Luís Montenegro garantiu esta segunda-feira à noite, em entrevista à TVI, que o "partido preponente" da Comissão Parlamentar de Inquérito, o Partido Socialista, "vai ficar muito surpreendido com as respostas" que vai ter sobre a atividade da Spinumviva. O primeiro-ministro crê que não foi imprudente por não se ter desassociado da empresa antes de assumir o cargo e explica que a firma nunca fez negócios no ramo imobiliário. "Nunca tive uma empresa imobiliária. A empresa tinha objetos, entre os quais a venda de algum património pertencente à família. A empresa nunca fez compra de imóveis, nem tenciona. A relação que estabeleceram com lei dos solos é um absurdo", vincou, explicando que, sendo advogado, acabou "por enquadrar na empresa a proteção de dados", que se tornou na "área preferencial" da empresa.Montenegro diz que tinha dois colaboradores e garantiu que os serviços de assessoria foram mesmo prestados. "Não presto serviços políticos confundidas com relações pessoais antigas. Não faço fretes a ninguém", vincou, salientando que tudo o que tem resultado do seu património. O líder do executivo explicou que a Spinumviva tem cinco clientes regulares desde 2022, dos quais provém "95% da faturação", e que os serviços de consultoria têm sido prestados de forma permanente, recusando haver uma "disparidade" entre os recursos humanos e o volume de negócios da empresa. "Está tudo espelhado nas contas", frisou.Questionado sobre se os lucros de 2022 estiveram relacionados com apoio para a campanha eleitoral, o também líder do PSD foi taxativo: "Era o que faltava! Não saiu da empresa um cêntimo para ninguém."Montenegro explicou que a mulher ficou com 70% da empresa porque os filhos não tinha maturidade para o desafio na altura, mas que agora serão eles a levar a Spinumviva para a frente. Acerca das dúvidas sobre ter sido beneficiado pela atividade da empresa por ser casado em comunhão de bens, o líder do Governo diz que "a dúvida é sempre legítima", mas voltou a ser taxativo: "Não faço, não fiz e não farei fretes a ninguém. Pedi escusa sempre que foi necessário."Montenegro lembra que podia ser sócio da empresa enquanto primeiro-ministro, mas que a mesma continuou a funcionar porque "havia uma estrutura que já estava montada" e que não voltou a tratar assuntos da Spinumviva desde que saiu. "Acha que eu tenho tempo, cabeça e disponibilidade para tratar dos assuntos da empresa?", questionou, frisando que a sua mulher não lhe "transmitiu um cêntimo da empresa"."Tenho a convicção plena que não cometi nenhum crime e ninguém me imputou da prática de um crime", vincou, garantindo que será candidato a primeiro-ministro mesmo que venha a ser constituído arguido. "Não me demito porque não tenho razão para demitir-me. Não violei nenhuma regra", acrescentou, salientando que não está "agarrado a nada" a não ser "levar o país para a frente" e assumindo que a situação "não é agradável" para o próprio: "É muito duro quando se fazem insinuações."O líder do PSD diz sentir-se "legitimado" como líder do partido e como candidato social-democrata às eventuais eleições legislativas antecipadas. "Todos os dados de que desponho sou de que estou legitimado como líder do PSD. Não vejo ninguém a colocar em causa a minha liderança. Só quero estar à frente do PSD se o PSD quiser", afirmou.Montenegro diz que "não faz sentido" retirar a moção de confiança antes do debate na Assembleia da República e que entende que tem de se sentir legitimado pela vontade popular, neste caso representada pelo parlamento. Ainda sobre a Comissão Parlamentar de Inquérito, afirmou esperar não ver a mulher e os filhos expostos a responder perguntas dos deputados e reiterou que a oposição vai ter uma surpresa, mas deixou uma garantia: "Não falarei de terceiras pessoas sem autorização, por respeito pelos dados dessas terceiras pessoas."Montenegro revelou ainda que comprou ações do BPA em 1998, quando era solteiro, e que comprou várias vezes ações do BCP e que decidiu vender todas as suas ações uma semana antes de ser eleito primeiro-ministro por 200 mil euros. "Se as tivesse mantido, já teriam valorizado mais três vezes", brincou.O líder do Governo afirmou que pagava 250 euros por dormida no hotel de cinco estrelas para ter "uma vida mais privada" enquanto a sua casa está em obras, mas que desde que a unidade hoteleira passou a ter jornalistas à porta decidiu ir viver para a residência oficial do primeiro-ministro, o Palácio de São Bento, em Lisboa.O primeiro-ministro compreende que a "oposição coloque questões" e voltou a sublinhar que todos os esclarecimentos que têm prestado parecem ser sempre insuficientes aos olhos dos outros partidos. .Pedro Nuno Santos. "Só há uma forma de evitarmos eleições: É o Governo retirar a moção de confiança".Montenegro lembrou ainda que há um ano a "AD formou Governo em circunstâncias complexas" e este Governo "trouxe estabilidade política" ao país. "Nós temos condições para executar o nosso programa", vincou..Governo caiu. Há eleições em maio. Montenegro e Pedro Nuno trocam acusações. O chefe do executivo respondeu esta segunda-feira às questões que lhe foram colocadas por escrito pelo Chega e pelo Bloco de Esquerda sobre as dúvidas quanto a atividade da empresa que detinha e que vendeu à sua mulher antes de ir para o Governo, a Spinumviva, que deu origem a uma crise política que pode conduzir ao chumbo de uma moção de confiança e consequente queda do executivo na terça-feira.A atual crise política teve início em fevereiro com a publicação de uma notícia, pelo Correio da Manhã, sobre a empresa familiar de Luís Montenegro, Spinumviva, detida à altura pelos filhos e pela mulher, com quem é casado em comunhão de adquiridos, - e que passou esta semana apenas para os filhos de ambos - levantando dúvidas sobre o cumprimento do regime de incompatibilidades e impedimentos dos titulares de cargos públicos e políticos.Depois de mais de duas semanas de notícias - incluindo a do Expresso de que a empresa Solverde pagava uma avença mensal de 4.500 euros à Spinumviva - de duas moções de censura ao Governo, de Chega e PCP, ambas rejeitadas, e do anúncio do PS de que iria apresentar uma comissão de inquérito, o primeiro-ministro, Luís Montenegro, anunciou a 05 de março a apresentação de uma moção de confiança.