No longo discurso que proferiu no sábado (7), no jardim da sede nacional do PS, no Largo do Rato, em Lisboa, José Luís Carneiro expôs a sua visão de “socialista responsável” quanto ao posicionamento do PS, dizendo-se convencido de que esta “corresponde ao que os militantes e os portugueses esperam”. Mas sublinhou que a “análise profunda daquilo em que falhámos, de quando falhámos e do que deveríamos ter acautelado”, não pode ser confundida com “tentações de ajustes de contas internos”.Apesar de se dirigir aos militantes à sombra de um jacarandá, o próximo secretário-geral do PS ofereceu um ramo de oliveira a Pedro Nuno Santos e aos que consigo conduziram o partido no último ano e meio, durante o qual a bancada socialista encolheu de 120 para 78 deputados, em 2024, e de 78 para 58, a 18 de maio. Ainda que o apelo à paz interna não tenha impedido Carneiro de preferir recuar à governação de António Costa – de quem foi secretário de Estado das Comunidades Portuguesas e ministro da Administração Interna, além de secretário-geral-adjunto do PS – para evocar “um período em que não só alcançámos um superávit nas contas públicas como fomos capazes de crescer mais do que a média da União Europeia, de criar mais emprego, de aumentar salários e de valorizar as pensões”.Curiosamente, entre as figuras de proa do PS que não foram ao Largo do Rato estiveram Fernando Medina e Mariana Vieira da Silva, dois dos mais influentes ex-ministros costistas, por sinal apoiantes de José Luís Carneiro nas primárias de dezembro de 2023, vencidas por Pedro Nuno Santos, com mais de 62% dos votos.Pelo contrário, a natural ausência do homem que anunciou a demissão na noite das legislativas foi mitigada pela presença de alguns dos seus próximos. O discurso do único candidato a secretário-geral que se submeterá ao voto dos militantes a 27 e 28 de junho foi seguido por Pedro Delgado Alves, líder interino do grupo parlamentar – tendo ao lado Eurico Brilhante Dias, que exerceu tais funções de 2022 a 2024, em tempos de maioria absoluta –, e também por Miguel Costa Matos, anterior secretário-geral da Juventude Socialista, a quem Pedro Nuno Santos incumbiu de coordenar o programa eleitoral, por Francisco César, atual líder do PS-Açores, e pelos também deputados João Torres e Tiago Barbosa Ribeiro.O apelo aos socialistas “para que se unam na sua diversidade para iniciar o caminho de volta que a defesa dos nossos ideais nos pede”, procurando recuperar o voto daqueles que “serão deixados para trás por políticas neoliberais”, “serão discriminados por políticas conservadoras” e “cuja qualidade de vida não melhorará, porque as visões ideológicas da direita não conduzirão a melhores salários, a melhores serviços públicos e a mais bem-estar”, foi ouvido por uma plateia assaz diversa. Lá estiveram históricos, como Manuel Alegre, Maria de Belém e Vera Jardim; fiéis do carneirismo, como André Caldas e Jamila Madeira; apostas do pedronunismo, como a deputada Eva Cruzeiro; possíveis futuros autarcas, como Ana Mendes Godinho e Carlos Zorrinho; ou Fernanda Tadeu, mulher do agora presidente do Conselho Europeu António Costa. E ainda Sérgio Sousa Pinto, autoexcluído das listas de candidatos às últimas legislativas.Sem esquecer o professor universitário Miguel Prata Roque, único a ter admitido publicamente disputar a liderança, “contra consensos balofos”, que na sexta-feira anunciou que não avançaria. No sábado fez questão de cumprimentar José Luís Carneiro nos corredores da sede nacional, minutos antes de este apresentar a candidatura. DESAFIOS AutárquicasPS tem candidatos escolhidos e quer manter a liderança da Associação Nacional de Municípios, apostando na conquista de Lisboa, Porto, Coimbra, Setúbal e Évora e na manutenção de Sintra. Carneiro pede mais mulheres e jovens nas listas, abrindo caminho a alianças à esquerda, “onde se revelarem necessárias, sólidas e ganhadoras”. PresidenciaisAntónio José Seguro já confirmou que será candidato, António Vitorino pondera e Augusto Santos Silva ou o independente Sampaio da Nóvoa têm apoiantes (tal como Gouveia e Melo). Como as autárquicas serão entre setembro e outubro, e as presidenciais só em janeiro, Carneiro prefere ganhar tempo, pois “é o PS que define a sua agenda e define a hierarquia das suas prioridades”..José Luís Carneiro promete “voltar a fazer do PS o maior partido português” e afasta ajustes de contas