A comissária da Estabilidade Financeira, Serviços Financeiros e Mercados de Capital da União Europeia, Maria Luís Albuquerque, considera que perda de competitividade e de capacidade de inovação do Velho Continente está a fazer com que exista vontade política para aprofundar a integração europeia a nível dos sistemas financeiros. Numa curta entrevista ao Diário de Notícias, a propósito dos 40 anos da adesão de Portugal à União Europeia, a comissária portuguesa defende que essa integração será crucial para financiar a aposta em áreas como a defesa e as novas tecnologias. Sobre o sector bancário, defende que a Europa tem de encontrar um modelo que combine a existência de grandes players pan-europeus com a de bancos nacionais de pequena e média dimensão. Que balanço faz destes 40 anos de pertença de Portugal ao projeto europeu?Ao completar 40 anos de participação no projeto europeu, Portugal pode olhar para trás com orgulho por uma história de transformação e progresso notável. A adesão à União Europeia representou mais do que um passo político ou económico — foi um compromisso com um espaço de liberdade, democracia e oportunidades. Ao longo destas quatro décadas, Portugal desenvolveu-se impulsionado por um movimento de modernização significativo em diversas áreas, consolidando a sua democracia e ampliando perspetivas para as novas gerações. Os recursos financeiros recebidos da UE foram determinantes nesse processo. Têm sido muito importantes para que possamos investir em infraestruturas, por exemplo.De facto, um aspeto crucial desta jornada tem sido a capacidade de Portugal em superar desafios estruturais com o apoio da UE, permitindo que o país se posicione no contexto global com maior confiança e ambição. Ao mesmo tempo, a presença de Portugal na União Europeia acrescentou valor com a nossa cultura, visão atlântica e compromisso firme com os valores europeus, contribuindo dessa forma para uma identidade comum mais diversa e inclusiva. Através de esforços conjuntos, Portugal e a Europa beneficiaram de conquistas importantes, como a criação de uma moeda única, a construção de um mercado interno e a promoção de princípios fundamentais de igualdade e sustentabilidade. No entanto, o caminho não terminou. Vivemos tempos exigentes e repletos de desafios que exigem uma União Europeia unida e decidida. Assim, ao celebrarmos estas quatro décadas, renovemos o nosso compromisso em trabalhar juntos, com todos, por forma a garantirmos um futuro mais próspero, justo e solidário para todos os cidadãos europeus. Tenho a certeza que Portugal continuará a desempenhar um papel vital na construção deste futuro partilhado. Olhando agora para a sua pasta na Comissão Europeia, há um desafio grande a nível europeu que é encontrar recursos para financiar uma defesa comum. A criação de uma união de poupanças e de um mercado de capitais verdadeiramente unificado são essenciais para que conseguimos levantar esses recursos, não só para financiar a Defesa, mas para financiar a nossa reindustrialização?Sem dúvida. A União da Poupança e dos Investimentos é um pilar essencial para o financiamento sustentável da economia europeia, seja qual for a área que se entenda financiar. A mobilização eficiente de recursos financeiros europeus permitirá reduzir a dependência externa e fortalecer a nossa autonomia estratégica. Os recursos existentes na Europa são imensos e é nossa obrigação criar os instrumentos e as oportunidades para que sejam eficientemente canalizados para a economia, como forma de capacitar as empresas para crescerem, inovarem e criarem mais e melhor emprego, ao mesmo tempo que damos a todos os cidadãos a oportunidade de obter melhores retornos sobre os seus investimentos e a sua poupança. Para isso será necessário vencer os egoísmos nacionais. Acredita que existem condições políticas, na Europa, para que de facto se possa unificar o mercado de capitais?Sim, acredito que estamos num momento em que há uma vontade política crescente para avançar nesse sentido. A perda de competitividade e de capacidade de inovação da UE nos últimos anos, a par das mais recentes alterações geopolíticas, faz com que a mudança não seja apenas reconhecida como necessária, mas também como urgente. Há ainda muitas barreiras para derrubar para que possamos beneficiar de um verdadeiro Mercado Único e isso exige diálogo contínuo, compromisso e uma visão comum de longo prazo. A União dos Mercados de Capitais é um processo gradual, mas existem já avanços importantes que demonstram que essa integração é possível e desejável. O futuro da banca europeia terá de passar por mais concentração, nomeadamente, pela criação de alguns “campeões” a nível europeu, existindo ao mesmo tempo pequenos players nacionais ou regionais, como acontece nos Estados Unidos? Em muitos estados americanos, o JP Morgan ou outro grande banco têm quotas de 20% a 25%, estando o restante mercado nas mãos de bancos regionais. Será esse também o melhor caminho para a Europa?A criação de bancos de dimensão e vocação europeias contribuirá para aumentar a competitividade global do setor financeiro europeu, criando instituições fortes, inovadoras e capazes de apoiar a economia real à escala continental. Ao mesmo tempo, é crucial preservar a diversidade e a proximidade dos bancos regionais, que conhecem melhor as especificidades locais. O modelo americano é uma referência interessante, mas a Europa tem a sua própria estrutura e desafios, pelo que o equilíbrio entre concentração e diversidade será a chave para um setor bancário sólido e resiliente. .Adesão à CEE. Soares assinou o tratado que mudou o país e trouxe os fundos de que Cavaco tirou partido