os candidatos dos partidos do Governo, está por apurar se a empresa criada pelo primeiro-ministro, na base da crise política que lhe permitiu reforçar a votação nas legislativas antecipadas de 18 de maio, terá qualquer tipo de efeito. Pelo menos para lá de Braga, onde Ricardo Rio não se pode recandidatar, e a coligação PSD-CDS apresenta João Rodrigues, filho de um cliente da empresa familiar mais mediatizada nos últimos meses.Num país que tem eleito e reeleito Isaltino Morais, condenado por branqueamento de capitais e fraude fiscal, para a Câmara de Oeiras, a vida não parece correr nada mal aos autarcas na mira do Ministério Público. É provável que a auditoria pedida pela Câmara de Setúbal às despesas de Maria das Dores Meira no seu último mandato, tendo sido enviadas para a Procuradoria-Geral da República imputações de peculato, não interfira nas suas (reais) hipóteses de voltar a ser presidente, agora como independente, tal como o inquérito sobre violência doméstica que incide sobre o presidente da Câmara de Vizela, Vítor Hugo Salgado, e que motivou a liderança socialista de Pedro Nuno Santos a retirar-lhe confiança política, não deverá evitar que venha a ser reeleito, desta vez como independente..Algum líder partidário poderá ficar em risco?Demissões após eleições autárquicas não são inéditas na história da democracia portuguesa. Foi assim que António Guterres, então primeiro-ministro, saiu do Governo em 2002, na sequência dos resultados. No ano anterior, o PS perdeu 14 câmaras municipais, incluindo Lisboa, Porto e Sintra. Tal não se perspetiva agora e o PSD, que está no poder, coligado com o CDS, até deverá vencer, sozinho ou coligado, mais alguns municípios do que os 114 que governa neste momento.Com o previsível crescimento do Chega em vários pontos, surge a questão: algum líder está verdadeiramente em risco? A resposta, ainda que não seja definitiva, parece ser negativa. Olhando para as lideranças partidárias, de todas a mais débil (até pela necessidade de reavivar o partido no pós-legislativas) poderá ser a de José Luís Carneiro, no PS. Mesmo com esse contexto, o líder socialista está no cargo há menos de um ano (desde junho) e uma eventual derrota eleitoral não deve levar à demissão de Carneiro, que ainda terá esperanças de recuperar Lisboa e/ou Porto. No entanto, o secretário-geral do PS ainda terá de ir a congresso para ter a liderança validada pelos militantes, o que é mais difícil em caso de derrota. De resto, não se perspetivam saídas noutras lideranças, ainda que haja contestação interna no Bloco de Esquerda e no PAN.